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A nova joia da Coroa espanhola

Inaugurou em Madrid a Galeria das Coleções Reais, um novo espaço onde se podem contemplar 650 peças que pertenceram nomeadamente às dinastias Habsburgo e Bourbon.

© AFP Portugal também está representado: com o retrato de D. Bárbara de Bragança, mulher do rei Fernando VI e impulsionadora da criação do Museu do Prado, e com a cadeira que esta usava para se deslocar nos jardins do palácio real.
Um retrato de Bárbara de Bragança, casada com o monarca espanhol Fernando VI, e os panos de ouro que Carlos V enviou a Isabel de Portugal como prenda pelo seu casamento são alguns exemplos da presença portuguesa que se pode encontrar na nova Galeria das Coleções Reais que acabou de inaugurar em Madrid. Este impressionante espaço, entre a Catedral da Almudena e o Palácio Real, mostra os tesouros da realeza espanhola, muitos deles exibidos pela primeira vez ao público, como o Cavalo Branco de Velázquez, uma das joias da galeria. "Esta é uma montra do Património Nacional que conta com 19 palácios, 10 mosteiros, 19.000 hectares de bosques e 170.000 bens históricos", explica Ana de la Cueva, diretora desta instituição estatal. Um projeto "espetacular" onde se encontram "peças representativas ordenadas de forma cronológica que permitem acompanhar as mudanças dos interesses de cada monarca", sublinha De la Cueva.

Este percurso por mais de 500 anos da história de Espanha, onde também Portugal está presente, começa com os dois últimos reinados da dinastia Trastâmara. Têm um grande protagonismo as tapeçarias flamengas dos Reis Católicos e para recuperar uma delas, que fazia parte de uma coleção privada, o Estado espanhol pagou um milhão de euros. Entre as peças exibidas também se destaca o Políptico de Isabel, a Católica, um conjunto de 15 óleos sobre painel da vida e paixão de Cristo, alguns dos quais a rainha segurou entre as suas mãos antes de morrer. "Uma das peças-estrela deste itinerário é um exemplar da primeira edição de Dom Quixote de La Mancha", afirma Letizia Ruiz, diretora da galeria. Dona Luisa de Orleães ofereceu-o ao rei Afonso XIII e faz parte das Coleções Reais desde 1921.

São muitas as surpresas que o visitante vai ter ao longo do percurso, com peças inesperadas como a maqueta original que fez Bernini para a Fonte dos Quatro Rios na Piazza Navona em Roma. Do mesmo artista italiano pode contemplar-se a escultura do Cristo na Cruz, que estava antes no Palácio de El Escorial. E também não faltam quadros de grandes mestres - El Greco, Tiziano ou Caravaggio. De Goya deparamos, entre outras obras, com a tapeçaria O baloiço, que o artista espanhol realizou para a Corte espanhola. "Todas estas obras, fora dos palácios e dos mosteiros, oferecem outro olhar", explica Letizia Ruiz. Mas também há peças que estavam guardadas em armazéns, como as colunas de Churriguera, que formaram o pórtico da desaparecida igreja de Montserrat de Madrid, e foram restauradas para poder ser exibidas.

Além do valor artístico das peças, "incalculável", esta exibição oferece informações curiosas sobre os monarcas. Por exemplo, a armadura que utilizou na batalha de Mühlberg o rei Carlos I de Espanha e V de Alemanha, revela que não era muito alto. Bárbara de Bragança, a portuguesa que impulsionou a criação do Museu do Prado, tinha no seu toucador um espelho que emagrecia a imagem de quem nele se olhava. Com alguns problemas de mobilidade, contava com uma cadeira na qual era transportada por dentro dos jardins do palácio. Uma peça de estilo rococó decorada pelo italiano Giaquinto que ali podemos ver. Chama igualmente a atenção o retrato, de costas, de Carlos IV, nada habitual naquela época entre os monarcas. Pintura realizada por Juan Bauzil.

A partir da rainha Isabel II as coleções reais passaram a ser propriedade do Estado espanhol. No fim do percurso, através de fotografias explica-se este processo pelo qual o Património Nacional fica com a responsabilidade de conservar estas coleções que estão à disposição dos cidadãos.

Muralha da cidade

O edifício onde se encontra o museu é ele próprio uma obra de arte que conta com mais de 10 prémios. Para a sua construção foi preciso realizar um complicado movimento de terras que permitiu salvar um desnível de 32 metros depois de escavar 235.000 metros cúbicos de terreno. O ano de 1998 foi o ponto de partida da criação deste museu que acabou por ficar com a designação de galeria uma vez que tem previsto ir mudando um terço das suas peças, além de contar com exposições temporárias. Esta rotação vai permitir dar mais visibilidade à herança real e também proteger livros e documentos que se deterioram com facilidade.

Os trabalhos começaram em 2006 e numa primeira fase foram descobertos restos da muralha de Madrid do século IX, que também se podem contemplar na visita à galeria. O prédio conta com muitos níveis, mas são três os andares principais para a visita. Um dedicado à dinastia Habsburgo, outro à dinastia Bourbon e um terceiro com exibições temporárias e um cubo de 360º onde se projetam distintos lugares que formam parte do Património Nacional.

O investimento total da Galeria das Coleções Reais foi de 172 milhões de euros, dos quais 139 foram destinados para a construção do edifício desenhado pelos arquitetos Emilio Tuñón e Luis M. Mansilla, este último falecido em 2012. Ainda é cedo para adiantar um número de visitas, mas serve como orientação saber que o Palácio Real de Madrid recebe cada ano 1,5 milhões de visitantes. As próximas eleições legislativas - no dia 23 de julho - obrigaram a adiar a inauguração oficial com os Reis de Espanha, do passado dia 28 de junho para o 25 de julho. Até então, as portas desta galeria, considerada uma das mais deslumbrantes da Europa, já estão abertas.


por Belén Rodrigo em Madrid, in Diário de Notícias | 2 de julho de 2023
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias
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