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Uma Peça | Um Museu

Escritório Mogol

A decoração do móvel é feita através da inserção de embutidos em marfim de cor natural – utilizando a técnica sadeli – com gravados a preto, que enfatizam a expressiva e delicada linha do desenho, e com motivos geométricos, florais e figurativos. 

Uma peça do Museu do Oriente.
 


Escritório
Gujarate, Índia/Sindh, Paquistão (?), 1ª metade do século XVII
Sissó, teca, marfim natural e tinto, ferro
A. 33 x L. 49,3 x P. 37,3 (fechado); 65 (aberto)
Aquisição, 1999
Inv.º FO/0531

Escritório de pousar em teca faixeado a sissó. O batente articula-se com a caixa através de dois gonzos. Interior com cinco gavetas simulando sete, dispostas em torno de gaveta central mais alta.

A decoração do móvel é feita através da inserção de embutidos em marfim de cor natural – utilizando a técnica sadeli (que reduz a madeira e o marfim a micro pedaços que são depois montados de acordo com a forma desejada) – com gravados a preto, que enfatizam a expressiva e delicada linha do desenho, e com motivos geométricos, florais e figurativos. A realçar alguns pontos da composição, são também utilizados tintos de verde (na base das árvores do topo, da tampa, das gavetas e do batente) e de vermelho (nas línguas dos tigres e nos puxadores das gavetas).

A temática decorativa é comum a este tipo de móveis. Desenvolvendo-se num esquema simétrico, apresenta figuras e motivos florais e animais. Nas laterais, na frente e no topo o motivo central é constituído por uma árvore envasada com a copa arredondada; a ladeá-la estão, nas laterais, um par de tigres com uma presa cada um e dois pássaros, um em cada canto superior do móvel. Na frente, o esquema é mais complexo, apresentando para além do motivo das laterais, uma pequena árvore de cada lado e um falcoeiro mogol com a ave de rapina na mão, bem como, um pavão com a cauda fechada pousado em cima da árvore. Na imagem de topo do móvel, o mesmo esquema, excetuando o pavão, aqui substituído pela forma tosca de uma homa (figura mitológica da cultura persa e indiana – é citado nos Vedas – símbolo de fama e fortuna. Numa das suas variantes cultural e formalmente evolutivas, aparece associado ao simurgue). No batente, o mesmo esquema inicial, agora com as duas árvores laterais de maiores dimensões a ponto de cobrirem toda a superfície da madeira. Pássaros poisam e flores desabrocham dos seus ramos. Ainda nesta última composição, a árvore central envasada encontra-se sobre um trono em plataforma (takht) rodeada por um par cortesão a conversar.

Este escritório pertence a um vasto conjunto de móveis semelhantes que se encontram espalhados por coleções e museus nacionais (há, por exemplo, um exemplar com pequeníssimas variantes numa coleção particular no Porto) e estrangeiros e que se julga serem originais das regiões costeiras do Gujerate e de Sindh. Tal assumpção prende-se com a documentação existente que aponta esta zona como um centro de produção de peças de embutidos em marfim de qualidade mas, também, com os motivos decorativos: as figuras com narizes pontiagudos, olhos largos e bigodes com as pontas enroladas surgem, por exemplo, nas pinturas do Gujarate e do Rajastão.

Para além destas características regionais, os trajos que as personagens envergam permitem-nos datar a peça com alguma certeza: os motivos geométricos nas faixas da cintura (patka) dos falcoeiros e os turbantes eram usados na corte de Jahangir (1605-1627).

Ainda que o significado da árvore, do par de cortesãos, da escolha do pavão ou do tigre esteja ainda por descortinar, este escritório apresenta, genericamente, figurações associadas às artes venatórias. A caça e a sua envolvência são um dos temas recorrentes na arte mogol sendo, também, do agrado e compreensão dos europeus. Esta será, talvez, a razão pela qual estes motivos serviram de ponto de encontro e partilha entre duas culturas, sociedades e religião em confronto.

Carla Alferes Pinto

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