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Vamos "desconfimfar": o Festival de Marionetas regressa a Lisboa

De 5 de agosto a 5 de setembro, o Festival de Marionetas apresenta oito espetáculos em vários espaços da capital. Uma edição reduzida mas com muita determinação.

'Ressacs'.© Direitos reservados 'La Melancolía del Turista'.© Direitos reservados 'Entremundos'.© Direitos reservados 'O Triângulo Cor-de-Rosa.© Direitos reservados 'A Caminhada dos Elefantes'.© Direitos reservados


"Os nossos objetos podem falar por nós, quando já cá não estivermos. Ou quando nos recusamos a falar, ou por muitas outras ausências. Então porque não poderíamos nós falar por eles?" A pergunta é feita por Shaday Larios, um dos elementos da companhia Oligor y Microscopía, e é com ela que abrimos a porta a mais uma edição FIMFA - Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas: uma edição diferente de todas as outras, feita no meio de uma pandemia, e dominada, precisamente, pelo teatro de objetos. Objetos que nos contam histórias. Ou que nos põem a contar histórias.

O festival deveria ter acontecido em maio, como habitualmente. "Tínhamos preparado uma edição super especial para comemorar os 20 anos do FIMFA, estávamos contentes porque íamos abrir no Teatro Nacional, havia uma série de projetos que finalmente íamos conseguir apresentar no festival, ia ser uma grande festa", conta Rute Ribeiro, que codirige o FIMFA com Luís Vieira. Só que em março os teatros e os países fecharam devido à covid-19.

A partir daí foi "um stress e uma ansiedade enorme". É cancelado? Não é? Vai ser possível? Não vai? Apesar de serem forçados a tomar a decisão de cancelar o festival em maio, assim que o país começou a desconfinar, Luís Vieira e Rute Ribeiro decidiram que tinham de fazer alguma coisa: "Não podíamos ficar parados", diz Luís, determinado. "Nós queremos continuar o projeto do festival e os artistas precisam de voltar à cena, temos de criar condições de segurança para que os artistas reencontrem os públicos, por isso decidimos avançar e fazer uma edição de verão."

Um pouco a medo, porque o futuro é incerto, mas com vontade de vencer o vírus: "Vamos cumprir todas as regras, as salas têm lotação reduzida, haverá desinfeção dos espaços, isso tudo. E provavelmente será estranho olhar para a plateia e ver toda a gente de máscara. Mas não queríamos ter um ano sem FIMFA", diz Luís.

A grande festa fica, portanto, adiada para 2021. Para já, temos um "Descon'FIMFA": uma edição com apenas oito espetáculos que se estendem durante um mês. "É um programa feito com algumas das companhias que já estavam previstas, com um mínimo de recursos, apenas com as companhias estrangeiras que poderiam viajar e com os espetáculos que já estávamos a coproduzir", explica Rute.

Um festival para pensar no mundo
Do estrangeiro vêm apenas duas companhias, que abrem e fecham o festival.

Os Irmãos Oligor são velhos conhecidos dos espectadores do festival, tendo trazido, primeiro, o espetáculo Las Tribulaciones de Virginia (em 2010) e, depois, já como Oligor Y Microscopía (Espanha-México), La Máquina de la Soledad (em 2015). "Muitas pessoas nos perguntavam quando é que eles voltavam", conta Rute Ribeiro. Pois voltam este ano, não só com La Máquina de la Soledad mas também com o espetáculo novo La Melancolia del Turista, na abertura do Descon'FIMFA.

Teatro documental - a que a companhia chama também teatro-cinema -, estes são espetáculos que partem de objetos que são encontrados (por exemplo, cartas de namorados ou postais de quem passa férias) e que dão depois origem a pesquisas, entrevistas, viagens, leituras. O resultado será verdade ou será ficção?

