Uma Peça | Um Museu
São João Evangelista
O São João Evangelista, que integra o núcleo referencial de esculturas em madeira dos séculos XIII e XIV conservado no MNAA, é uma das mais antigas imagens esculpidas com esta invocação registadas no património português.
Uma peça do Museu Nacional de Arte Antiga.

São João Evangelista
Oficina Peninsular
Século XIII
Madeira de cerejeira com vestígios de dourado, estofado e policromia
174,5 x 29,5 x 27 cm
Doação (Coleção Comandante Ernesto Vilhena, 1980)
Inv. 1464 Esc
Terá integrado um grupo escultórico do Calvário, de que constitui o fragmento remanescente.
De acordo com a dimensão sacramental do episódio da Crucificação de Cristo, verifica-se na arte portuguesa da transição do Românico para o Gótico a ocorrência sistemática da representação simples do Calvário com Cristo Crucificado acompanhado pela Virgem Maria e por São João Evangelista que O Ladeiam. Sendo este São João Evangelista atribuível à produção de uma oficina peninsular não identificada, mostra, por sua vez, que a iconografia mais sintética deste passo da Paixão se estende pela totalidade do território da Península Ibérica cuja identidade espiritual se define pelas fronteiras espirituais da fé cristã, face ao Outro que pratica o culto islâmico ou o culto hebraico.
Apesar de só ter chegado até nós a imagem isenta de S. João Evangelista, o pathos inerente ao tema do Calvário está, porém, plenamente expresso na gestualidade do santo que apoia a face sobre a mão afilada, em atitude que traduz o profundo sofrimento interior.
A proporção muito alongada, o esquematismo do volume, a forte inspiração gráfica do tratamento das pregas do manto e a frontalidade do tronco caracterizam o seu estilo ainda muito ligado à produção romanizante. A esbeltez e o sentido de verticalidade da figura lembram ainda que a sua autonomia espacial não escapou, na forma, à lembrança da estátua-coluna que respeita a lei de adaptação ao enquadramento arquitetónico.