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De "homem perdido" a quase Rei. Quem foi o Marquês de Pombal?

“De Quase Nada a Quase Rei” é a nova biografia sobre o Marquês de Pombal. São quase 600 páginas que retratam a vida do líder português que reconstruiu Lisboa. O biógrafo Pedro Sena-Lino ainda tem dúvidas sobre quem era Sebastião José de Carvalho e Melo.

Marquês de Pombal com a "sua" Lisboa em pano de fundo, num retrato de Louis-Michel van Loo e Claude Joseph Vernet

 

Seiscentas páginas depois, Pedro Sena-Lino continua sem saber qual é a sua opinião sobre o Marquês de Pombal. O biógrafo, que acaba de lançar o livro “De Quase Nada a Quase Rei”, que traça, num extenso trabalho de investigação, o perfil de quem foi Sebastião José de Carvalho e Melo confessa que não quis fazer juízos de valor sobre este homem que reergueu Lisboa depois do grande terramoto de 1 de novembro de 1755.

Poeta e ficcionista, o escritor Pedro Sena-Lino construiu esta biografia, agora editada pela Contraponto, com o olhar focado na pessoa de Sebastião José de Carvalho e Melo e sublinha que é “a história da vida do Marquês de Pombal” e não um retrato da obra deste governante.

Escrito entre setembro de 2017 e janeiro de 2020, o livro revela o outro lado de Sebastião José de Carvalho e Melo, e traz à luz dos nossos tempos dados que estavam escondidos em cartas por ele trocadas ou correspondência de terceiros que dele falam.

“É uma biografia da vida do Marquês de Pombal. A obra dele interessa que seja estudada pelos historiadores. Eu interessei-me por estudar quem foi este homem, qual foi o seu percurso de vida”, conta Pedro Sena-Lino, à Renascença.

O biógrafo explica que Sebastião José era uma personagem multifacetada: “foi um homem que esteve perdido, em parte na sua vida, foi agricultor, historiador, autodidata, escritor, foi também uma espécie de solicitador, de falsário até – segundo algumas narrativas – de embaixador, de negociador internacional. Claro que também foi secretário de Estado. Foi gestor de equipas, conhecido por ter erguido Lisboa e foi alvo de vários processos contra si”.

No outro lado da moeda deste homem público, explica o autor, está o Sebastião José “neto, filho, pai, avô e marido”, uma faceta que interessou em particular a Sena-Lino. O autor quis compreender mais sobre o Marquês que era dado a hábitos, como a caça, e saber como “se dava consigo próprio.”

Com prefácio do historiador Rui Tavares, esta biografia de uma vida de mais de 80 anos vai aos detalhes pesquisados em cartas e documentos escritos pela mão do próprio Sebastião José de Carvalho e Melo. Uma figura enigmática, cheia de contradições que despertou a curiosidade de Pedro Sena-Lino.

“É o homem real que quis conhecer. Toda a onda de violência, que já conhecia e que fiquei a conhecer melhor depois de ler as suas cartas, afetou-me muitíssimo, mas acho que não cabe a um biógrafo tecer juízos de carácter sobre o seu biografado, nem encontrar justificações para a enorme e terrível violência que ele fez. A mim interessou-me perceber qual foi o ponto em que este homem começou a ser ele próprio”, explica o escritor que vive na Bélgica.


Pedro Sena-Lino mergulhou nos arquivos para escrever "De Quase Nada a Quase Rei" e ficou impressionado com "onda de violência" daquele período. Foto: Mário Santos/Contraponto Editores

 

A vida do Marquês de Pombal tem suscitado sucessivos interesses, já muitos autores se dedicaram a contar a vida deste homem. Um deles foi a escritora Agustina Bessa-Luís. No entanto, Pedro Sena-Lino preferiu deixar de parte o que já estava feito e mergulhar nos arquivos.

Na leitura de Sena-Lino, as anteriores biografias “sofriam, a maior parte delas, do mesmo problema. Eram um campo de batalha entre salvar o Marquês de Pombal e outros contra o Marquês de Pombal, mais olhando para ele do ponto de vista da sua gestão e do poder da sua maldade”.

O biógrafo usou-se da sua “experiência anterior como investigador em correspondência” e começou o trabalho de campo pelas cartas, “muitas delas estão em Lisboa, na biblioteca do Marquês de Pombal, na Biblioteca Nacional, na célebre coleção pombalina”. Mas o processo passou também por Londres, onde Pombal foi embaixador, e “onde há cópia de toda a correspondência diplomática inteira”.

Ao longo das páginas desta biografia é revelada a vida pessoal daquele que viria a tornar-se Conde de Oeiras, mas também são dadas a conhecer as figuras que marcaram Sebastião José de Carvalho e Melo no seu percurso. Isso foi possível a partir da leitura da correspondência de terceiros.


Sena-Lino aponta “a correspondência do tio do Marquês de Pombal, Marco António de Azevedo Coutinho, que era secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, com D. Luís da Cunha, o grande embaixador português em Paris”. O biógrafo diz que, com Sebastião José, mantinham “uma espécie de triunvirato” que acabou por dar ao autor “algumas imagens indiretas do que se passava na corte e do que se passava com o Marquês de Pombal”.

Uma boa parte desta biografia demora-se no período em que Sebastião José de Carvalho e Melo viveu fora, e foi embaixador em Londres e Viena. É, segundo o autor, uma passagem importante para a sua formação e olhar estrangeiro sobre Portugal.

“Os relatórios que ele enviava para Lisboa são extramente precisos, cheios de detalhes, com brilhantes análises geopolíticas que mostram, não só que o Marquês de Pombal estudava sozinho e procurava perceber, mas também sabia reunir à sua volta colegas e amigos com quem tinha discussões muitíssimo interessantes e que abriram a sua visão”, explica Sena-Lino

“De Quase Nada a Quase Rei” é uma biografia que revela também o lado frio e calculista de Marquês de Pombal, sobretudo quando planeou a expulsão dos Jesuítas de Portugal, algo que o escritor encontrou em documentos inéditos agora mostrados neste livro.

Terminada a longa escrita desta biografia de Sebastião José de Carvalho e Melo, Pedro Sena-Lino conta a sorrir: “tenho um amigo que, à medida que ia escrevendo o livro e lhe mandava uma parte, perguntava-me: ‘então, ainda gostas do Marquês?’ Eu devo dizer que procurei nunca ter no início do livro uma opinião sobre ele. Foi sempre um princípio em relação a este trabalho. Procurei fazer aquela suspensão dos juízos de época e tentar não ter uma opinião direta sobre este homem. Procurei tentar perceber, a partir dos seus escritos e da sua ação, quem ele era”.

 


por Maria João Costa, in Renascença | 16 de outubro de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença


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