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"O património ucraniano é hoje o mais ameaçado da Europa"

Em entrevista à Renascença a secretária-geral da Europa Nostra, a voz do património na Europa, denuncia a violação das convenções do património mundial, diz que é difícil proteger a Catedral de Kiev classificada pela UNESCO e lembra que esta guerra é um ataque aos valores europeus.

Catedral de Santa Sofia, em Kiev. Foto: Jorge Franganillo Monumento da Independência na praça central em Kiev. Foto: Zurab Kurtsikidze/EPA Estátuas protegidas na cidade de Lviv. Foto: Miguel A. Lopes/EPA


Sneška Quaedvlieg-Mihailovic nasceu em Belgrado, na antiga Jugoslávia. Recorda ainda hoje como os bombardeamentos em Dubrovnik a fizeram despertar para a necessidade de proteger o património. 30 anos depois, custa-lhe acreditar como a História se repete. Agora é secretária-geral da Europa Nostra, a voz do património na Europa, e denuncia o ataque aos valores europeus que está a acontecer na Ucrânia.

Em entrevista à Renascença, Sneška Quaedvlieg-Mihailovic lembra que “há na Europa um património intangível”. Esse património são valores como “o compromisso com a paz, a democracia, direitos humanos e cumprimento das leis”.

Segundo a sua opinião crítica, “a guerra que a Rússia está a fazer na Ucrânia é a negação de todos estes valores”. Recordando a primeira declaração que a Europa Nostra emitiu um dia depois do início da invasão do exército russo pelas fronteiras ucranianas, refere: “é por isso que dissemos que esta não é uma guerra da Ucrânia. É uma guerra de todos os que estejam comprometidos, defendam e estimem esses valores”.

Esta quinta-feira, a Europa Nostra vai reunir o seu conselho de administração. Do encontro deverá sair uma declaração em que esta organização apela a um maior compromisso na defesa de vidas, mas também do património, por parte das instituições europeias.

“Vamos claramente emitir uma declaração forte em que dizemos que o património ucraniano é hoje o mais ameaçado da Europa. É também por isso que vamos pedir à União Europeia que, junto com a ajuda humanitária, seja também atribuída uma verba importante para os profissionais do património e cidadãos que estão agora na Ucrânia a debater-se e a fazer tudo o que podem para proteger o património dos ataques do exército russo”, explicita.

Numa altura em que diretores de museus em lágrimas e equipas guardam os quadros e a população embrulha as estátuas nas ruas para evitar que sejam despedaçadas, a secretária-geral Sneška Quaedvlieg-Mihailovic diz que não tem conseguido contactar um dos membros do conselho do Europa Nostra que vive na Ucrânia.

“Troquei mensagens por WhatsApp com a nossa membro do conselho que está em Kiev, Natalia Moussienko, mas ela está agora com a sua mãe de 80 anos, e na maior parte das vezes está em abrigos o que torna difícil comunicarmos”, conta.

UNESCO pressionada para não reunir na Rússia

Lembrando que “são imensas as agressões contra o património” que estão a acontecer na Ucrânia, até porque “muitas das cidades ucranianas são como as europeias, cheias de património”, a secretária-geral da Europa Nostra fala de uma “responsabilidade partilhada de proteger o património, seja em paz ou guerra”.

A Ucrânia tem hoje sete locais classificados como Património Mundial pela UNESCO. Um deles é a Catedral de Santa Sofia, em Kiev.

Questionada sobre como proteger um edifício de ataques destrutivos como os que têm sido feitos pelas tropas de Moscovo, Sneška Quaedvlieg-Mihailovic lembra que “a Catedral de Kiev é um edifício incrível” e que “é sempre mais difícil proteger um edifício inteiro. Poderão pôr a salvo objetos, mas se o exército russo quiser atingir aquela catedral, será muito difícil protegê-la”.

Sobre o rasto de devastação deixado em pouco mais de uma semana de ação militar do regime de Putin, a responsável da Europa Nostra denuncia a violação de convenções como a de Haia, instituída na sequência da Segunda Guerra Mundial.

“Essa convenção proibia o ataque ao património cultural em ataques armados. Vemos claramente que o exército russo e a sua liderança optou por uma invasão com uma destruição brutal, não só contra alvos militares, como edifícios civis e património cultural. É claramente uma violação da Convenção de Haia e da Convenção do Património Mundial”, esta última está a completar 50 anos de existência.

“Paradoxalmente”, como classifica Sneška Quaedvlieg-Mihailovic, está previsto que a Rússia seja o país anfitrião da próxima reunião do Comité do Património da UNESCO. Mas a Europa Nostra junta a sua voz à de outros países que não querem ir a Kazam – cidade russa também classificada como Património Mundial pela UNESCO -, de 19 a 30 de junho.

“Há agora, obviamente, um número crescente de vozes que pedem à UNESCO que seja alterada a localização do Comité do Património, este ano. Definitivamente não deve acontecer na Rússia, em Kazan. Deverá ter lugar em Paris, ou em outro local. Também a Europa Nostra irá comunicar à UNESCO a sua forte oposição a que seja permitido à federação russa ser a anfitriã da reunião do Comité do Património Mundial”, indica a responsável daquele organismo.

Sneška Quaedvlieg-Mihailovic, que pede à autarquia de Lisboa que una a sua voz nesta defesa do património da Ucrânia, refere que o autarca Carlos Moedas manifestou vontade de trabalhar de forma próxima com a Europa Nostra.

Nesta entrevista à Renascença, esta responsável fez questão também de sublinhar como a Europa Nostra está também solidária com a população russa “que se opõe à guerra” e que “enfrenta 20 anos de prisão” pela coragem de ser uma voz crítica ao Kremlin.

Europa Nostra é representada em Portugal pelo Centro Nacional de Cultura
Saiba mais em https://www.europanostra.org


por Maria João Costa in Renascença | 10 de março de 2022
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença

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