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Do rio à Pateira, em Águeda há um trilho acessível a pessoas com mobilidade reduzida

Percurso circular, com quase 20 quilómetros de extensão, pode ser explorado por todos. Basta requisitar o devido equipamento e partir à descoberta da paisagem natural que acompanha o curso de água.


Hugo Costa está habituado a superar desafios e a ultrapassar os condicionalismos da vida – prova disso são as medalhas que já conquistou em vários campeonatos de paracanoagem. Todavia, tem consciência que nem sempre o empenho e a dedicação são suficientes para vencer obstáculos. A deficiência física impõe-lhe algumas limitações, é um facto, mas há mais uma que acaba de ser vencida. O atleta aguedense, de 19 anos, já pode acompanhar os seus amigos num passeio ao longo do trilho do rio Águeda. O percurso de natureza, que acaba de ser inaugurado, é acessível a pessoas com mobilidade reduzida graças à disponibilização de um equipamento especial. Desenhado nas margens do rio, e passando por terrenos agrícolas e áreas de floresta, este trilho conduz os amantes da natureza até à Pateira, a maior lagoa natural da Península Ibérica.

“De outra forma, não conseguia fazer o percurso”, confessa Hugo Costa, sem perder o foco na condução do dispositivo de tração elétrica que vai acoplado à cadeira de rodas. “É muito fácil de manobrar”, garante, já depois de ter sido confrontado com uma ou outra irregularidade do terreno e com o colega Fernando Guimarães na retaguarda. A cada desnível, o companheiro de equipa de canoagem da ARCOR agarra a cadeira de rodas. “Apenas por cautela”, explica Fernando. Uma forma de prevenção da qual a câmara de Águeda também não abdica: juntamente com o equipamento Swiss-Trac, os serviços de turismo da autarquia disponibilizam também um técnico para fazer o percurso com os cidadãos de mobilidade reduzida.

São 19,33 quilómetros de extensão, numa rota que tem início e fim junto ao Instituto da Vinha e do Vinho, no centro da cidade de Águeda – o percurso é circular. É o maior de todos os percursos de natureza do município – sendo certo que não tem de o fazer todo de uma só vez –, mas, para Edson Santos, vereador da câmara local, a sua grande mais-valia passa, precisamente, por ser “o primeiro totalmente acessível a pessoas com mobilidade reduzida”.

Uma bicicleta de dois lugares para invisuais

Ao equipamento que permite levar as cadeiras de rodas para um percurso de natureza, a autarquia juntou uma bicicleta de dois lugares com o objetivo de permitir que o trilho seja explorado por invisuais. “O guia, que vai à frente, vai explicando o percurso. Aquilo que vai aparecendo na paisagem e também no próprio trilho, ou seja, se tem subidas ou descidas”, explica o vereador.

No dia da inauguração do trilho, a bicicleta acabou por ser “tomada” por Paulo Lino, atleta da CERCIAG, que não esconde a sua paixão pelas duas rodas. Pratica vários desportos – nomeadamente judo, natação, futsal e canoagem –, mas é a pedalar que parece sentir-se melhor. No final do passeio inaugural do Trilho do Rio Águeda, este atleta com síndrome de Down dava nota positiva tanto à bicicleta como ao percurso rasgado junto à margem do rio, desde Águeda até ao parque de lazer de Óis da Ribeira. Após a visita à pateira, do lado de Óis da Ribeira, o trilho passa na Igreja de Santo Adrião, em campos agrícolas onde atravessa a Ponte e volta à cidade, mas no passeio que assinalou a estreia do percurso “apenas” foram explorados 10 dos seus 19 quilómetros de extensão.

