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Pessoa, Saramago, Doce e Dulce Maria Cardoso inspiram argumentos do cinema português

O ICA tem já concluído o catálogo de produção do cinema português subsidiado (e não só...) para os próximos tempos. A tendência mais forte são as histórias verdadeiras e as adaptações literárias...

O Ano da Morte de Ricardo Reis vai ter uma adaptação cinematográfica© Global Imagens


O Instituto do Cinema e Audiovisuais (ICA) já revelou quais serão os filmes e telefilmes com apoio estatal, alguns em fase de conclusão e outros em pré-produção. Nos próximos tempos iremos ter uma série de regressos estimulantes, de Hugo Vieira da Silva a João Mário Grilo, passando por João Pedro Rodrigues, João Botelho, Margarida Cardoso e Cláudia Varejão. O que aí vem de cinema português apresenta alguns tipos de tendências, a maior das quais a aposta em romances relevantes da nossa literatura.

Por exemplo, João Botelho tem O Ano da Morte de Ricardo Reis, a partir de José Saramago. Trata-se do regresso de Botelho ao preto & branco e poderá vir a ser um sucesso de bilheteiras, sobretudo se atendermos ao facto de o livro ser matéria de estudo no ensino secundário.

João Mário Grilo regressa de um período de hiato com Campo de Sangue, a partir de Dulce Maria Cardoso. O filme já foi rodado e no elenco encontramos Carloto Cotta, Luísa Cruz e a omnipresente Alba Baptista.




A literatura está também presente na escrita do argumento de Surdina, filme de Rodrigo Areias, uma comédia amarga sobre uma "dor de corno" em Guimarães. 
O argumentista é Valter Hugo Mãe e o filme está com data de estreia para abril e se não for cancelado devido ao coronavírus.



Quanto às co-produções, também aí há um romance famoso em adaptação, O Último Cabalista de Lisboa, de Richard Zimler com Bille August a realizar e Jeremy Irons previsto como estrela.

O filme com maiores possibilidades comerciais chama-se Bem Bom, de Patrícia Sequeira. É a história das Doce, um pouco para aproveitar a euforia em torno de Variações, o grande favorito aos Prémios Sophia. As rodagens já terminaram e estreia no verão, estando depois prevista uma série. Sabe-se que a história não aborda a presença de Ágata no grupo e que a versão para cinema acaba com o momento do Festival da Canção, onde o quarteto inventado por Tózé Brito cantou Bem Bom. No catálogo do ICA este projeto aparece nos apoios do Audiovisual às séries. Bem Bom é um exemplo da dominância das histórias verdadeiras nestes próximos tempos.

Das novidades destaca-se ainda a mudança de nome de Sombra, de Bruno Gascon, baseado no caso do desaparecimento de Rui Pedro. O filme chama-se agora Sombra: Uma Mãe Sabe e está em fase de finalização, podendo estrear a partir de novembro. O elenco é composto por Miguel Borges, Vitor Norte, Joana Ribeiro e Ana Moreira, aqui no papel da mãe que não desiste de lutar para que a investigação em torno do desaparecimento do filme não seja esquecida. Ana Moreira, que é também mãe em Nunca Nada Aconteceu, de Gonçalo Galvão Teles, outra ficção baseada num caso que deixou Portugal angustiado: o pacto suicida de jovens lisboetas no viaduto Duarte Pacheco, em 2001. Mais um filme com a presença de Alba Baptista, atriz que ainda este ano protagoniza Warrior Nun, série da Netflix.

Na lista dos próximos projetos, o ICA divulgou já mais dados de O Último Animal, de Leonel Vieira, uma co-produção com o Brasil, projeto há muito adiado e que nos relata uma história de criminalidade no seio de uma trama que lida com o submundo do jogo do bicho e da corrupção no Rio de Janeiro. Joaquim de Almeida é um dos protagonistas e, pelas imagens a que o DN teve acesso, percebe-se que poderá surpreender com uma escala ao nível de "blockbusters" como Tropa de Elite ou de Pacificado, de Paxton Winters, filme da 20th Century Studios que venceu San Sebastián.

Desta fornada de filmes para 2020/2021, deposita-se grandes esperanças ainda em Pathos, de Joaquim Pinto e Nuno Leonel, cineastas de E Agora? Lembra-me... Desta vez, lidam com ficção e imaginam uma história de maternidade em três tempos. Talvez faça sentido para Cannes se o festival francês não for cancelado...

O cinema de terror tem já garantido Faz-me Companhia, de Gonçalo Almeida, história de fantasmas com subtexto lésbico e duas belas interpretações de Cleia Almeida e Filipa Areosa. Foi já uma das sensações do último MOTELx. Cinema de qualidade de género que revela um cineasta capaz de filmar com economia de meios e nunca perder uma tensão rara numa obra em apenas um décor, neste caso uma piscina.

A Leopardo Filmes está também em produção com Longe da Estrada, de Hugo Vieira da Silva, adaptação da banda-desenhada celebrada de Christophe Gautier e Maximilien Le Roy, onde se evoca o universo do pintor Gaugin no Taiti. Promete muito, tal como os filmes de Cláudia Varejão, Amor Fati (já acabado) e Lobo e Cão (em preparação). Seguem-se tempos de consagração para uma cineasta em fase de aclamação.

