"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Exposições

"O irresistível passeio, pela cidade de Lisboa, do Dr. Garuda e seus amigos"

Esta exposição nasce de uma proposta de Pedro Zamith para trabalhar a partir de objetos expostos no Museu da Marioneta para sobre eles acrescentar um discurso artístico, deslocalizado na galeria da Tinta nos Nervos.

1 Out a 26 Nov 2022

Tinta nos Nervos
Rua da Esperança, 39 1200-312 Lisboa
Preço
Entrada livre

Não se trata de um trabalho documental no sentido estrito do termo ou de mera reprodução de um conjunto de peças já de si fruto do trabalho artístico, mas sim do abrir a porta a um discurso paralelo, passível de ser gerado pela criação de uma renovada iconografia e enredos biográficos.

Um vai e vem que se pretende gerar entre Galeria e Museu, conduzido por Pedro Zamith, que encontrou, na cidade de Lisboa, o palco perfeito para o deambular de estranhas personagens.

Artista com uma prática multimédia muito versátil na experimentação do desenho, Pedro Zamith (n.1970) tem articulado, na sua pesquisa, territórios referenciais informados, devedores de um interesse pelos rumos criativos da contemporaneidade, seja no campo das artes plásticas, da imagem em movimento e novos média (em que se inscreve com particular destaque o cinema), seja no do desenho, da ilustração ou banda desenhada.

Sendo assim o desenho origem e fundamento dos projetos que leva a cabo, atravessando outras técnicas e suportes, Zamith apresenta na Tinta nos Nervos uma escultura e um conjunto de pinturas sobre papel, inéditas e concebidas especialmente para a exposição.

O ponto de partida para este trabalho foram as coleções e peças expostas no Museu Nacional da Marioneta de que o artista é frequentador assíduo, aliando a prática artística à uma prática letiva, de reflexão sobre os objetos e os lugares da arte.

Pode dizer-se que máscaras e marionetas, pela significância das fisionomias e energia das formas, se conjugam plenamente com o vocabulário plástico experimentado por Zamith, caracterizado pelo exagero que coloca nas expressões da sua figuração, nas emoções que revelam ou nas torções dos corpos elásticos postos em ação.

A ideia de apropriação dos objetos musealizados foi motivada exatamente por valores relacionados com a presença de algumas peças, a sua compleição ímpar, a ideia de que foram utilizadas em contexto pré museologico como expressão cultural de diferentes povos e países.

No conjunto exposto na Tinta nos Nervos, acrescenta-se um nível de leitura a esses antes enunciados: o de um trabalho de projeção e imaginação de identidades visuais e biográficas sobre os objetos recriados através de outras linguagens plásticas. Nesta proposição transformadora, não interessa já o que significam ou quem são, não se trata de qualquer relato antropológico ou documental, mas antes de uma ampliação da fantasia, um exercício artístico de citação e construção de discurso em que o referencial, sendo um objeto real, revive em tudo o que para lá dele se edifica, na representação. Ao suscitar a ideia de que houve acontecimentos decorridos fora do museu entramos no domínio da ficção, em que essas situações são, na realidade, apenas visíveis, no espaço galerístico.

A visita encontra aqui três momentos distintos.

Num primeiro, é confrontada com uma galeria de estranhas criaturas. São rostos nascidos das máscaras vistas, em que a evidência de uma semelhança descritiva com os originais que serviram de referente se dilui no exercício de distanciação que leva a que o artista mentalmente reconstitua o que viu. O que lhe chamou a atenção. Num outro tempo. Uma espécie de galeria de espelhos em que todos aqueles poderíamos ser nós enquanto outros inventados.

Num segundo momento, as bizarras entidades tomam o palco, poderiam aludir aos espetáculos de marionetas erguendo-se, agora agrestes, numa teia de relações onde erudito e popular se mesclam. Uma diabólica figura de varas asiática traz a cena a história de Salomé e São João Baptista cuja cabeça ali pousa num prato. Ou não será bem assim? Não é ele? Houve crime, na rua da Esperança? Quem foi? As figuras, lançadas vigorosamente a tinta preta sobre grandes folhas de papel, são iluminadas de modo teatral. Podemos não saber o enredo, mas que algo se passa, passa.

E não apenas na galeria, mas por toda a cidade de Lisboa.

O terceiro momento envolve o espectador num delírio narrativo ancorado em quadros-janela intensamente coloridos. Neles, os objetos inanimados insuflaram-se de características próprias. Aqui, não são já máscaras ou marionetas, são criaturas viventes de pleno direito, antropomorfizadas nos gestos, no vestuário. Também não são divindades ou demónios. São andarilhos do mundo que se cruzam agora por Lisboa. Vindos de outras geografias (ou apenas do final da rua?), de diferentes tempos. Correspondem ao mais puro exercício de contar uma história. Do hipotético como motor do enredo. Quem seria esta figura se existisse por aí? O que iria ver? Em que tempo viveria? Garuda poderia ser uma criatura mitológica, mas poderia ser, ao invés, um distinto pedagogo e lente, apanhado de surpresa ao atravessar a rua frente à casa dos bicos. D. Mahákola por sua vez, chegou ao Hotel Ritz em plenos anos setenta para repor energias e afastar doenças e males atávicos. A selfie pintada marca o momento em que todos se encontraram, num dia em passeavam pela cidade de Lisboa.

O título que nomeia esta exposição, intencionalmente longo e rocambolesco, reforça a convergência de argumentos. Podiam ser estas as histórias. Ou outras.

Mas uma pergunta impõe-se: estes mascarados não mascarados, saíram das vitrinas e do museu ou nunca lá estiveram?

[Tinta nos Nervos, setembro 2022]
Agenda
Ver mais eventos

Passatempos

Passatempo

Ganhe convites para a antestreia do filme "A ARCA DE NOÉ - A AVENTURA"

Em parceria com a Films4You, oferecemos Convites Família (3 bilhetes por convite) para a antestreia do filme de animação "A Arca de Noé - A Aventura". Uma abordagem divertida a uma das histórias mais icónicas e conhecidas de sempre, com humor e personagens adoráveis à mistura! Findo o passatempo, anunciamos aqui os nomes dos vencedores!

Visitas
91,150,956