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Mafalda não morreu

Quino, o autor de banda desenhada argentino que criou a figura da Mafalda, uma criança respondona e politicamente incorreta, morreu esta quarta-feira, aos 88 anos.


A morte foi confirmada pelo seu editor, Daniel Divinsky, no Twitter, sem que a causa tenha sido divulgada. Mas o jornal argentino Clarín avança que Quino morreu na sequência de um acidente vascular cerebral que sofreu na semana passada.

Nascido em Mendoza, a 17 de julho de 1932, Joaquín Salvador Lavado Tejón morreu nesta mesma cidade, para onde tinha regressado em 2017, após a morte da sua esposa, Alicia Colombo.

Quino, nome por que era conhecido na família e que depois adotou enquanto autor de BD, era filho de imigrantes espanhóis da Andaluzia. A Mafalda é apenas uma das personagens – mas indubitavelmente a mais conhecida – a que deu vida ao longo da sua carreira.

Autor de BD, historiador gráfico e ensaísta, Quino conheceu o mundo do desenho ainda criança, por via da relação com um tio desenhador gráfico, que entretinha os seus três sobrinhos com essa sua arte.

Joaquín Tejón frequentou o curso de Belas Artes na Universidade de Cuyo, que não chegou a concluir, já que, entretanto, perdera os pais. Mas reteve da sua passagem pela Universidade as bases da arte do desenho e da banda desenhada, que decidiu desenvolver, e fazer dela a sua vida.

Depois de ter cumprido o serviço militar obrigatório, começou a publicar, já nos anos 50, desenhos humorísticos no semanário Isto É, o que lhe abrirá caminho a muitas outras publicações.

A primeira Mafalda

Em 1963 edita o primeiro livro com o seu nome, Mundo Quino. Nessa altura, já a figura da Mafalda, uma rapariga contestatária e pessimista, tinha nascido do seu lápis e imaginação – fora criada, no ano anterior, para uma campanha publicitária de uma marca de eletrodomésticos ('Mandsfield'), para a qual lhe pediram que desenhasse a história de uma família típica da classe média, mas que não chegaria a avançar. Apareceu, pois, pela primeira vez, com a sua farta cabeleira negra, no dia 29 de setembro de 1964, no semanário argentino Primera Plana.

Rapidamente esta criança intratável, que tanto debatia o futuro da Humanidade como contestava a obrigatoriedade de comer a sopa, conquista a admiração dos amantes da BD como a atenção dos leitores em geral. Na Argentina, e sucessivamente noutros países, nomeadamente em Espanha – o jornal El País lembra que Mafalda se tornou na “tira da BD com maior êxito na história da língua espanhola” –, Itália, Portugal e no resto da Europa.

Deu depois origens a livros, que foram traduzidos em mais de três dezenas de idiomas, mas também filmes de animação, exposições e até parques temáticos.

Mas Quino decidiu interromper a “vida” da sua personagem cerca de uma década depois, em 1973, justificando-se com o “esgotamento” da sua imaginação e também com a tirania da exigência de entrega diária aos jornais. Mafalda continuaria, contudo, a ser objeto de sucessivas edições, mostras e homenagens um pouco por todo o lado.

O autor continuaria, no entanto, a publicar livros e tiras de desenho gráfico para um público mais adulto, nos quais desenvolvia um humor negro e corrosivo sobre a realidade social e política do seu país e do mundo.

Com graves problemas de saúde, Quino deixou de desenhar com regularidade em meados da década de 2000. Nessa altura, já tinha finalmente conseguido, em 1992 – mas apenas à segunda tentativa, como explica o El País –, acrescentar à argentina a nacionalidade espanhola, país que, em 2014, o distinguiu com o Prémio Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades.

Neste mesmo ano, o Festival de Banda Desenhada da Amadora e o Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême, em França, dedicaram exposições a Quino, a propósito dos 50 anos da criação de Mafalda.

Na edição desta quarta-feira, o El País recorda a resposta do autor quando lhe perguntaram como seria Mafalda, na atualidade. Quino contrapôs que provavelmente essa “menina sábia” estaria morta, porque seria um dos desaparecidos da ditadura militar argentina (1976-1983), altura em que ele próprio teve de se exilar em Espanha.

Em 2016, numa entrevista à agência Efe, por ocasião da Feira do Livro de Buenos Aires, Quino afirmava que o mundo atual seria para a personagem Mafalda “um desastre e uma vergonha”. “Olhando as coisas que fiz todos estes anos, percebo que digo sempre as mesmas coisas e que continuam atuais. É terrível... não?”, acrescentou, a propósito dos seus temas de sempre: “A morte, a velhice, os médicos e outras coisas”, como as injustiças sociais e a pobreza.

Profundamente tímido e reservado, Quino reconheceu na mesma entrevista que gostaria de ser recordado como “alguém que fez pensar as pessoas sobre as coisas que acontecem”.

 


por Lusa e Público | 30 de setembro de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

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