Teatro
"O Mal- Entendido" de Albert Camus
Um espetáculo de Maria do Céu Guerra, em cena no Teatro Cinearte de 3 de novembro a 18 de dezembro de 2022. Com Rita Lello, Ruben Garcia, Teresa Mello Sampayo, Samuel Moura e Maria do Céu Guerra.

3 Nov a 18 Dez 2022
Questões a Albert Camus sobre o Mal Entendido
Camus é um escritor cada vez mais actual. A sua obra é cada vez mais aberta. E mais nítida embora Camus não nos ofereça certezas e pelo contrário estimule a ambiguidade. A tarefa que o seu pensamento nos põe às costas, aquela pedra de Sisifo que somos obrigados a carregar, com revolta embora, sabendo que ela rolará sempre de novo até ao chão assim que chegar ao cimo do monte, é uma espécie de compromisso ético que dá sentido à nossa existência e ao seu existencialismo. A pedra rolará para o chão mas o sentido da nossa vida está em sempre voltar a carregá-la, até à revolta e é essa acção que nos justifica. Este é o existencialismo de Camus. Este é o seu entendimento do Absurdo.
Esta peça que aqui apresentamos é uma tragédia moderna como lhe chamou o autor em que não faltam momentos de humor, a que o próprio Camus começou por chamar a comédia do checoslovaco quando começou a trabalhar no texto, após ter lido a noticia num tablóide checo. A estalagem é um símbolo antigo na literatura, é o lugar de todos os encontros, o lugar onde a liberdade se sonha e as prisões se impõem e muitas vezes saem vencedoras. É o lugar do absurdo a que chamamos vida. A tragédia da comunicação chamou-lhe ele mais tarde.
Tirado Deus da cena o homem ficou na mão do absurdo que passa a ser regido por nada e ninguém. A vida será só uma sucessão de acasos que determinam aquilo que na tragedia antiga se chamava Destino.
Na tragédia moderna se julgarmos que o velho criado pode representar esse destino estamos a cometer um erro. Ele, na sua indiferença, representa apenas uma sucessão de minúsculos incidentes, o acaso trágico que prende o Homem ao seu abandono de nada ter sentido.
Cheia de equívocos e acasos mais ou menos decisivos para o desenrolar da acção a peça foge a uma metáfora filosófica e põe em cena personagens com destinos trágicos com origens e causas distintas.
João vitima da sua incapacidade de entender para que serve a comunicação, carregado de uma culpa que o paralisa e que quer resgatar com a dádiva da sua chegada à família que há 25 anos abandonou, desencadeia a tragédia. Maria uma amostra do bom senso das terras onde o natural ainda não morreu. Marta a protagonista de ”Mal entendido” encarcerada numa europa em guerra dominada pelo Terceiro Reich, na segunda maior cordilheira da Europa, os Carpatos, onde nascem os maiores rios da região, e impedida de ver o mar pelo território esquartejado dos Balcãs também eles dominados por Hitler. Ela sonha com os países do Sol, que sabe que existem para lá do mar, porque para lá fugiu há 25 anos o seu irmão que nunca mais voltou. Tal como Camus que pensa nesses lugares, como os países dos “povos criadores”, onde é possível viver mesmo no absurdo da condição humana, Marta sonha fugir para lá.
Talvez Marta não perdoe ao irmão o seu abandono ou mesmo ter conseguido ser feliz… Será que Marta se livraria da sua dor ao encontrar o país com que sonhou? Educada numa casa onde o crime é uma banalidade ela é uma criminosa. Como a mãe, sua mestra, com certeza como o pai. Não saberemos se é uma psicopata, se é apenas insensível. Mas sabemos que no meio da ambiguidade que o autor nos oferece como trabalho de casa ela é a magnifica protagonista do pensamento de Albert Camus sobre o Homem Revoltado.
Marta reserva para si numa zona intocada, o amor e a companhia até aqui nunca posta em dúvida, da mãe. Não falarei nesses e noutros pormenores da obra. Eles fazem parte da ficção que fica assim intacta à vossa descoberta.
Maria do Céu Guerra
NOTAS SOBRE O MAL- ENTENDIDO
A Barraca por ideologia, gosto e ética admira a tragédia mas procura a comédia, e costuma preferir a sátira à confidência lírica e o riso ao pranto. Por muito que isso às vezes lhe doa A Barraca dá ao humor um valor positivo que a incentiva à coragem, ao sentido critico e à razão.
Mas hoje talvez porque a guerra avança de mão dada com a mentira e a crueldade, e os "doctors strange love" do nosso tempo, donos das mais ricas potencias e campeões da arbitrariedade, colocam o mundo no dependência e no pânico apetece-nos olhar para o crime, para o mal, para a crueldade e deixar a obra que escolhemos levar a cena a navegar entre a tragédia e o irrisório da inverosimilhança.
É a pergunta, porquê esta peça hoje?
Respondo, tens lido o Correio da Manhã?
O MAL-ENTENDIDO
De Albert Camus
Direção Técnica e desenho de luz - Vasco Letria
Cenografia - Miguel Figueiredo
Cartaz e imagem - Luis Henriques
Guarda Roupa - Marta Iria
Aconselhamento musical - António Vitorino de Almeida
Sonoplastia e operação de som - Ricardo Silva
Montagem - Mario Dias, Valentyn Kryvokhyzha, Vasco Lello, José Pato e Miguel Figueiredo
Assistência - Sergio Moras, Vasco Lello, josé Pato, Samuel Moura, Rui Santos
Produção e Secretariado - Inês Costa e João Teixeira
Elenco:
Rita Lello - Marta
Ruben Garcia - João
Teresa Mello Sampayo - Maria
Samuel Moura - o velho criado
Maria do Céu Guerra – mãe
Horário: Quintas, sextas às 19h30, sábados 21h30, domingos 17h00
Bilhetes
Bilhete normal: 16,00 €
Estudantes, Profissionais de Teatro, menores de 25 e Maiores de 65 anos: 12,00 €
Quinta-Feira: 12 € (Preço Único)
Classificação Etária
M/16
Informações e Reservas
Tel: 213965360 | 213965275 | 913341683 | 968792495
e-mail: barraca@mail.telepac.pt | bilheteira@abarraca.pt
Bilheteira online:
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