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Classificação urgente do arquivo do Diário de Notícias

Requerimento dirigido à Direcção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas diz que o arquivo histórico do jornal está em risco devido à situação financeira da empresa proprietária. Jorge Sampaio, Ramalho Eanes e Pacheco Pereira estão entre os subscritores.

As antigas instalações do Diário de Notícias na Avenida da Liberdade, em Lisboa [Rui Gaudêncio]

Um grupo de personalidades portuguesas, entre as quais ex-Presidentes da República, historiadores e jornalistas, vai pedir esta semana ao Ministério da Cultura (MC) a “urgente classificação” do arquivo do Diário de Notícias (DN), jornal de referência português fundado em 1864.

O requerimento, subscrito por Jorge Sampaio, António Ramalho Eanes, Fernando Rosas ou Pacheco Pereira, quer “salvar” o acervo documental que se encontra actualmente “arrumado num armazém, inutilizável e em risco de poder vir a desaparecer no contexto da crise que atravessa a empresa proprietária, o grupo Global Media”, lê-se no documento a que o PÚBLICO teve acesso. Tal como noutras empresas do grupo, vários trabalhadores do DN encontram-se actualmente em layoff, tendo a direcção do DN apresentado a sua demissão em Abril – a actual, de Leonídio Paulo Ferreira, é interina.

Perante a difícil situação financeira do grupo empresarial, o arquivo com 150 anos corre risco de dissolução, explica o historiador Fernando Rosasporta-voz do grupo de cidadãos. “O DN é o jornal mais antigo do continente, com um espólio absolutamente único no país. Tal como dizemos no documento, tem originais de Eça de Queirós, de Bordalo Pinheiro, do rei D. Carlos, além de toda a riqueza fotográfica”, acrescenta este investigador que conhece bem o arquivo. “O destino da empresa não está claro. O jornal pode ser vendido. Tem credores. Isso torna o arquivo completamente vulnerável.”

Composto de 55 mil edições diárias, o arquivo só está microfilmado a partir de 1970, acrescenta o documento. Guarda um milhão de fotografias, 3,5 milhões de negativos fotográficos, 50 mil chapas de vidro, zincogravuras e provas de contacto. Entre os mais de 70 ilustradores históricos do jornal estiveram nomes como Rafael e Columbano Bordalo Pinheiro, Stuart Carvalhais, Almada Negreiros ou ainda os reis D. Carlos e D. Amélia.

O pedido de classificação é dirigido à Direcção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas (DGLAB), o organismo do MC que tutela o Arquivo Nacional Torre do Tombo. Pede a protecção do arquivo histórico do jornal “como património arquivístico protegido, com vista à sua salvaguarda, organização e futuro acesso público”, “atendendo aos riscos de extravio, deterioração e até destruição que neste momento o espreitam”.

Entre os mais de 20 signatários, encontram-se também a historiadora Irene Pimentel, os escritores Francisco José Viegas e José Luís Peixoto ou os jornalistas Adelino Gomes e Mário Mesquita, tendo o último dirigido o DN entre 1978 e 1986.

Arquivo não está à venda

“O maior arquivo privado em Portugal está vivo, seguro e acessível ao público. Mas não está à venda”, defende Afonso Camões, administrador do grupo Global Media, acrescentando que parte deste arquivo físico e digital é usada diariamente pelos jornalistas e outra, guardada em instalações climatizadas, é acessível mediante pedido. A administração lembra que o DN é apenas um dos títulos centenários da imprensa portuguesa que integra este grande arquivo privado, mas há outras colecções importante, como as do Jornal de Notícias e do Açoriano Oriental, o jornal mais antigo do país, ou também periódicos mais recentes já desaparecidos, como as revistas Vida Mundial Opção.

Recentemente, continua Afonso Camões, a Global Media assinou um protocolo com a Câmara Municipal de Gaia para a transferência para as instalações do Arquivo Sophia de Mello Breyner das colecções em papel de jornais e revistas actualmente armazenadas pelo grupo. “Estamos igualmente em conversa com a Torre do Tombo para a guarda e conservação de alguns materiais únicos da fotografia do DN, como daguerreótipos em vidro, mas a propriedade será sempre nossa”, sublinha o administrador.

O historiador Fernando Rosas diz que não se trata de expropriar o arquivo. “O que queremos é que a direcção-geral abra um processo para a classificação do arquivo como património arquivístico de interesse nacional e ninguém lhe pode mexer a partir daí. É a mesma coisa do que acontece com os monumentos, mas não se trata de alterar a sua propriedade.”

Silvestre Lacerda, o director-geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, diz que há alguns anos que acompanha o destino deste importante arquivo, nomeadamente quando mudou de instalações e saiu do edifício histórico da Avenida da Liberdade, em Lisboa. Sobre o pedido de classificação do espólio do jornal, o também director da Torre do Tombo explica que a lei prevê que esta possa ser requerida por um grupo de cidadãos, entre outras formas de solicitação: “Quando essa iniciativa chegar à direcção-geral a justificar a necessidade de classificação, vamos analisar a situação e decidir se se justifica a abertura do processo de classificação, ouvindo naturalmente todas as partes interessadas.”

 


por Isabel Salema, in Público | 18 de maio de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

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