O magnifico verde de imensas variações tonais tem dado lugar a espaços vazios de onde emergem troncos, secos, queimados, e espaços vazios com aglomerados rochosos, numa terra vestida de negro. Inquietações, revela a minha apreensão pelo que observo e pelo que aí vem, e rapidamente. A cor monocromática, povoada de cinzas cor e negros, a ausência da folhagem, a ausência de vida, a irrequietude dos troncos de silhuetas negras, estáticas ou movimento expressam essa inquietude.
Por outro lado, o tema «bichos das histórias que não são de encantar» continuam a ser uma fonte simbólica de trabalho. Nessas florestas a vida fervilha, tudo tem o seu espaço. A natureza encarrega-se de fazer a seleção natural. Com a intervenção humana ficam medos, ausências sobre a forma de bichos, outros bichos, os nossos terríveis bichos….
E com esta preocupação percorro alamedas estreitas de longas árvores. Paisagens verticais de sombras viscerais crescem num solo ornamentado de vegetação rasteira seca. Dos troncos soltam-se longas cascas que se acumulam a seus pés, em movimentos curvilíneos e ondulam no espaço criando infinitos. Feiticeiras que prendem docemente o meu olhar pela beleza do movimento e deixo-me ficar a contemplar esses momentos… a minha casa é o monte.
E não sei porquê…inquietação ….
Avançando nesses corredores arbóreos, a inquietação cresce, memórias de catástrofes do quotidiano e questiono…porquê, não sei…
E olho,
Esses muros verticais de verde sulfato, perfumados, que ondulam ao sabor da brisa ou dos vendavais, resistem. Sedentos de água estendem as suas raízes no subsolo, conquistando-o. Despojam a paisagem, desolada, das ancestrais árvores que lentamente desaparecem no caos do tempo e do Homem.
Subo a colina e do topo, olho o cenário. O meu rosto abre-se de espanto.
A curva do horizonte, na sua nudez, revela o luto negro da terra e os rostos choram!
Carpideiras históricas erguem-se timidamente dos solos, troncos decepados que resistem estoicamente chorando a vida e a inconsciência humana.

Mavilde Gonçalves, licenciada em Artes plásticas/pintura pela ESBAP. Desde 1983 participa em inúmeras exposições coletivas destacando-se: Desenhos e Múltiplos, AS Galeria, Porto. Alguns Da Nova Geração, casino da Póvoa do Varzim. Arte e Desporto, Palácio Foz, Lisboa. Grupo Ação de Graças, galeria EG -Porto. Alguns da Nova Geração, Galeria Dois/grupo Alvarez. Pintura e cerâmica, Galeria Espaço, Porto. A Arte e o Desporto, Fórum da Maia. Grupo em construção, atelier João Carqueijeiro: 2ª Bienal Internacional de Arte Gaia, instalação, «Do outro lado»; instalação, «Porque não azul?» - ZetGallery, Braga. Ressonâncias; Sem título; Arquipélago de imagens e à volta do Véu -Geraldes da Silva-Porto. ARGO - Cer. Ta. Me - 2017 e 2023, Gondomar. Espaço Q: Exmovere; Alma d ’água, Mosteiro de Guimarães; Coletivas: Maison Internationale de Rennes; Centro Madrazo, Santander; Arga- Corunha 2023 e 2025; Azul, 2024. Coletivas na D. Pedro - Porto; Spectrum, Miami, Feira internacional de galerias de arte, 2024; 100 artistas- Gondomar, 2024 e 2025; Prova d’Arte- na Galeria de Artes do Centro Cultural de Vila Nova de Foz Côa, 2024, Mosteiro Pousada de Guimarães e CAE da Figueira da Foz- 2025; Da janela dos dias- individual de pintura e escultura, na Geraldes da Silva, Porto, 2025. Terceiro dia - gigantes da esperança - paroquia Santa Maria Madalena, Vila Nova de Gaia, 2025.Em paralelo à sua atividade artística tem como atividade profissional a docência em Artes visuais.