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Instalação artística celebra esplanadas e estendais e ouve a comunidade

“São Vicente Cá Fora” é o nome do mais recente projeto de intervenção artística em espaço público, coordenado pela zet gallery, que pretende testar novas formas de intervenção na Pólis, tendo a arte como grande foco de ação desencadeadora de reflexões sobre os grandes temas da atualidade.

14 Nov a 31 Dez 2020

São Vicente
Calçada do Cascão, Lisboa
Preço
Entrada livre

Realizado em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa e a Junta de Freguesia de São Vicente, a iniciativa, que conta com o dstgroup como mecenas, em rede com a mosaic e a zet gallery, insere-se no SUSHI, projeto de adaptação climática, que envolve seis centros históricos da Europa do Sul, sendo a equipa de Lisboa constituída pela Lisboa E-Nova e pela FCT/UNL. O projeto cobre a área histórica de Alfama e Graça e está focado na resolução dos desafios ambientais e socioeconómicos que têm conduzido a um processo de gentrificação, desertificação e descaracterização do bairro.

Alberto Rodrigues Marques, Henrique Palmeirim e Hugo Castilho, recém-formados pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, foram os artistas convidados para colocar em marcha esta intervenção artística que tem como propósito a dinamização do espaço público, no estreito diálogo com a comunidade de moradores, sem-abrigo e turistas que o habitam quotidianamente, de forma mais perene ou efemeramente. Os artistas, representados pela zet gallery, e alinhados com os objetivos ambientais e socio-económicos e com o programa global de Lisboa Capital Verde Europeia, criaram um espaço artístico único alavancado em quatro atividades-chave - explanar, extender, extrapilhar e expectar. O projeto que parte de uma “esplanada” criada na escadaria da Calçada do Cascão, que pode ser apreciado até ao final do ano de 2020.

Helena Mendes Pereira, curadora e diretora da zet gallery, explica o processo de materialização desta intervenção pública, que arrancou com o conceito “explanar”. “Recorrendo, simbolicamente, a andaimes cedidos pelo dstgroup, os artistas criaram uma instalação que circunda a fonte da escadaria da Calçada do Cascão, numa espécie de esplanada ou um novo ponto de encontro (ainda que condicionado nos tempos que vivemos) para os diferentes membros da comunidade. Os andaimes foram pintados de branco e cobertos com pedaços de lonas publicitárias, agora reutilizadas, e que assumem a forma de peças de roupa maximizadas e ajustadas à plasticidade dos artistas. O objetivo é incentivar a recolha e partilha de roupa em segunda mão, reduzindo a produção e o impacto da indústria têxtil. Simbolicamente, estabelece-se também uma ligação aos estendais de roupa, forma sustentável da gestão quotidiana, ao contrário das soluções mais tecnológicas, e que se constituem como uma marca identitária de várias cidades e muito em particular de centros históricos como Lisboa, como Alfama”,

A partir destas esplanadas, a intervenção avança para as ruas, becos e vielas da Calçada do Cascão como um estendal gigante destas peças de roupa sugestionadas pela intervenção artística, materializando o “extender”. “A ação exigiu a colaboração da comunidade na cedência de pontos de apoio para este grande estendal e no recurso às suas janelas e varandas”, revela a curadora, que aponta o passo seguinte “do grande estendal partimos para uma ação que escuta o bairro, usando o trapilho para desenhar funções ou infraestruturas que a comunidade tenha interesse em ver alterados ou construídos, tais como um corrimão para apoio aos mais velhos ou um cesto de basquete que faça a delícia dos mais novos”.

“Extrapilhar” é o terceiro acto desta intervenção na Pólis e é o último de natureza mais efémera, uma vez que a ação se conclui com uma inscrição mais perene. “Numa fachada emparedada, que pode simbolizar o ponto suspenso de tantos outros edificados urbanos, os nossos artistas contarão uma história e darão a vida do interior de uma casa: juntarão vida ao bairro, cidade à cidade”, sublinha Helena Mendes Pereira, finalizando que “SÃO VICENTE CÁ FORA conclui-se, assim, com expectar: uma pintura mural que recupera o branco já usado na uniformização dos andaimes e que depois se adensa com a cor em elementos simbólicos e que procuram transmitir algumas das mensagens do projeto ambiental, propriamente dito.”

O projeto, executado durante cinco semanas, liga assim os conceitos de arte, sustentabilidade, criatividade e inovação e pretende sensibilizar para desafios urbanísticos, climáticos e de circularidade local, tomando-se a arte como ação comunicante e potenciadora do envolvimento das comunidades nas causas que são de todos.
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