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Filipe Amaral expõe "Memórias Sem Tempo" em Oeiras
A exposição apresenta três núcleos de trabalho, onde as obras pretendem estabelecer um diálogo com o observador, com as suas memórias de infância, com as vivências adquiridas e também transmitidas geneticamente pelos seus antepassados.

1 Jul a 2 Set 2017
“Sirvam-me por favor um copo de sol e de água do mar…”
O critério expositivo escolhido para os três núcleos vem na sequência da exposição realizada pelo artista intitulada “A Morte da Memória” em 2015. Desta forma, o espectador vai poder descobrir as diferentes técnicas de produção e as diversas linguagens adoptadas, possibilitando-lhe refletir e questionar as mensagens transmitidas por cada um dos trabalhos.
No primeiro núcleo são expostos alguns trabalhos de grande dimensão, onde a pintura a óleo assenta no suporte mais tradicional - a tela.
No segundo núcleo o suporte utilizado é a tapeçaria persa, onde o pelo é estabilizado por uma massa que permite a posterior pintura a acrílico. Uma grande parte da tapeçaria original é envolta numa teia de tinta, onde Filipe Amaral cria uma dialética de impacto abstracionista, inserindo nesse mesmo contexto símbolos do Vocabulário Alfa e Beta que o próprio tem vindo a desenvolver dando assim a consistência necessária à mensagem que pretende transmitir.
No terceiro núcleo o artista apresenta-nos o desenho e a pintura a óleo sobre outros tipos de suporte bastante variados, tais como: o cartão, o desenho das tapeçarias de Arraiolos em papel vegetal, o mapa cartográfico, a madeira, a radiografia, recibos e letras, alvarás antigos de lojas ou até folhas de pagamento de ordenados.
No Palácio do Egipto, “Memórias Sem Tempo” reclama viagens, onde se articulam o passado e o presente, num conjunto de ambientes modernos, urbanos e cosmopolitas.
A desconstrução do poder masculino, em interligação com a ideia da mulher em verdadeira ascensão, com o domínio do saber, e o progressivo controlo empresarial em parceria com a lenta escalada na política mundial, evocam a evolução dos direitos humanos e da mulher ocidental versus a mulher oriental. Os progressivos avanços tecnológicos permitem que as mulheres do ocidente consigam ter acesso a 60% das mesmas músicas, dos mesmos filmes e até do mesmo tipo de programas, promovendo uma revolução cultural interna que se vai fazer ouvir dentro de pouco tempo.
Filipe Amaral desenvolve uma diversa iconografia que cria, observa, explora e transforma, bebendo informação no mundo atual, mas também nalgumas velhas culturas indígenas e orientais. Ao captar a essência, o invisível das coisas, o artista põe à prova a sua capacidade de recriar e de reinventar, captando o pormenor, que muitas vezes dá origem a um novo objeto, símbolo ou signo.
A multiculturalidade inerente a esta constante pesquisa, por parte do artista, leva-o por vezes a explorar também novas linguagens paralelas aos graffiti, numa mistura de técnicas de spray, tintas de óleo e tintas industriais, numa fusão mista de pintura em paredes escondidas do grande público, locais velhos, na região de Sintra, onde apenas o observador mais atento e perspicaz, as poderá encontrar e observar, tendo acesso assim a obras inéditas de Filipe Amaral.
A memória está na base da pirâmide do conhecimento e da evolução do raciocínio. Ela permite-nos reconhecer o perigo, descodificar a melhor forma de chegar a um local já visitado ou a possibilidade de interligarmos o conhecimento. Sem a memória tudo se desmorona, como um castelo de cartas, onde as estruturas do raciocínio se perdem num imenso vazio.
Nos tempos atuais, com as novas tecnologias, onde o que é verdade hoje, está obsoleto amanhã, onde a máquina ganha terreno em relação ao ser humano, as memórias do passado são cada vez mais ténues. Com tanta informação nova a bombardear o mundo, é necessário que a memória saiba distinguir o essencial do acessório, que preserve o que é importante para a espécie humana e para o equilíbrio do nosso planeta.
Parte significativa da população, especialmente os jovens, não conseguem distinguir nem recordar eventos, pois os seus interesses estão muito reduzidos e restritos a jogos de computador, a telemóveis, com todo o tipo de mensagens que os ocupa de forma quase permanente, subtraindo-os às relações sociais, não lhes permitindo adquirir os hábitos necessários à crítica social e à análise do que é mais importante para a sua vida futura.
Esta exposição de pintura faz apelo a que o conhecimento, armazenado na memória, não se perca, quer através da memória declarativa ou explícita, onde a memória episódica e a memória semântica, estão associadas à consciência.
Através do acesso aos dados armazenados na memória temos capacidade de calcular, desenhar, escrever, raciocinar concreta e abstratamente, resolver problemas complexos lógico-matemáticos, planear e integrar todos estes conhecimentos.
A memória ajuda-nos na comunicação, na aculturação e na transmissão de conhecimentos às gerações vindouras.
O cérebro do Homem sofreu diversas alterações ao longo dos tempos e para isso muito contribuiu a passagem à posição bípede. Esta foi de extrema importância para libertarmos a mão, descobrirmos o fogo, passarmos a cozinhar os alimentos, alterarmos a nossa alimentação, com consequências na redução dos nossos maxilares e ampliação do nosso crânio (aparecimento e desenvolvimento das zonas frontal e occipital) e consequente aumento cerebral. Isso possibilitou-nos a descoberta e a utilização de novos objetos que nos permitiram defendermo-nos, caçar, dominar melhor a técnica de fazer lume e descobrir como o preservar, em tempos de chuva e humidade, através da resina.
Na opinião de Filipe Amaral este último facto foi o que permitiu à espécie humana não ter sido extinta. O domínio de uma arma tão poderosa como o fogo permitiu ao Homem afugentar animais de grande porte e levá-los a despenharem-se em falésias ou a encurralá-los em desfiladeiros, onde depois lhes lançavam pedras de grande dimensão, ou os espetavam com paus afiados, para os matarem e terem alimento para os longos períodos de inverno que muitas vezes surgiram.
O ser humano atual tem três cérebros sobrepostos, o cérebro reptiliano, o cérebro paleo-mamífero e o neocortex. Entre muitas outras funções, asseguram-nos o instinto de sobrevivência que nos possibilitou chegar ao século XXI, no topo da cadeia alimentar, como o predador mais mortífero e perigoso do planeta. Temos também capacidades impressionantes de perdoar, de ajudar e de amar.
Muitos dos símbolos criados e representados pelo artista nas suas obras (como os fósforos – descoberta do fogo, o dedo – libertação da mão, entre outros) alertam para a memória desses tempos passados, que nos permitem hoje estarmos ainda vivos e sermos o animal mais inteligente no planeta Terra.
Temos de manter a memória ativa e recordar.
Rita Florentino Correia
>> CV Filipe Amaral
Horário:
Terça- feira a sábado, das 12H00 às 18H00.
Encerrado aos feriados.