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100 000 pessoas de mais de 110 países deram nomes a exoplanetas e respetivas estrelas

No dia 17 de dezembro de 2019, foram anunciados numa conferência de imprensa em Paris, os nomes de mais de 110 conjuntos de exoplanetas e estrelas hospedeiras resultantes das campanhas IAU100 NameExoWorlds.


No âmbito das comemorações do 100º aniversário da União Astronómica Internacional (IAU100) em 2019, mais de 110 países organizaram campanhas nacionais, que levaram à participação direta de mais de 780 mil pessoas em todo o mundo, propondo e selecionando nomes para cada exoplaneta e respetiva estrela hospedeira.

O projeto IAU100 NameExoWorlds teve uma participação enorme e muito diversificada em todo o mundo, com o público a envolver-se nesta excelente oportunidade de sugerir nomes significativos, criativos e únicos para os sistemas planetários atribuídos aos seus respetivos países. Esta é apenas a segunda vez na história que uma campanha leva à nomeação de estrelas e exoplanetas. No total, foram propostos 360 000 nomes recebidos em mais de 110 países. O Comité Nacional de cada país reduziu estas propostas a uma lista final de candidatos nacionais, a qual foi depois posta à votação do público, tendo 420 000 pessoas votado nos seus candidatos preferidos. Este projeto terá um impacto duradouro, já que os nomes vencedores serão usados em paralelo com a nomenclatura científica existente, sendo dado crédito às respetivas pessoas, grupos ou instituições que sugeriram os nomes.

“Observações astronómicas durante a última geração levaram já à descoberta de mais de 4000 exoplanetas em órbita de outras estrelas que não o Sol — os chamados exoplanetas. O número de descobertas continua a duplicar a cada dois anos e meio, revelando uma população notável de novos planetas e colocando a própria Terra e o Sistema Solar em perspetiva. Estatisticamente, a maioria das estrelas no céu têm muito provavelmente planetas em sua órbita,” disse Eric Mamajek, co-presidente  do Comité de Direção do NameExoWorlds. “Apesar dos astrónomos catalogarem as suas novas descobertas usando designações do tipo de números de telefone, a verdade é que tem vindo a notar-se um interesse crescente, tanto entre os astrónomos como entre o público, para se atribuírem igualmente nomes “a sério”, tal como é feito para os corpos do Sistema Solar,” explica Mamajek.

O projeto global IAU100 NameExoWorlds foi criado com o intuito de sensibilizar o público sobre o nosso lugar no Universo, levando-o a refletir como é que a Terra seria potencialmente vista por um civilização de outro planeta. Uma vez que a IAU é a autoridade responsável por atribuir nomes e designações oficiais a corpos celestes, as celebrações IAU100 em 2019 foram usadas como ocasião especial para dar a cada país a oportunidade de nomear um sistema planetário, composto por um exoplaneta e a sua estrela hospedeira. O gestor de projeto do IAU100 NameExoWorlds, Eduardo Monfardini Penteado, disse que “a campanha IAU100 NameExoWorlds deu ao público a oportunidade única de ajudar a escolher o nome de mais de 100 novos mundos e respetivas estrelas, colaborando com a IAU num tema de nomes que poderá ser usado para nomear futuras descobertas nesses sistemas.”

As estrelas escolhidas para cada nação  são visíveis a partir desse território, sendo suficientemente brilhantes para poderem ser observadas através de pequenos telescópios. Para Portugal, o sistema planetário escolhido pela IAU foi HD 45652, situado na constelação do Unicórnio, a uma distância de 117 anos-luz da Terra. O exoplaneta deste sistema foi descoberto em 2008 por uma equipa de astrónomos europeus liderada pelo português Nuno Santos, do Instituto de  Astrofísica e Ciências do Espaço.

