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Morreu Fernando Lemos, o surrealista que via na morte "outra forma de poesia"

Com a morte de Fernando Lemos perdemos uma das figuras maiores do século XX no Brasil e em Portugal no panorama artístico da fotografia, das artes gráficas, do design. O CNC organizou  uma importante homenagem ao grande artista, considerando o seu lugar fundamental no surrealismo.

O artista Fernado Lemos esteve em Portugal em junho de 2019. Foto: DR

 

Em Portugal, era reconhecido sobretudo pelo trabalho fotográfico de inspiração surrealista, mas era também pintor, poeta e artista gráfico. Fernando Lemos tinha 93 anos. 

O fotógrafo, artista plástico e designer gráfico Fernando Lemos, de 93 anos, morreu esta terça-feira, em São Paulo, no Brasil. 

O artista de nacionalidade brasileira, mas nascido em Portugal, morreu numa unidade hospitalar onde estava internado. 

Esta figura marcante da arte moderna, pertencente à terceira geração de modernistas portugueses, estava no Brasil desde 1953, mas voltou a Portugal, em 2019, para uma série de exposições. 

Referência da cultura portuguesa e brasileira, Fernando Lemos é reconhecido, em Portugal, sobretudo pela fotografia de inspiração surrealista e, no Brasil, pela pintura e desenho abstrato, mas também pelas artes gráficas e pela fotografia, que sempre o marcou. 

Em 2004 foi-lhe atribuído o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique e elevado ao grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em 2018. 

Em entrevista à Renascença, em junho, Fernando Lemos dizia que a idade "é uma forma de provocação”. A seguir, a explicação: “Você é como um relógio que se adianta e fica adiantado à espera. Você tem de ir à procura do futuro que você nunca pode encontrar”. Num português já embebido de sotaque brasileiro, continuou o raciocínio: “A idade é uma forma de você ir continuando o seu próprio tempo como um relógio. Nós hoje somos o futuro de ontem”. É aqui que a palavra entra: “A morte é outra forma de poesia, porque nos leva, porque não nos pode deixar de levar. É obrigação.” 

“A idade para mim não existe. Há um tempo de corpo. Esse tempo é uma espécie de crise avançada. A velhice é uma forma transparente que faz aparecer todo o passado; é um video, uma lembrança viva de tudo o que aconteceu, porque não volta", concluiria. 

Marcelo recorda "grande artista" do surrealismo e modernismo português
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou hoje a morte do fotógrafo e artista plástico Fernando Lemos, considerando-o um dos últimos grandes artistas do surrealismo e modernismo português. 

“Foi com grande pesar que recebi a notícia da morte de Fernando Lemos, um dos últimos grandes artistas do surrealismo e modernismo português”, afirma Marcelo Rebelo de Sousa, num comunicado publicado no ‘site’ da Presidência da República Portuguesa. 

Para o Presidente da República, “será certamente difícil não conhecer pelo menos uma parte do multifacetado talento de Fernando Lemos, cuja obra percorreu a pintura, a escrita, a fotografia, o desenho, encenações figurativas, design e até publicidade”. 

“Artista mutável, transfigurador do real e da sombra, a sua obra (e é inevitável lembrar em particular a fotografia e o retrato) tem tanto de ambiguidade difícil de catalogar como mero abstracionismo, como de familiaridade quando os objetos retratados eram os rostos de Alexandre O’Neill ou Sophia Mello Breyner, Jorge de Sena, Mário Cesariny, Helena Vieira da Silva, Hilda Hilst, Arpad Szenes, e muitos outros”, salienta. 

Marcelo Rebelo de Sousa recorda a decisão de Fernando Lemos ter ido viver para o Brasil, nos anos de 1950, mas sem nunca quebrar a ligação com Portugal, onde nas décadas seguintes continuou a apresentar os seus trabalhos, na Sociedade Nacional de Belas Artes, na Fundação Calouste Gulbenkian e em diversas galerias, culminando, nos últimos anos, em mostras em instituições como a Fundação Cupertino de Miranda e o Palácio Galveias/Câmara de Lisboa, no Museu Arpad Szenes - Vieira da Silva, com a Fundação EDP/MAAT, no Museu Coleção Berardo. 

A este propósito, Marcelo Rebelo de Sousa lembra a última grande exposição de Fernando Lemos, na Cordoaria Nacional, há poucos meses, dedicada exclusivamente ao design gráfico, que esteve patente entre junho e outubro, por iniciativa do Museu do Design e da Moda (MUDE). 

Ministra lamenta morte de alguém a quem a Cultura muito deve
A ministra da Cultura, Graça Fonseca, disse que “lamenta profundamente” a morte do fotógrafo, pintor e ‘designer’ gráfico Fernando Lemos, de 93 anos, ocorrida hoje em São Paulo, Brasil, especificando que a cultura portuguesa tem-lhe várias dívidas. 

“A Cultura portuguesa deve-lhe a experimentação na palavra, na imagem, na edição, mas igualmente na resistência à ditadura e na ousadia de não se submeter a formas, num compromisso artístico e ético inabalável”, declarou a ministra, em depoimento enviado à agência Lusa. 

A responsável pela pasta da Cultura recordou também que Fernando Lemos, natural de Lisboa, onde estudou na Escola António Arroio, fez parte, inicialmente, do movimento surrealista português. 

No seu texto, Graça Fonseca lembrou que Lemos, “em 1952, antes do seu exílio no Brasil, por oposição à ditadura salazarista, participou numa exposição que reuniu trabalhos seus em conjunto com os artistas Marcelino Vespeira e Fernando Azevedo, na Casa Jalco. No mesmo ano dirigiu, com José-Augusto França, a Galeria de Março. Participou também, em 1959, na Exposição 50 Artistas Independentes da Sociedade Nacional de Belas-Artes e, em 1961, na II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian”. 

A ministra considerou ainda que, apesar de “um percurso artístico longo e diverso nas abordagens”, a obra de Lemos “nunca coube numa única definição”. 

A este propósito, nas palavras de Graça Fonseca, Fernando Lemos “dizia ser a soma de ‘atividades que têm vários nomes’, fotógrafo, pintor, desenhista, ‘designer’, mas também escritor, poeta, pensador, num permanente desejo de experimentar linguagens, técnicas e expressões”. 



por Lusa e Renascença | 17 de dezembro de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença

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