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Exposição mostra os rostos e as histórias das crianças em fuga de Cabo Delgado

“Escola do Caminho Longo”, que abre dia 26 de novembro, no Museu Nacional dos Coches, em Lisboa, mostra fotografias que revelam o percurso e os relatos da fuga de 20 crianças deslocadas de Cabo Delgado, em Moçambique.

Foto: Luís Godinho


Depois de ter estado em Moçambique em 2018, o fotógrafo Luís Godinho regressou em julho deste ano à zona de Cabo Delgado e deparou-se com um cenário que não conseguia imaginar. Onde antes havia mato, agora havia uma floresta de gente. “Estavam convertidos em centros de refugiados de dimensões que não conseguia imaginar”, conta o fotógrafo cujas imagens estão agora reunidas numa exposição no Museu Nacional dos Coches.

“Escola no Caminho Longo”, é uma mostra que dá a conhecer o percurso e os relatos da fuga de vinte crianças deslocadas de Cabo Delgado. Luís Godinho conta que algumas destas crianças “andaram 100, 200, 400, 600, 900 quilómetros”. São “pessoas que ficaram sem nada”, explica o fotógrafo que assina a autoria desta exposição com a escritora Maria João Venâncio que escreve os textos que complementam as imagens.

Perderam tudo, tudo foi roubado, queimado, tiveram que fugir com o pouco que tinham”, conta Luís Godinho sobre os relatos que ouviram dos que escaparam aos ataques terroristas naquela zona norte de Moçambique. As imagens destas crianças, são mostradas em painéis, em tamanho real, nesta exposição que chega a Lisboa pela mão da Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) Helpo e que tem o Alto Patrocínio do Presidente da República.

No terreno a Helpo tem vindo a promover o acesso das crianças ao ensino. Na exposição surgem histórias como as de Calton de 13 anos, Muassite de 12 anos ou a Tomás de 19 cujo pai encontrou moribundo com três balas cravadas.

“É incrível ver o trabalho que a Helpo desenvolve com essas crianças deslocadas”

São muitas as histórias dos que para fugir à violência, “ficaram meses no mato, escondidos a comer o que havia, raízes, e foram andando até ficarem em campos de deslocados”, conta Luís Godinho em entrevista à Renascença, destacando histórias “impactantes”.

Natural da Ilha Terceira, nos Açores, este fotógrafo freelancer explica que muitas das crianças deslocadas “quiseram procurar a escola como refúgio”. Luís Godinho indica que a ONGD Helpo teve um papel fundamental em ajudar estas crianças a reencontrarem-se com o ensino.


“Nessas zonas de onde as crianças fugiram elas já estavam identificadas e eram apadrinhadas”, explica o fotógrafo que acrescenta que “quando perceberam que as crianças já não estavam nesses locais, foi preciso procurá-las e pô-las a estudar, a continuarem a estudar”. “É incrível ver o trabalho que a Helpo desenvolve com essas crianças deslocadas”, refere o fotógrafo.

Este profissional que já trabalha há alguns anos com as questões dos direitos humanos, explica que seguiu uma linha de trabalho “de forma a que se pusesse estas crianças o mais próximo do titulo do projeto, ‘A escola do Caminho longo’ e percebe-se que há uma mágoa, rancor e sofrimento na cara de alguns”.

Luís Godinho confessa que encontrou em Moçambique a mesma “resiliência” que identifica na maneira de ser dos seus conterrâneos açorianos. “A resiliência deles é incrível e começa nas crianças. A maturidade deles é bastante evoluída, porque são pessoas muito sofredoras. Crianças de 6,7,10 anos já passaram por muito. São o rosto da desgraça e do sofrimento que passam”, conclui.


Maria João Costa in Renascença | 26 de novembro de 2021
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença

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