"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

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"As doenças do Brasil" de Valter Hugo Mãe

Uma história de assombro que homenageia os povos originários do Brasil.


A Porto Editora faz chegar às livrarias As doenças do Brasil, o novo e muito esperado romance de Valter Hugo Mãe. Quase um ano depois da publicação de Contra Mim, com o qual venceu o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, e cinco anos depois de Homens Imprudentemente Poéticos, o autor apresenta uma delicada visão de um Brasil passado.

Nas ilhas dos três mares, terras dos gentis abaeté, a “fera branca” não chega senão para guerrear. Das pelejas e das incursões pela larga Amazónia procuram escravos e fortunas, matando todos quantos não podem ser subjugados. Desta violência e do estupro de uma indígena, nasce Honra, que haverá de ser guerreiro branco e ferida sempre visível da história desta comunidade. Até que pelas duas aldeias, um semelhante espírito ímpar aparece. Meio da Noite, negro, rapaz fugido do jugo da escravidão, haverá de ser guerreiro noturno, educado para os modos abaeté por Honra. Juntos crescem e aprendem, “os feios”. Juntos firmam um compromisso para uma ideia de defesa da comunidade.

Numa exuberante aventura das palavras em busca da hipótese de paz, o autor cria uma inesquecível história de resistentes, escrita com a violência e fascínio de um poema que busca o fulgor da realidade. A celebrar 25 anos de edição, As doenças do Brasil é um marco no percurso literário de Valter Hugo Mãe.

Como a experiência ensina que, para a saúde ser segura e firme, não basta sobressarar a enfermidade, se não se arrancam as raízes e se cortam as causas dela, é necessário vermos ultimamente quais são e quais foram as causas desta enfermidade do Brasil. A causa da enfermidade do Brasil, bem examinada, é a mesma que a do pecado original. Pôs Deus no Paraíso Terreal a nosso pai Adão, mandando-lhe que o guardasse e trabalhasse: Ut operaretur; et custodiret (Gên. 2, 15) e ele, parecendo-lhe melhor o guardar que o trabalhar, lançou mão à árvore vedada, tomou o pomo que não era seu, e perdeu a justiça em que vivia, para si e para o gênero humano. Esta foi a origem do pecado original, e esta é a causa original das doenças do Brasil: tomar o alheio, cobiças, interesses, ganhos e conveniências particulares, por onde ajustiça se não guarda, e o Estado se perde. Perde-se o Brasil, Senhor digamo-lo em uma palavra porque alguns ministros de S. Majestade não vêm cá buscar o nosso bem, vêm cá buscar nossos bens. Assim como dissemos que se perdeu o mundo porque Adão fez só a metade do que Deus lhe mandou, em sentido averso, guardar sim, trabalhar não, assim podemos dizer que se perde também o Brasil porque alguns de seus ministros não fazem mais que a metade do que El-Rei lhes manda. El-Rei manda-os tomar Pernambuco, e eles contentam-se com o tomar. Se um só homem que tomou perdeu o mundo, tantos homens a tomar como não hão de perder um estado? Este tomar o alheio, ou seja o do rei ou o dos povos, é a origem da doença; e as várias artes, e modos, e instrumentos de tomar são os sintomas, que, sendo de sua natureza mui perigosa, a fazem por momentos mais mortal. E se não, pergunto para que as causas dos sintomas se conheçam melhor: Toma nesta terra o Ministro da Justiça? Sim, toma. Toma o Ministro da Fazenda? Sim, toma. Toma o ministro da República? Sim, toma. Toma o Ministro da Milícia? Sim, toma. Toma o Ministro do Estado? Sim, toma. E como tantos sintomas lhe sobrevêm ao pobre enfermo, e todos acometem à cabeça e! ao coração, que são as partes mais vitais, e todos são atrativos e contractivos do dinheiro, que é o nervo dos exércitos e das repúblicas, fica tomado todo o corpo, e tolhido de pés e mãos, sem haver mão esquerda que castigue, nem mão direita que premie, e, faltando a justiça punitiva para expelir os humores nocivos, e a distributiva para alentar e alimentar o sujeito, sangrando-o por outra parte os tributos em todas as veias, milagre é que não tenha expirado.
Padre António Vieira, no Sermão da Visitação de Nossa Senhora, 1638

SOBRE O LIVRO
As doenças do Brasil
A "fera branca" quase exterminou os povos originários do Brasil. Ao longo de séculos, os brancos mataram aqueles que não podiam escravizar. A dada altura, em fuga, muitos negros encontraram ao acaso os povos de peles vermelhas e tantas vezes o entendimento e a paz aconteceram.
Valter Hugo Mãe cria para a Literatura atual duas figuras inesquecíveis: Honra e Meio da Noite, rapazes peculiares que, ao abrigo das aldeias gentis dos abaeté, estabelecem uma cumplicidade para certa ideia de defesa.
Honra é fruto da violação de um branco a uma abaeté. Cresce claro, humilhado por uma pele que diz não ser cicatriz daquele golpe porque é ferida. É sempre ferida.
Esta é uma delicadíssima história de resistentes. Exuberante aventura das palavras e da imaginação em busca da hipótese da paz. 

Título: As doenças do Brasil
Autor: Valter Hugo Mãe
Páginas: 280
PVP: 17,70€

SOBRE O AUTOR

Valter Hugo Mãe


© Ana Esteves Brandão 

É um dos mais destacados autores portugueses da atualidade. A sua obra está traduzida em variadíssimas línguas, merecendo um prestigiado acolhimento em muitos países. Com As doenças do Brasil completa 25 anos de edição e 50 anos de vida. Autor dos romances: Contra mim (Grande Prémio de Romance e Novela - Associação Portuguesa de Escritores); Homens imprudentemente poéticos; A Desumanização; O filho de mil homens; a máquina de fazer espanhóis (Prémio Oceanos); o apocalipse dos trabalhadores; o remorso de baltazar serapião (Prémio Literário José Saramago) e o nosso reino. Escreveu alguns livros para todas as idades, entre os quais: Contos de cães e maus lobos, O paraíso são os outros, As mais belas coisas do mundo e Serei sempre o teu abrigo. A sua poesia encontra-se reunida no volume publicação da mortalidade. Publica a crónica Autobiografia Imaginária, no Jornal de Letras, e Cidadania Impura, na Notícias Magazine.
Com exceção da poesia, que tem chancela Assírio & Alvim, toda a sua obra está publicada pela Porto Editora. 

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