Uma Peça | Um Museu
Oratório-Relicário
O oratório-relicário de prata doado pelo padre André Coutinho ao convento do Carmo da Vidigueira, não só ilustra claramente o cruzamento de influências artísticas, como denuncia o renovado culto das relíquias, uma das orientações privilegiadas da Contra-Reforma.
Uma peça do Museu Nacional de Arte Antiga
Oratório-Relicário
Século XVI
Prata parcialmente dourada, policromia, madeira e veludo; cobre e papel
Proveniência: Convento do Carmo da Vidigueira
Inv. 99 Our
O estabelecimento dos portugueses na Índia efetuou-se simultaneamente no âmbito civil e religioso. A divulgação da Palavra cristã assentou não só na proliferação de construções religiosas como na preocupação de mobilar o seu interior com alfaias litúrgicas e imagens que materializassem a mensagem divina. Esses objetos que testemunham linguagens artísticas híbridas de inegável inspiração nos modelos levados da Europa (placas gravadas, catecismos, estampas avulsas) caracterizam-se, sobretudo, pela sua portabilidade, definindo uma sociedade intrinsecamente dinâmica e comercial.
Esta peça em prata, uma das mais importantes da ourivesaria cristã indo-portuguesa, integra um conjunto composto por uma estante de missal e um porta-paz, legado à capela de Nossa Senhora das Relíquias daquele cenóbio.
O oratório-relicário é agora reequacionado à luz das últimas observações feitas após a intervenção de conservação efetuada em 2009. As novas informações obtidas apontam para linhas de investigação que poderão desafiar alguns dos dados tomados até ao momento como seguros, tal como o seu local de produção.
Executado no Oriente com recurso a técnicas ocidentais e orientais, é constituído por placas de prata, parcialmente dourada e policromada, aplicadas sobre madeira.
A sua proveniência profusamente documentada atesta de forma inequívoca o cruzamento tanto de fontes de inspiração como de técnicas, numa miscigenação tão perfeita quanto necessária.