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Gulbenkian celebra centenário de Ernesto de Sousa (1921-1988)


Um colóquio co-organizado com a Universidade Nova e a recriação da obra de mixed-media Luíz Vaz 73 vão assinalar, no início de junho, os cem anos de uma figura decisiva da arte portuguesa do século XX.

Nascido há cem anos, que se cumprirão a 18 de abril, Ernesto de Sousa (1921-1988) foi uma figura determinante da cena artística portuguesa do século XX, quer como teórico, divulgador e programador, quer como cineasta, fotógrafo ou artista multidisciplinar. A Gulbenkian evoca o seu legado a partir do próximo dia 2 de junho com a organização de um colóquio e um espetáculo que recriará a obra de mixed-media Luiz Vaz 73, recentemente adquirida pela fundação.

A ser apresentada no grande auditório da Gulbenkian, em colaboração com o Serviço de Música da fundação, Luiz Vaz 73, inspirada nos Lusíadas, associa diapositivos de Ernesto de Sousa a música eletrónica de Jorge Peixinho. Com improvisações instrumentais do Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, a obra foi estreada no Festival Internacional de Mixed Media de Gante, na Bélgica, em janeiro de 1975, tendo sido depois mostrada várias vezes, com sequências variáveis de diapositivos a preto e branco a cores. Esta nova recriação vai enquadrar-se na exposição Histórias de uma Colecção. Arte Moderna e Contemporânea da Fundação Gulbenkian, que estará patente na galeria principal.

Já o colóquio Centenário de Ernesto de Sousa é co-organizado pela Biblioteca de Arte da Gulbenkian e pelo Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e procurará cobrir as várias dimensões do trabalho do homenageado, abordando temas como: Crítica de arte, crítica de cinema; Etnografia e arte popular; História da escultura em Portugal; Fotografia; Neo-realismo; Arte experimentalarte Fluxus; Cinema neo-realista, cinema experimental; Teatro, happening, performance, instalação; Cineclubismo; Curadoria; Vanguarda e neo-vanguarda; Mail-art; Mixed-media; Redes artísticas; ou Arte e revolução.

Ernesto de Sousa acarinhou um conjunto de artistas fundamentais do pós-25 de Abril, foi curador de exposições e de eventos artísticos coletivos, fez várias exposições individuais, e concebeu, em 1977, a mostra Alternativa Zero, um acontecimento que marcou a arte portuguesa contemporânea. Serralves recriou a exposição vinte anos depois, em 1997, e a Gulbenkian dedicou-lhe um colóquio em 2007. Muitos dos artistas que participaram em Alternativa Zero tornaram-se depois nomes consagrados da arte portuguesa, como Helena Almeida, Julião Sarmento, Ângelo de Sousa, Noronha da Costa ou Fernando Calhau, entre outros.

Ernesto de Sousa comissariou ainda por três vezes, a representação portuguesa na Bienal de Veneza, participando numa obra coletiva com Ana Hatherly, João Vieira, Ernesto de Melo e Castro e António Sena, em 1980, e escolhendo depois Helena Almeida e José Barrias, respetivamente em 1982 e 1984.

O colóquio e a exibição da obra Luís Vaz 73 pretendem evocar um artista que “teve um papel fundamental nas artes em Portugal e marcou as gerações de artistas que vieram a trabalhar depois do 25 de Abril”, sublinha a Gulbenkian.

Desdobrando-se em múltiplas atividades, “anti-especialista por escolha e vocação”, Ernesto de Sousa destacou-se na realização e na crítica de cinema, no cineclubismo, na fotografia, no estudo da arte popular, na crítica de arte, no teatro, e depois no cinema experimental, entre outras formas artísticas, como o happening e a performance.

Nos anos 60 tornou-se amigo de algumas das principais figuras do movimento artístico Fluxus, como o cineasta, poeta e performer francês Robert Filliou ou o pintor e escultor alemão Wolf Vostell, tendo contribuído para divulgar em Portugal as neo-vanguardas europeias da época.

Estudou cinema em Paris, entrou em divergência com o movimento surrealista em Portugal, foi pioneiro da arte multimédia e colaborou com jornais e revistas como a Seara Nova, a Horizonte, a Vértice, o semanário Mundo Literário ou a Colóquio Artes.

É tido como fundador do primeiro cineclube em Portugal, o Círculo de Cinema, em 1946, cenário da primeira das suas quatro detenções pela polícia política do Estado Novo.

No cinema, realizou o filme Dom Roberto, com Glicínia Quartim e Raul Solnado, uma obra que marca a emergência do Novo Cinema em Portugal e que conquistou dois prémios na Semana da Crítica do Festival de Cannes, em 1963.

Nos vários caminhos criativos que percorreu, Ernesto de Sousa defendeu sempre o derrube de fronteiras entre arte e vida. E se Bertolt Brecht, Joseph Beuys, Wolf Vostell ou Almada Negreiros foram algumas das suas figuras tutelares, também o foram criadores de arte popular, como Rosa Ramalho ou Franklin Vilas-Boas Neto.


por Lusa e Público | 17 de março de 2021
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público 

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