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"Mundo" de Florbela Espanca atrai investigadores estrangeiros a Vila Viçosa

Fotografia de Miguel Manso


A criação da casa-museu “é uma batalha que já tem barbas”, marcada por “muitas dificuldades, tanto por parte da família” detentora da casa, “como por parte da edilidade, que umas vezes tem verba, outras vezes não tem”, afiança Noémia Serrano, vice-presidente do Grupo Amigos de Vila Viçosa.

Turistas e investigadores estrangeiros rumam a Vila Viçosa (Évora) em busca do “mundo” de Florbela Espanca, poetisa natural da terra, onde existe o desejo antigo de construir uma casa-museu para mostrar o seu espólio.

Quase num dos extremos da principal praça da vila, ergue-se o busto de Florbela Espanca (1894-1930), um dos marcos evocativos da “filha da terra”. O cineteatro ou a biblioteca “batizados” com o seu nome, assim como a rua onde está uma casa onde viveu, são outros dos sinais. É nesta casa, com evidentes sinais de degradação, apontada como futura casa-museu, que está escrito na fachada, por baixo de uma caricatura da poetisa, o conhecido verso “E é amar-te, assim, perdidamente...”.

“Existe um carinho muito grande” por Florbela na sua “terra natal”, diz à agência Lusa Noémia Serrano, vice-presidente do Grupo Amigos de Vila Viçosa, que detém um “espólio valioso” com “cerca de 100 peças” da poetisa, legado pelo seu terceiro e último marido, Mário Lage. No país, “penso que o nosso espólio é o segundo, em termos de riqueza”, destaca, indicando que “o primeiro está na Biblioteca Nacional, em Lisboa”, e que, em Matosinhos, onde Florbela viveu os seus últimos anos e onde morreu, “também existe alguma coisa”.

O nome da poetisa, que funciona como “chamariz” turístico local, “quebra” as “fronteiras” do concelho alentejano e mesmo do país e atrai investigadores vindos de longe.

“Florbela Espanca é uma grande poetisa nacional” e tem “um peso fundamental para a cultura nacional e também de Vila Viçosa”, assinala Luís Nascimento, vice-presidente da câmara municipal. Interessados em consultar o espólio, chegam “muitos mestrandos e doutorandos” de universidades do Brasil, país onde “Florbela é mesmo muito importante”, conta Noémia Serrano. E investigadores “de Oxford”, em Inglaterra, ou de “S. Francisco”, nos Estados Unidos, e “de várias universidades” nacionais também “rumam” à vila, acrescenta.

Peças do Grupo Amigos de Vila Viçosa e manuscritos do acervo da poetisa pertencentes à Fundação da Casa de Bragança, que foram adquiridos no tempo do então presidente do conselho administrativo e, agora, Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, estão expostos no Paço Ducal de Vila Viçosa, até ao próximo dia 12, numa mostra comemorativa da escritora.

“Temos manuscritos do “Dominó Preto” que foram adquiridos” quando Marcelo Rebelo de Sousa foi “presidente do conselho administrativo da Fundação da Casa de Bragança”, a par de “manuscritos” e do próprio “berço de Florbela”, do Grupo Amigos de Vila Viçosa, conta Tiago Salgueiro, técnico superior do Museu-Biblioteca da Casa de Bragança.

Num congresso recente sobre a escritora, investigadores brasileiros visitaram a mostra e “ficaram extremamente emocionados por verem estes materiais” escritos pelo “próprio punho” de Florbela Espanca, relata.

“Isto dá-nos uma ideia daquilo que poderia vir a ser o impacto da casa-museu num futuro próximo. Portanto, o que desejamos é que o projeto se possa vir a concretizar a curto prazo”, diz Tiago Salgueiro, que, como investigador e membro de um grupo de cidadãos, lançou, há uns anos, um abaixo-assinado em defesa da casa-museu e tem identificado coleções particulares com “objetos relacionados com Florbela Espanca”.

Em casas pela vila, descobriu manuscritos, pinturas de João Maria Espanca, pai da escritora, “a banheira onde a Florbela tomou banho” e respetiva “botija de gás” e até “uma escrivaninha que também terá pertencido à família e à própria Florbela”. “Há um espólio muito considerável que corre o risco de se perder”, alerta, defendendo que a casa-museu “é fundamental” para proteger as peças e reuni-las num “espaço digno”, que permita “a fruição pública” e seja motivo de atração turística.

“Muitos dos proprietários estão disponíveis para fazer esse depósito a longo prazo”, reunindo “todas essas coleções num espaço que, efetivamente, sirva de homenagem à Florbela Espanca e à sua obra literária”, garante Tiago Salgueiro.

Mas, ao longo dos anos, o avanço do projeto tem “sido complicado” porque “não tem existido vontade política”, critica.

A criação da casa-museu “é uma batalha que já tem barbas”, marcada por “muitas dificuldades, tanto por parte da família” detentora da casa, “como por parte da edilidade, que umas vezes tem verba, outras vezes não tem”, afiança Noémia Serrano.

Mas, desta vez, a porta-voz do Grupo Amigos de Vila Viçosa acredita no sucesso das negociações: “Penso que está tudo a conseguir-se para que o objetivo seja atingido” e o grupo “terá todo o gosto em possibilitar a mostra do espólio”.

O vice-presidente da câmara lembrou que “já há alguns anos” que o município contacta com “os proprietários do edifício onde viveu” a poetisa: “Continuamos em conversações, temos em orçamento a rubrica para poder adquirir esse edifício, estamos a aguardar respostas para que essa aquisição possa ser feita”.

A casa-museu “enriqueceria bastante” Vila Viçosa porque “muitos dos visitantes que procuram” a vila e o concelho “procuram também Florbela” e há “pouco para mostrar”, quando, afinal, “há muito espólio guardado”, reconheceu.

A autora do “Livro de Mágoas”, “Livro de Soror Saudade”, “Charneca em Flor” ou “Juvenília” é considerada uma das mais brilhantes poetisas de língua portuguesa de todos os tempos.

A poetisa nasceu em Vila Viçosa, a 8 de dezembro de 1894, e faleceu em Matosinhos, de 7 para 8 de dezembro de 1930, com 36 anos. Florbela Espanca foi sepultada naquela localidade, mas os seus restos mortais foram depois trasladados para o cemitério de Vila Viçosa.


Lusa / Público | 5 de janeiro de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

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