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Comboios, azulejos e história: Celorico de Basto reabilita estações em ruínas para o turismo

Antigas estações de Mondim de Basto, que pelos seus azulejos (”completamente degradados”) é considerada “a mais bonita da antiga Linha do Tâmega”, Codeçoso e Lourido em recuperação após duas décadas de abandono.

Edifício restaurado da antiga estação Mondim de Basto_Anna Costa Estação de Lourido_Celorico de Basto Estação de Lorido_CM Celorico de Basto


A Câmara de Celorico de Basto está a recuperar antigas estações ferroviárias, encerradas em 1990, que estavam em ruína, incluindo a reabilitação de painéis de azulejos, a pensar no turismo, disse o presidente do município.

“Nesta fase, estamos a ultimar uma intervenção mais vasta que diz respeito aos espaços edificados”, afirmou Peixoto Lima, em declarações à agência Lusa, destacando os trabalhos realizados na antiga estação de Mondim de Basto, situada em território de Celorico de Basto, na freguesia de Veade, no distrito de Braga.

“Esta estação [da Linha do Tâmega], quando aqui foi construída [1949], foi para servir as populações de Mondim de Basto [concelho vizinho, na margem esquerda do Tâmega], daí ter esta designação, que nós mantemos”, anotou o autarca.

Peixoto Lima, que falava junto ao edifício, destacou o trabalho de reabilitação de painéis de azulejos figurativos que cobrem as paredes exteriores e interiores daquela estação, considerada a mais bonita da antiga Linha do Tâmega.

Os painéis, maioritariamente azuis e brancos, retratam cenas do quotidiano das gentes de Basto, sobretudo da ruralidade, da primeira metade do século XX. Vários tinham sido destruídos, ao longo dos anos, por atos de vandalismo.

“Na realidade, infelizmente, os painéis de azulejos estavam completamente degradados em quase todas as estações, nesta particularmente. De todas elas, era onde os painéis de azulejos tinham e têm uma importância superior”, explicou.

O presidente da autarquia sinalizou o “muito cuidado” que houve “na reabilitação desse património, tendo sido investido bastante dinheiro [cerca de dois milhões de euros], de forma completamente justificada”.

Para realizar o trabalho, foi contratada uma empresa especializada que, ao longo de vários meses, reabilitou os painéis, recuperando, com paciência, os existentes ou reproduzindo os que tinham desaparecido, com base em fotografias e desenhos.

“Grande parte dos azulejos foram recuperados no local, num processo demorado e minucioso”, reforçou o autarca, apontando para um dos painéis de grande dimensão.

Ana Marques, da empresa que restaurou os azulejos, explicou à Lusa que, face aos danos encontrados, se tentou “preservar ao máximo os originais”. Os que faltavam, notou, foram substituídos por réplicas preparadas por empresas ceramistas.

Os trabalhos incluíram limpeza, restauro com aplicação de massas de preenchimento, reintegração cromática e verniz para preservar o material.

É na estação de Mondim que se encontram os painéis de maior valor, por serem figurativos e mais coloridos, enquanto nas duas restantes os azulejos são de formas geométricas, acrescentou.

Além daquele imóvel, o projeto incluiu à reabilitação das antigas estações de Codeçoso e Lourido, que também se encontravam em avançado estado de degradação devido a décadas de abandono.

O autarca recordou que o património recuperado “é de todos” e constituirá “mais um motivo de visita ao concelho”, nomeadamente à ecopista.

À Lusa, sinalizou que a câmara tem investido na recuperação do canal da antiga linha férrea (a circulação de comboios entre Amarante e Arco de Baúlhe foi encerrada em 1990), incluindo a estação da sede do concelho, já realizada há alguns anos, transformando-o numa ecopista, com equipamentos de apoio à prática desportiva e lazer.

Recentemente, foi terminado um troço de 4,5 quilómetros, na zona de Codeçoso, próximo do limite do concelho, com Amarante.

A ecopista conta com 24 quilómetros, a montante e a jusante da sede do concelho. Diariamente, é frequentada por praticantes de caminhadas, atletismo e cicloturismo, entre outras atividades, desfrutando das vistas para o monte da Senhora da Graça, para o rio Tâmega e para outros pontos de interesse da região de Basto.

A presente recuperação das três estações, incluindo das respetivas gares, permitirá criar espaços de apoio à ecopista, com balneários e albergues de alojamento.

“Esta ecopista é um projeto âncora para o turismo e bem-estar das populações. Em cada uma das estações é nossa intenção colocar um núcleo interpretativo com a história da linha e da ecopista, um espaço de promoção e venda de produtos locais, e um ponto de partida para o território”, informou Peixoto Lima, frisando ser intenção do município transformar o equipamento no melhor do género em Portugal.

Para breve está prevista a implantação, ao longo do canal, de obras de arte de artistas da região para embelezar a ecopista, seguindo o exemplo da estação de Celorico de Basto, onde foi montado um painel de azulejos preparado por alunos do concelho.


por Lusa e Público | 3 de fevereiro de 2021
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

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