Os respetivos Comités Nacionais, seguindo a metodologia e linhas gerais definidas pelo Comité de Direção do IAU100 NameExoWorlds, foram os órgãos responsáveis em estabelecer as condições da participação pública, divulgando o projeto nos seus países e preparando o sistema de votação. A Campanha Nacional em Portugal foi organizada pelo Núcleo Interativo de Astronomia (NUCLIO), sob a chancela da Sociedade Portuguesa de Astronomia (SPA). Os nomes propostos deveriam ter inspiração em nomes, mitos ou conceitos ligados à cultura portuguesa. A primeira fase decorreu durante o mês de Outubro e recebeu mais de 50 propostas oriundas de escolas, universidades, clubes de astronomia e agremiações culturais. As oito melhores propostas foram selecionadas pelo Comité Nacional e colocadas à votação popular. Esta consulta recebeu mais de 5000 votos. O par de nomes escolhido foi Lusitânia e Viriato, uma homenagem ao antigo nome da região ocidental da Península Ibérica onde hoje está boa parte do território de Portugal e ao mais notável líder dos povos lusitanos. Os nomes vencedores foram propostos por mais de uma agremiação, a saber:

  • Escola Secundária Carlos Amarante, Braga
  • Escola EBI Gualdim Pais, Pombal
  • Agrupamento de Escolas do Castelo da Maia 

Os exoplanetas com nomes novos são normalmente gigantes gasosos e foram todos descobertos através de um de dois métodos de procura de exoplanetas: o método do trânsito — onde os planetas são observados a passar em frente das suas estrelas, bloqueando por isso parte da radiação estelar; e o método das velocidades radiais — onde medições cuidadas feitas nos espectros das estrelas revelam um ligeiro movimento de oscilação que tem origem na influência gravitacional dos planetas que as orbitam [1].

Alguns exemplos dos novos nomes da IAU para exoplanetas e respetivas estrelas incluem:

  • Irlanda: Os nomes de cães mitológicos (Bran, Tuiren) da lenda irlandesa do Nascimento de Bran, para o planeta HAT-P-36b (Bran) em órbita da estrela HAT-P-36 (Tuiren) na constelação dos Cães de Caça,
  • Jordânia: Os nomes de antigas cidades e áreas protegidas do sul da Jordânia, para o exoplaneta WASP-80b (Wadirum) em órbita da estrela WASP-80 (Petra) na constelação da Águia,
  • Malásia: Os nomes de pedras preciosas na língua malaia, para o exoplaneta HD 20868 b (Baiduri) em órbita da estrela HD 20868 (Intan) na constelação da Fornalha,
  • Burkina Faso: Os novos nomes para o planeta HD 30856 b (Nakambé) e a sua estrela HD 30856 (Mouhoun) referem-se aos nomes locais de rios importantes em Burkina Faso, algo bastante adequado, uma vez que o sistema se encontra na constelação de Erídano (o Rio).
Reconhecendo o Ano Internacional das Nações Unidas para as Línguas Indígenas (2019), as pessoas que falam estas línguas foram encorajadas a propor nomes nestes dialetos, sendo que algumas dezenas dos nomes selecionados têm etimologia indígena. Na Argentina, a proposta vencedora foi submetida por um professor e líder da comunidade indígena Moqoit. Os novos nomes para o planeta HD 48265 b (Naqaya) e para a estrela HD 48265 (Nosaxa) significam respetivamente “irmão-família-parente” (referindo-se a todos os seres humanos como “irmãos”) e primavera (literalmente, ano novo), na língua Moqoit.

“A IAU ficou muito satisfeita pelo interesse internacional tão alargado que foi gerado pela campanha NameExoWorlds,” comentou Debra Elmegreen, Presidente- eleita da IAU. “É muito gratificante ver que tantas pessoas em todo o mundo ajudaram a dar nomes a sistemas planetários, nomes esses com significados importantes nas suas culturas e patrimónios. Este esforço ajuda a unir todas as pessoas do mundo na exploração do Universo.”

O projeto NameExoWorlds foi organizado no âmbito do 100º aniversário da IAU em 2019. Com mais de 5000 atividades a decorrer em 140 países, milhões de pessoas de todo o mundo estão a celebrar as descobertas astronómicas que moldaram a ciência, tecnologia e cultura ao longo do último século, destacando-se a importância da astronomia como ferramenta para a educação, desenvolvimento e diplomacia. Para mais informações, consulte o website da IAU100.