Sem tantos favores da crítica está Vincente Alves do Ó, já em fase de acabamento de Amadeo, o "biopic" de Amadeu Souza Cardoso, com Rafael Morais como protagonista, mais uma produção de Pandora da Cunha Teles, talvez a produtora mais atarefada em Portugal.



Mas se Varejão tem dois filmes, o que dizer de Sérgio Graciano? O cineasta de Assim Assim tem prontos para estrear 4 obras: A Impossibilidade de Estar Só, drama feminino sobre uma viagem por Portugal de duas jovens, O Som que Desce da Terra, com o par Gabriela Barros e José Condessa; O Protagonista, (co-realizado por Marco Medeiros), viagem pelo interior de uma produção teatral caótica onde há um figurante que julga ser o ator principal e, ainda em rodagem, Salgueiro Maia - Implicado, biografia do militar português que foi preponderante na Revolução dos Cravos.

Na secção dos "próximos projetos", há títulos que chamam a atenção mas que ainda nem surgem com sinopse ou ficha técnica. Nesse aspeto, impossível não ficar curioso com Um Príncipe no Quartel, ficção de João Pedro Rodrigues, cineasta que nos documentários tem também subsídio para filmar O Sorriso de Afonso e Onde Fica esta Rua (este a meias com o companheiro João Rui Guerra da Mata), todos projetos com a chancela do coletivo Terratreme.

Surpresa é encontrar Margarida Cardoso nas animações com Caderno de Memórias Coloniais, mas também em imagem real com 77.

Não tão surpreendente é ainda estar nesta lista O Sentido da Vida, de Miguel Gonçalves Mendes, eternamente em produção mesmo tendo como co-produtores as companhias de Pedro Almodóvar e a do brasileiro Fernando Meirelles.

Depois, talvez ainda em fase de pré-pré produção teremos mais João Canijo, agora a explorar os males da burguesia portuguesa em As Filhas do Enforcado. Contudo, Canijo está ainda na lista com outro título, Minho, rodado durante a pré-produção do anterior Fátima. Trata-se de mais uma aposta do produtor e exibidor Pedro Borges, também produtor de Bruxa, da luso-francesa Cristéle Alves Meira, a ser rodado em Trás-os-Montes.

O consagrado Luís Filipe Rocha aparece com O Teu Rosto Será o Último, desta vez para a produtora Ukbar, enquanto que O Lobo Solitário marcará a estreia de Filipe Melo, o pianista e às vezes humorista. O invariável Albert Serra volta a aliar-se ao produtor Joaquim Sapinho no melodrama I am an Artist e Eugène Green vem a Portugal para rodar A Árvore do Conhecimento, neste caso com a produção da O Som e a Fúria.

A Terratreme terá também temporada em cheio com os novos de André Godinho, Uma Rapariga Imaterial; Carlos Conceição, Nação Valente; Susana Nobre, Cidade Rabat; Leonor Teles, Nervo; e Pedro Pinho com Amanhã Será Outro Dia. Uma fartura! Outra das produtoras jovens bem ativa é a Primeira Idade que avança com Primeira Idade, de Alexander David, com Ágata Pinho e Joana Ribeiro, bem como O Pátio do Carrasco, de André Gil Mata e Légion Étrangée, de Cíntia Gil, mais conhecida ultimamente por ser diretora de festivais ativistas. A Promenade de Justin Amorim aposta no estimulante Felipe Bragança, cineasta brasileiro que veio a Portugal assinar o ainda muito secreto Noite em Claro.

De telefilmes que depois se transformam em filmes com direito a estreia, chama-se a atenção o regresso de outro cineasta sem sorte nos subsídios do ICA, Artur Serra Araújo, com Dulcineia, onde Alba Baptista volta a marcar presença. Num outro registo e a pensar nas bilheteiras surge Hugo Diogo com O Estripador de Lisboa.

Por fim, nos projetos que beneficiam do apoio do Cash Rebate, forma de produtores estrangeiros conseguirem descontos fiscais, sabe-se que Bruno Gascon vai ainda dirigir Evadidos, onde contará com nomes de atores famosos internacionalmente, tal como Mário Barroso que já dirigiu Maria de Medeiros em A Ordem Moral (título provisório), história de Maria Adelaide Coelho da Cunha, proprietária do Diário de Notícias em 1918 que se envolveu com o motorista, 26 anos mais novo do que ela. Filme perfeito para ter a sua estreia mundial em Locarno ou Toronto...

Nessas mesmas listas constam Mamã, o novo de Gabriel Abrantes (que se estreia nas longas como produtor) e Não sou Nada, de Edgar Pêra, derivação sobre Fernando Pessoa com Miguel Borges a protagonizar o nosso poeta maior, estando neste momento com a rodagem em "stand-by" devido ao surto do Covid 19 no norte.

 


por Rui Pedro Tendinha, in Diário de Notícias | 25 de março de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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