A fechar, Agnès Limbos (Bélgica), "a rainha do teatro de objetos", que com o trompetista Gregory Houben criou Ressacs. Este espetáculo fecha uma trilogia dedicada aos amores e desamores de um casal. Depois de Ô! (a paixão) e de Troubles (os problemas da vida em comum), chega agora Ressacs: "Um casal em crise, à deriva num pequeno barco em alto-mar. Presos na tempestade, eles perderam tudo: a casa, o carro comprado a crédito, o jardim francês e o whisky às 18.00. O banco ficou com tudo." "É um espetáculo com grande humor mas para nos fazer pensar em tudo o que se passa", explica Rute Ribeiro.

As histórias por trás do "triângulo cor-de-rosa"
Entre os espetáculos nacionais, o destaque vai para a estreia de O Triângulo Cor-de Rosa, de André Murraças. O autor há muito que se interessa pela história LGBT e isso tem-se refletido em muitos dos seus trabalhos. Neste caso, Murraças foi à procura das histórias dos homossexuais que foram vítimas do nazismo, colocados em campos de concentração e identificados com uma cruz cor-de-rosa.

"Há muito tempo que ando a investigar quem foram estes homens. Na história do nazismo eles são muito esquecidos, porque não foram milhões como os judeus. Mas eles existiram", conta ao DN André Murraças. "Eram considerados imorais. Os homossexuais foram perseguidos de maneira brutal, foram presos e submetidos a jogos sádicos e outros tipos de tortura." Os poucos sobreviventes tiveram vidas muito complicadas depois desta experiência. "Fecharam-se no seu mundo, não comunicaram com ninguém. Só nos anos 70 e 80 é que começaram a surgir alguns relatos na primeira pessoa."

No espetáculo, totalmente concebido por Murraças, ele é uma espécie de "mestre-de-cerimónias", guiando-nos, primeiro, "pela Berlim dos anos 20 e por todo aquele ambiente de cabaret, de liberdade artística e sexual que se vivia e que depois foi interrompida pelo regime nazi", e depois, através de objetos - fotografias, cartas, sapatos, etc. -, irá dando voz às histórias desses homens. Uma maneira também de assinalar os 75 anos do final da Segunda Guerra Mundial.

Esta é a programação completa do Descon'FIMFA:

La Melancolía del Turista, por Oligor y Microscopía (Espanha-México)
Teatro do Bairro
5 a 8 de agosto às 21.30 (qua a sáb)
8 e 9 de agosto às 19.00 (sáb, dom)

La Máquina de la Soledad, por Oligor y Microscopía (Espanha-México)
Teatro do Bairro
12 a 15 de agosto às 21.30 (qua a sáb)
15 de agosto às 19.00 (sáb)

O Triângulo Cor-de-Rosa, de André Murraças (Portugal) – ESTREIA
Teatro do Bairro
20 a 22 de agosto às 21.30 (qui a sáb)
23 de agosto às 19.00 (dom)

Este não É o Nariz de Gogol, mas Podia Ser... com Um Toque de Jacques Prévert, por A Tarumba (Portugal)
Teatro do Bairro
26 e 27 de agosto às 21h30 (qua, qui)

Uma Coisa Longínqua, por Teatro de Ferro (Portugal) – ESTREIA
Teatro Taborda
28 e 29 de agosto às 21.30 (sex, sáb)
30 de agosto às 16.30 (dom)

A Caminhada dos Elefantes, por Formiga Atómica (Portugal)
Teatro do Bairro
29 e 30 de agosto às 19.00 (sáb, dom)

Entremundos, por PIA - Projetos de Intervenção Artística (Portugal)
Castelo de São Jorge
29 e 30 de agosto às 17.30 (sáb, dom)

Ressacs, por Agnès Limbos - Cie Gare Centrale (Bélgica)
Teatro do Bairro
2 a 5 de setembro às 21.30 (qua a sáb)

 


por Maria João Caetano in Diário de Notícias | 5 de agosto de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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