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Uma Peça | Um Museu

Báculo em prata dourada, quartzos e vidros coloridos

Báculo de extraordinária perícia no trabalho da prata, em que os típicos motivos de ferroneries e enrolamentos se expandem de uma forma tão profusa por toda a peça que não deixam qualquer espaço livre.

Uma peça do Museu Nacional de Arte Antiga.


Báculo

Portugal
Séc. XVI (final) / Séc. XVII (início)
Prata dourada, quartzos e vidros coloridos
A. 235 cm x L. 26, 5 cm
Inv. 535 Our

Se este exemplar cumpre formalmente todos os requisitos característicos da sua tipologia, isto é, um bastão com um nó terminando numa crossa em voluta, já o mesmo não acontece ao nível da leitura do programa iconográfico que nele se inscreve. Veja-se, a título de exemplo, uma pequena Anunciação em que o Anjo e a Virgem em vulto são aplicados no interior da voluta da crossa e encimados no exterior pela jarra com as simbólicas flores da virgindade e pela pomba do Espírito Santo, em alusão clara à evocação do orago do Convento de São Bento de Avé-Maria do Porto, de onde este báculo provém.

Maior dificuldade de leitura se estabelece, ainda, quando pretendemos identificar as figuras que foram colocadas nos nichos que preenchem os dois registos do nó. Parece tratar-se de São Pedro e São Paulo, os pilares da Igreja, e de São João, São Bartolomeu, São Filipe e São João Evangelista, os quatro Evangelistas. Aqui, os elementos arquitetónicos e decorativos, aos quais se acrescentaram quartzos e vidros coloridos engastados, são de tal forma profusos que exigem, de facto, um olhar especialmente atento. Destacam-se, inscritos em edículas, os emblemas da Paixão: figuras de Anjos sustentando a Cruz, pregos, a lança, a coluna, a escada e o martelo.

Na face exterior de uma pequena voluta que pende da crossa foi aposto um brasão que identifica o doador, sinal que eternizaria a sua oferta ao convento. Segundo João Couto será o brasão das famílias Athayde e Aguiar, relacionando-se assim esta peça com D. Ana de Athayde, abadessa do referido convento do Porto. Esta opinião foi secundada por outros autores, tal como Abel de Moura e Magalhães Basto. Não é de ignorar o parecer de Eugénio da Cunha de Freitas que toma estas armas como as das famílias Ferreira e Azevedo, associando assim a sua encomenda e doação à Abadessa D. Maria Conceição de Azevedo, do mesmo convento. 

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