"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Notícias

Manuel Amado (1938-2019), o pintor da serenidade

O CNC manifesta profundo pesar pela morte de um amigo de sempre, filho de um dos nossos pais fundadores, Fernando Amado e grande artista. Apresentamos sentidas condolências a Teresa Amado e família.

Pintura da série A Estrada da Comenda, 1993 DR Terraço com Cadeira III, 1992 DR Interior da Barraca, 1989 DR Manuel Amado no seu atelier, em 2008_Ricardo Brito


O artista deixa uma obra original, marcada pela pintura de espaços vazios, dominados pelo jogo entre a luz e a sombra.

O pintor Manuel Amado morreu esta segunda-feira no Hospital da Luz, em Lisboa, vítima de cancro. Tinha 81 anos. Deixa uma obra pictórica extensa e coerente, marcada por lugares desabitados, que o público português e mesmo estrangeiro pôde apreciar em exposições regulares a partir de 1975. O velório realiza-se esta terça-feira, pelas 17h, na Basílica da Estrela, em Lisboa, onde na quarta-feira às 10h será rezada uma missa, após a qual o pintor será cremado numa cerimónia privada.

Manuel António de Sotto-Mayor da Silva Amado nasceu a 13 de junho de 1938. Era o quarto de sete filhos do casamento entre o homem de letras e de teatro Fernando Alberto da Silva Amado e Margarida Abreu de Sotto-Mayor. Até aos 19 anos residiu com a família no palacete dos avós maternos, ao Campo Grande, o mesmo que hoje alberga o Museu de Lisboa. A memória desta grande casa, cheia de recantos, corredores e grandes janelas, surge regularmente na sua pintura, que se desenvolveu numa linguagem muito própria logo desde o início.

Contava que, aos 14 anos, uma tia lhe ofereceu um cavalete e tintas a óleo. Estimulado pelo ambiente cultural de que gozava em casa e no Colégio Moderno, que frequentou, começa a usá-las. Ao mesmo tempo, como ator amador, participa em peças de teatro sob a direção de Manuel Lereno e António Manuel Couto Viana. Terminado o liceu, ingressa em Arquitectura, que na época exigia uma sólida aprendizagem de desenho de estátua a carvão. Em 1957 já conhece a obra de Picasso e de Matisse, e sobretudo de De Chirico e dos surrealistas, com quem partilha tantas afinidades.

Manuel Amado, já casado com Maria Teresa Rosa Viegas, fará o serviço militar em Angola, conhecendo então Cruzeiro Seixas, com o qual manterá profunda amizade. É em Angola que começa a pintar memórias de espaços e jardins, estimulado, segundo dizia, pelas “saudades das suas realidades longínquas”.

Durante a década de 60, nascem os seus três filhos: o músico Rodrigo Amado, a arquiteta Rita Amado e a jornalista Joana Amado (que trabalhou no PÚBLICO). Trabalha como arquiteto para os Hospitais Militares, Aeronáutica Civil e Hidrotécnica Portuguesa. Começa a expor com amigos, na Sociedade Nacional de Belas-Artes, na Junta de Turismo da Costa do Sol e na Galeria S. Mamede. Orgulhava-se de ter vendido o seu primeiro quadro a Mário Soares, em 1982.

Embora se tenha tornado mais conhecido como pintor, o certo é que a arquitetura nunca deixou de moldar o seu interesse pelo espaço pintado. Disse, a certa altura, que foi desenvolvendo os seus “caminhos das pinturas”, estações de comboios, interiores, exteriores, palcos e bastidores, na relação que todos estes temas possuem com a arquitetura. E que sentia um enorme prazer em trabalhar com tudo aquilo que era construção humana.

Em 1984, participa como ator na peça de Almada Negreiros, Antes de Começar, levada à cena no antigo CAM da Gulbenkian. A pintora Lourdes Castro contracena com ele, marcando o início de uma longa amizade entre ambos. A partir de 1986 a sua obra começa a internacionalizar-se, primeiro nos Estados Unidos, em Washington, e mais tarde em Londres, Paris, Boston ou Pequim.

Mantém-se fiel aos temas que lhe interessam: as casas vazias, com sinais de uma presença que se ausentou há pouco, os jardins imaculados, naturezas-mortas reduzidas ao essencial, e mesmo, numa das suas últimas grandes exposições, cenários de teatro, personagens de cartão recortado que refletem, como num espelho, a ausência serena que transparece em toda a sua pintura. Sobre essas pinturas inabitadas disse em entrevista ao PÚBLICO em 2007, a propósito da exposição Pintura, Pintura, no Centro Cultural de Cascais: “São sítios em que quase sempre não está ninguém, mas pode estar. São sítios utilizados pelas pessoas. Já não me lembro quem, mas alguém dizia o seguinte: ‘Percebo muito bem que o Manuel não ponha pessoas porque ele pinta o espaço, a luz, o sossego de um sítio. Se tivesse figuras, personagens, ia poluir a pureza do que se pretende'”. 


por Luísa Soares de Oliveira, in Público | 14 de outubro de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público 

Agenda
Festivais

Futuros da Liberdade 2024

Mala, Oficina das Artes da Ajuda, Jardim das Damas, Pavilhão Multiusos da Ajuda, Mercado da Ajuda 18 Abr a 21 Abr 2024

Ver mais eventos

Passatempos

Passatempo

"A GRANDE VIAGEM 2: ENTREGA ESPECIAL"

Em parceria com a PRIS Audiovisuais, oferecemos convites duplos para as antestreias agendadas para 21 de abril (domingo) às 11h00, em Gaia e Lisboa. Participe e habilite-se a ser um dos felizes contemplados!

Passatempo

Ganhe convites duplos para o ciclo de cinema da ANIMar 19

Em parceria com a Solar - Galeria de Arte Cinemática, oferecemos convites duplos para as próximas sessões de cinema da ANIMar 19 no Teatro Municipal de Vila do Conde, onde serão exibidos os filmes "Pesca do Bacalhau", "Å Seile Sin Egen SJØ (Vida Costeira)", "A Extraordinária Aventura do Zéca" e "Até Amanhã, Mário".

Visitas
90,869,919