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Vera Mantero é o destaque num GUIdance em que a mulher está no centro

Nove das 11 criações que vão ser apresentadas na 10.ª edição do festival de dança contemporânea de Guimarães, em fevereiro de 2020, têm a autoria de mulheres. 

"Os serrenhos do Caldeirão...", de Vera Mantero, no dia 12 de fevereiro de 2020, em Guimarães_Luís da Cruz


Vera Mantero é a coreógrafa em destaque, com dois espetáculos, mas o cartaz deste evento que começa a olhar para o seu legado inclui ainda nomes como Marlene Monteiro Freitas, Tânia Carvalho, Akram Khan e Marie Chouinard.

Desde 2011, o GUIdance desenrola-se ano após ano, em fevereiro, sempre com um tema orientador diferente. Se a edição de 2019 incidiu sobre a relação entre a dança contemporânea e outras formas de arte, a de 2020 tenta celebrar o papel do olhar e do pensamento feminino na criação artística. “A primeira inspiração para este tema surgiu do quadro The first supper, de Susan Dorothea White [1988], em que A Última Ceia representa mulheres de diferentes etnias. Nesta edição, a mulher está no centro”, revelou o diretor artístico, Rui Torrinha, durante a apresentação do evento, que vai decorrer entre 6 e 16 de fevereiro.

Não surpreende, por isso, que nove dos 11 espetáculos programados pela cooperativa do município de Guimarães para a cultura, A Oficina, sejam o fruto do trabalho de coreógrafas. A abertura, no dia 6, estará a cargo de Tânia Carvalho, com Onironauta, obra que vai ser apresentada às 21h30, no auditório principal do Centro Cultural Vila Flor (CCVF). Com sete corpos e um piano sobre o palco, essa criação, já exibida na Culturgest, em Lisboa, procura explorar o poder do sonho, explicou Torrinha.

No dia seguinte, Tânia Carvalho dá o lugar a Vera Mantero, outro nome consolidado da dança portuguesa, que precisamente há 20 anos lançou a sua estrutura de criação artística, O Rumo do Fumo. Guimarães vai acolher, às 21h30 de 7 de fevereiro, no CCVF, a estreia nacional da sua mais recente criação, Esplendor e Dismorfia, apresentada pela primeira vez no Festival d’Avignon (França), no ano passado. Criadora e intérprete, Mantero vai estar em palco com Jonathan Uliel Saldanha para uma “aventura marcada pela simbiose entre os dois corpos”.

“O nosso trabalho foi uma investigação sobre o que são monstros e metamorfoses corporais. Acabámos por chegar a uma metamorfose muito interessante”, salientou a artista, presente na apresentação do GUIdance por videoconferência. Ao contrário da apresentação em França, realizada ao ar livre, sob a luz do Sol, a exibição prevista para Guimarães vai decorrer num auditório e exigir a criação de um desenho de luz, acrescentou.

“Vibração feminina” 

Num GUIdance que celebra a dimensão feminina da criação artística, Vera Mantero vai ser a coreógrafa em destaque, sucedendo a Rui Horta e a Victor Hugo Pontes. Haverá, por isso, a apresentação de um segundo espetáculo, Os serrenhos do Caldeirão, exercícios em antropologia ficcional, agendado para 12 de fevereiro, às 21h30. Essa obra, de 2012, resultou de um projeto em que vários artistas convidados trabalharam com a população da serra algarvia e explora a ligação entre o quotidiano dessas gentes e arte. A escolha de Vera Mantero, afirmou Rui Torrinha, resultou de um “namoro antigo”, que celebra um “símbolo da eterna juventude” na dança nacional.

A “vibração feminina”, como classificou o diretor artístico do festival, prossegue no dia 13, com Bacantes – Prelúdio para uma purga, obra que garantiu a Marlene Monteiro Freitas o Leão de Prata de Veneza. Expressão de múltiplas contradições humanas, essa obra marca, após Jaguar, em 2017, o regresso a Guimarães de uma coreógrafa que, para Rui Torrinha, está a “reescrever a história da dança a nível internacional”. Um dia depois, surge em palco O que não acontece, criação de tensão permanente entre Sofia Dias e Vítor Roriz, criadores e bailarinos.

Além de celebrar a mulher, o GUIdance também quer celebrar o seu legado e as relações estabelecidas ao longo de uma década. Daí o regresso da Akram Khan Company. Depois de Kaash, em 2016, o coreógrafo britânico, treinado em kathak, um dos estilos da dança clássica indiana, apresenta Outwitting the devil, obra que se inspira no Épico de Gilgamesh para refletir sobre o potencial destrutivo do homem, no dia 8, às 21h30. Uma semana depois, no dia 15, a companhia da canadiana Marie Chouinard, artista com mais de 40 anos de carreira, vai-se estrear em Guimarães, com duas peças do seu repertório: The rite of spring e Henri Micheaux: Mouvements.

Também há palco para as novas gerações

Se o CCVF vai acolher os espectáculos dos criadores com mais estatuto, o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) vai ser o palco de quem quer desbravar novos territórios na dança. A black box do centro de arte contemporânea vai acolher, no dia 08, Rite of decay, de Joana Castro, e, no dia 15, Dias contados, de Elisabete Francisca. Ambas as peças, criadas a propósito do festival, estão ainda inacabadas. Presente na apresentação do GUIdance, Joana Castro revelou que o seu solo terá muito pouca luz. É um símbolo de um “corpo líquido”, que procura “desconstruir e reconstruir territórios em busca de novas formas de existência” e, ao mesmo tempo, se debate com questões como a morte, a destruição e o luto. Esse “luto” é também um manifesto contra as pressões por “produtos imediatamente acabados da sociedade capitalista” e a “negligência para com os artistas e a criação”.

Os outros dois espetáculos do festival – Caixa para guardar o vazio, de Fernanda Fragateiro e Aldara Bizarro (dia 15, no CIAJG), e Des Gestes Blancs, da companhia francesa Naif Production (dia 16, CCVF) – destinam-se a público mais jovem, enquadrando-se na missão do serviço educativo e de mediação. Mas os horizontes desse serviço vão além dos palcos nesta edição do GUIdance, afirmou a sua responsável, Fátima Alçada.

As escolas de dança de Guimarães vão poder assistir aos ensaios dos artistas e falar com eles acerca do seu processo de trabalho, salientou. Já as escolas secundárias do concelho vão receber as visitas dos embaixadores da 10.ª edição, Tânia Carvalho, Sofia Dias e Victor Roriz. “Esta série de atividades paralelas cria todo um chão para o futuro. Além da programação, é importante apostar na formação de públicos”, reiterou.

Já a vereadora para a cultura em Guimarães, Adelina Paula Pinto, realçou que o GUIdance, após nove edições com 82 espectáculos, dos quais 27 foram co-produções e 19 estreias absolutas, “continua a marcar a diferença” no panorama nacional da dança contemporânea.


por Tiago Mendes Dias in Público | 10 de dezembro de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público 

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