No último fim-de-semana de outubro, ajudadas pelas temperaturas agradáveis e também pela mudança da hora – que “atrasou” a hora de despertar –, cerca de 300 pessoas responderam à chamada. Havia um novo trilho para desbravar, a pedalar, a correr ou a caminhar – foram programadas largadas diferentes para cada um dos meios de locomoção –, ao longo do rio e até à pateira. Por entre terrenos agrícolas, grande parte deles ainda carregados de canas de milho secas, e zonas de floresta, passando, também, pelas localidades de Óis da Ribeira e Espinhel. A inexistência de grandes subidas (o trilho tem um desnível acumulado de 152 metros), ajudou a que a aventura se revelasse, essencialmente, um passeio – o único senão deste percurso passa pelo risco de cheias do rio Águeda, no Inverno.

“Gostei de tudo”, avaliava, no fim, Margarida Ferreira, acompanhada de Boby, o cão com o qual teve a oportunidade de partilhar grande parte do percurso. Já a sua colega Sofia Dinis apenas tinha conseguido fazer cerca de metade do trilho por causa das dores num pé.

Ainda assim, mostrava-se agradada com “a natureza, o rio, os pássaros”, enumerava, com a ajuda de Clarinda Silva, técnica do Centro Social e Paroquial da Borralha que as acompanhava naquela aventura. “Elas gostam muito de caminhar e costumam participar nas atividades do Centro de Marcha de Águeda, ao domingo. Agrada-lhes este convívio e a vertente de atividade física”, acrescentou a funcionária da instituição aguedense. Naquela manhã de domingo, houve uma dose extra de convívio e de animação, com direito a lanche junto à Pateira, apreciando a beleza paisagística daquela lagoa natural.

Mais oito percursos de natureza a considerar

Além do Trilho do Rio Águeda, recentemente inaugurado, este município da região de Aveiro tem mais oito trilhos que convidam a partir à descoberta de um território com múltiplas paisagens: da serra à Pateira, das aldeias de granito e xisto às vilas e cidade.

Um deles, o Trilho da Pateira ao Águeda, encontra-se com o mais novo de todos os percursos do município – tem 14 de extensão e liga as freguesias de Óis da Ribeira, Travassô e Recardães e Espinhel. Já o Trilho da Aldeia está totalmente integrado na aldeia de Macieira de Alcôba e estende-se por 2,5 quilómetros. Numa zona onde domina o granito, este trilho é um convite para que conheça uma aldeia histórica, muito ligada à cultura do milho.

É também na aldeia de Macieira de Alcôba que tem início o Trilho das Terras de Granito, com oito quilómetros de extensão e, por isso, com uma maior abrangência de paisagem para apreciar.

Referência, ainda, para o Trilho da Ponte de Ferro – de 7,4 quilómetros e a partir do qual é possível observar a linha do Vouga, o “rio Velho” e a Ponte de Ferro (que dá nome ao trilho) –, o Trilho dos Poços – com partida no Largo da Pateira de Fermentelos, junto à Estalagem, e 11 quilómetros de extensão – e o Trilho de Lourizela – com quatro quilómetros e que permite passear nas margens do rio Alfusqueiro.

Completam o leque de propostas de caminhadas naquele território o Trilho do Vale Serrano – que se estende por 5,3 quilómetros, passando pelo rio Agadão e por uma pequena cascata, entre outros pontos de interesse – e pelo Trilho dos Arrozais – com 12,44 quilómetros e que atravessa uma paisagem de imensos arrozais em Estrada Real, cruzando-se com o Caminho Português de Santiago.

Guia

Informações e reservas

Para requisitar o equipamento Swiss-Trac e agendar passeios com cidadãos de mobilidade reduzida deverá contactar o Posto de Turismo de Águeda, através do telefone 234 601 412 ou por e-mail.

Como chegar

O ponto de partida está localizado junto ao Instituto da Vinha e do Vinho de Águeda, bem no centro da cidade e ao lado do Posto de Turismo (Largo Dr. João Elísio Sucena, 3750-234 Águeda).

Quando ir

O trilho do Rio Águeda é aconselhável no Outono, Primavera e Verão. No Inverno, deve ser tido em consideração o risco de cheias.


in Público por Mari e  | 16 de novembro de 2019

Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

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