“Ao longo de todo o ano, envolvemo-nos com o público através de várias atividades de astronomia, no âmbito do 100º aniversário da IAU. O Projeto Global NameExoWorlds constituiu a iniciativa perfeita para terminar um ano cheio de projetos virados para a sociedade e terá certamente um impacto importante nos anos vindouros,” conclui a Presidente do IAU, Ewine van Dishoeck.

Notas

[1] Este método foi aplicado pelos vencedores do Prémio Nobel da Física de 2019 “pela descoberta de um exoplaneta em órbita de uma estrela do tipo solar” em 1995. O exoplaneta, designado por 51 Pegasi b, tem o nome Dimidium, que lhe foi atribuído durante a primeira campanha pública NameExoWorlds de 2015.

Mais Informações

IAU

A IAU (International Astronomical Union) - União Astronómica Internacional - é uma organização que reúne mais de 13 500 astrónomos profissionais de mais de 100 países. A sua missão é promover e salvaguardar a astronomia em todas as suas vertentes, incluindo investigação, comunicação, educação e desenvolvimento, através da cooperação internacional. A IAU é também a autoridade internacionalmente reconhecida para atribuir designações aos corpos celestes e às suas características de superfície. Fundada em 1919, a IAU é a maior organização profissional de astrónomos do mundo.

Os membros do Comité de Direção do IAU100 NameExoWorlds são: 

  • Guillem Anglada-Escudé, Queen Mary University of London, Espanha
  • Piero Benvenuti, Former IAU General Secretary, Itália
  • John Brown Paul Strachan, Queen Mary University of London, Reino Unido
  • Lina Canas, IAU OAO Coordinator, Portugal
  • Sze-leung Cheung, Former IAU OAO Coordinator, Hong Kong, China
  • Debra Elmegreen, IAU President-Elect, EUA
  • Alain Lecavelier des Etangs, Institut d'Astrophysique de Paris, França (Co-Presidente)
  • Lars Lindberg Christensen, IAU Press Officer, Dinamarca
  • Eric Mamajek, Jet Propulsion Laboratory/California Institute of Technology, EUA (Co-Presidente)
  • Eduardo Penteado, IAU100 NameExoWorlds Project Manager, Brasil
  • Jorge Rivero González, IAU100 Coordinator, Espanha
  • Gareth Williams, Harvard Smithsonian Center for Astrophysics, EUA
  • Hitoshi Yamaoka, IAU NOC Japan, Japão
NUCLIO

O Núcleo Interativo de Astronomia (NUCLIO) é uma organização sem fins lucrativos criada por astrónomos profissionais com o objetivo de promover a divulgação e o ensino da ciência. O NUCLIO coordena o Programa Galileo Teacher Training (GTTP), um dos maiores programas de formação de professores do mundo, com a participação de mais de 100 países. Desde a sua génese, a organização já envolveu mais de 10000 estudantes e 3000 professores a nível nacional. Em Portugal, o NUCLIO é responsável por grandes projetos nacionais e internacionais de cariz educativo, como o Astronomers Without Borders, Dark Sky Rangers, Escolas Digitais, Frontiers, Go-Lab, GO-GA (Go-Lab Goes Africa), IASC - Campanha Internacional de Pesquisa de Asteroides, iDiverSE, IAU100, Inspiring Science Education, Our Space Our Future, OSOS, PLATON, PLOAD, Stories of Tomorrow e Science on Stage.

O Comité Nacional do NameExoWorlds Portugal é composto por:

  • André Moitinho de Almeida (Universidade de Lisboa)
  • Gustavo Rojas (Universidade de Lisboa/Núcleo Interativo de Astronomia)
  • João Gregório (Atalaia Group)
  • Margarida Serote Roos (Representante da Rede de Divulgação Científica do ESO em Portugal)
  • Rosa Doran (Núcleo Interativo de Astronomia) 
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