"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Exposições

Mauro Pinto apresenta "Blackmoney"

Exposição individual do artista Moçambicano, Mauro Pinto, na Galeria 111, em Lisboa, com um conjunto de 17 fotografias.

19 Set a 9 Out 2020

Galeria 111
R. Dr. João Soares 5B, 1600-060 Lisboa
Preço
Entrada livre
 
Na obra de Mauro Pinto (Maputo, 1974) somos chamados a um encontro com o espaço social e com as condições de vida, e existenciais, de uma sociedade que se encontra em permanente interrogação. Enquanto artista que trabalha a imagem fotográfica, o seu posicionamento político situa-se numa perspectiva que se inscreve numa abordagem antropológica de uma das muitas formas como poderemos observar a humanidade. Esse olhar a que somos sujeitos, e que nomeio como uma observação, deriva de uma contextualização social e cultural que na obra de Mauro Pinto tem como objecto central a presença humana, mesmo quando esta não é visível de forma imediata. Por vezes, são inscrições sobre paredes de habitações pobres, como numa das suas fotografias a preto e branco intitulada “Voz”, de 2005, ou mais recentemente na série “C’est pas facile”, de 2018, recentemente exposta em Portugal, e que representa vestes, ou máscaras, do Burkina Faso. São imagens de grande beleza cromática, que podem ser confundidas por um observador menos atento e informado com fotografias de esculturas tradicionais colocadas no espaço comum de uma localidade africana, terrosa e de atmosfera quente. Contudo, uma observação mais demorada e atenta virá a revelar a carne humana, nos pés descalços que rompem a densa folhagem das vestes tradicionais.

Esta é uma das razões para termos atenção aos títulos das suas obras, que não são óbvios no sentido de legendarem um retrato, porque são, de facto, maioritariamente entradas para um índice que se vai construindo como um inquérito sobre as pessoas e o meio onde vivem, a sua cultura, as condições de trabalho e da sua subsistência. Assim, o título destasérie que vemos exposta, “Blackmoney”, é uma chamada de atenção para o valor da força do trabalho humano, que nos confronta ao observarmos figuras e fragmentos de corpos marcados pela violência e dureza da extracção de minério e de combustíveis fósseis, neste caso na província de Tete, em Moçambique. Mas estas imagens não ficam reféns de uma geografia local retratada de forma episódica. Pelo contrário, são sinalizações da acção coerciva de políticas e intervenções empresariais que vão subtraindo, ali e noutras áreas do mundo, a sustentabilidade, a cultura e a dignidade humana como força necessária ao trabalho nas entranhas da terra. A terra é dura, poderosa na sua riqueza e trabalhada com artefactos e ferramentas manuais a que só a potência, quase exaurida, daqueles corpos concede ainda uma utilidade precária. Nas fotografias, de grande rigor visual e plástico, vemos os corpos modelados pela força extrema do seu labor, que nos vai revelando uma antropomorfia gretada e de olhar distante, como por exemplo no excelente retrato de perfil, que perpetua a crueza do silêncio, mas possui simultaneamente uma grandiosidade que resgata a dignidade humana que resiste à negritude cintilante da terra cor de hulha. Desta forma, as fotografias da série “Blackmoney” podem ser entendidas como o dinheiro negro, numa tradução mais literal, que é o valor dos meios de trabalho para a extracção dos diferentes minérios. O valor das máquinas humanas, dos homens que sobrevivem à paisagem obscura, pontuada pelo brilho mineral que contamina as ferramentas, os rostos, os pés descalços, as mãos firmes e a caminhada de regresso à superfície, numa fotografia poderosa e subtil que nos reenvia, enquanto composição no campo da imagem, para o grande plano cinematográfico. Um homem sentado, aparentemente cego do olho esquerdo e apoiado numa pá, olha-nos com uma tranquilidade desarmante e resiliente.

João Silvério
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