"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

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Gilbert & George em Dicionário de Artistas

Todas as quartas-feiras, o Centro Cultural de Belém disponibiliza um texto inédito de Gonçalo M. Tavares sobre artistas contemporâneos, com leitura de Ana Zanatti.


Dicionário de Artistas (
#20)
Espaço e Amor, dedicado a Gilbert & George
Por Gonçalo M. Tavares

Para ler em www.ccb.pt e ouvir no spotify do CCB.

O estar-parado-muito-tempo pode provocar no espectador mais movimento do que uma corrida de 100 metros. O que importa não é a velocidade do que se vê, mas a velocidade de quem vê. E a velocidade aqui não é uma componente física, mas uma componente dos argumentos sentimentais. Isto é: o coração balança de um modo primitivo, como há seis mil anos, e, no entanto, as mãos contactam com elementos do mundo bem mais organizados e inteligentes do que há uma semana. O Homem mudou do coração para fora; do coração para dentro: a mesma inabilidade e o mesmo entusiasmo. Apaixonado ainda, como um imbecil Homo Sapiens das flechas, o Homem vai de automóvel para o encontro marcado; a mesma paixão incalculável, mas mais tecnologia.

Quanto aos dois homens que falam de modo pausado e um de cada vez - como se fossem as duas partes da mesma frase - eis que a mesma circunstância – o mundo – os separa: essa catástrofe, que é o espaço, faz com que um corpo ao lado do outro possa por vezes ser admirável e outras vezes repugnante. O espaço permite a aproximação e o afastamento. Sem a noção de espaço estaria tudo no mesmo sítio, não haveria, portanto, distinções, separações: acabaria o amor: se nada está afastado de mim, como pode o meu coração (sentimental) funcionar?

Que Deus proteja aquilo que nos afasta.

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