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"Ars longa, vita brevis"

Falar de Pedro Lopes Adão é falar de um nomes desta nova geração de jovens autores que têm proliferado na literatura portuguesa nos últimos anos.

Após termos sido presenteados com as duas obras da sua autoria, – Palavra em Queda, editada pela Glaciar em 2022, e Os Amorosos & Os Odiados, editado pela Lema D’Origem em 2023 – voltamos a ter a honra de ler o trabalho de Pedro Lopes Adão na sua terceira obra lançada no ano de 2023, numa nova colaboração com a Glaciar.

O terceiro livro apresenta o título Ars longa, vita brevis, expressão proveniente do latim cujo significado é ‘a arte é longa, a vida breve’, e um prefácio escrito por Maria João Cantinho, com o qual irei começar a análise / opinião deste livro.

O prefácio que abre esta obra, contém uma imensidade de referências aos poemas por parte de Pedro Lopes Adão, mas existem pequenos detalhes que devem ser destacados porque eles conseguem definir na perfeição as temáticas principais do Ars longa, vita brevis. Num tom quase maternal, e em simultâneo formal, Maria João Cantinho destaca a modernidade com que o jovem autor escreve a sua poesia, e, citando a própria, “enraizada na poesia metafísica”, definindo assim o estilo de escrita que esta obra apresenta. Esta parte inicial salienta, também, o tom intimista usado pelo jovem poeta na escrita dos seus textos, algo perfeitamente notório para todos os leitores, assumindo assim uma relação próxima entre leitor-poeta, que faz com que a poesia seja apetecível aos olhos de quem a lê e, na minha ótica, causa um grande impacto nos seus leitores. No final do prefácio é destacado a influência de diversos nomes da poesia portuguesa que, mesmo não sendo mencionados, o seu poder e influência, mesmo que as temáticas possam díspares, está sempre presente na poesia de Pedro Lopes Adão, juntando-se numa metamorfose que faz com que, de novo citando Maria João Cantinho, a sua voz faça parte do “panorama da actual jovem poesia portuguesa.”

Agora, começo esta nova secção de opinião / análise, por falar da obra em si. Como mencionado no prefácio, esta obra está dividida em quatro capítulos, sendo o primeiro, entitulado de «Da vida do corpo, espiritual e afins», o mais longo. Quando tive oportunidade de obter e ler a obra, no momento em que a folheei, senti algo diferente. Senti uma evolução notória da escrita, o que é comum quando se passa de obra para obra, mas, de igual forma, senti uma certa intimidade e madureza que já é comum nos textos escritos por Pedro Adão.

Comecemos com o primeiro capítulo do livro, «Da vida do corpo, espiritual e afins». Neste capítulo podemos presenciar um conjunto de poemas que, na sua totalidade, parecem contar diversas histórias que se convergem numa só. Ao folhear cada página, parece que estamos perante diferentes histórias que o poeta decidiu contar para o mundo as conhecer e cada emoção contida nela é tão real que poderia ser a história de qualquer um dos leitores. Mesmo sendo somente um capítulo, esta abertura para o Ars longa, vita brevis contém uma diversidade de temáticas que nos fazem refletir em nós próprios mesmo que, muitos dos sentimentos aqui depositados, sejam transmitidos pelo sujeito poético. Algumas das temáticas são: a infância, tem já apresentado no seu primeiro livro Palavra em Queda (“Da Infância”, p. 35), a energia que irradia de nós que consegue alimentar tudo e todos ao nosso redor (“A energia elementar”,p.36), a proteção de um ser amado e o quanto isso se apodera de nós e torna-se numa missão eterna, como o próprio poeta escreveu: “E o meu corpo em canto bélico / por ti respira, / um orgulho, uma missão, / a de te proteger.” (“Puríssimo”, p. 42), e a dedicatória a um dos grandes nomes da poesia portuguesa, Ana Luísa Amaral. (“O registo das coisas belas”, p.41).

O segundo capítulo, o mais curto de toda a obra, tem como título «Geografia Pessoal». Mesmo sendo a parte mais reduzida do livro, a pequena coletânea de poemas nela contida demonstram, tal como referi anteriormente, uma grande maturidade por parte do autor.  A pequena coletânea – constituída somente por três poemas – demonstram a pequena viagem pelo intímo feita pelo sujeito poético, levando o leitor a conhecer certos detalhes que caracterizam não só a procura incessante do “eu”, como também a exploração que Pedro Lopes Adão faz pelos seus sentimentos mais profundos que se poderão, eventualmente, coadunar com o do leitor.

O terceiro capítulo, um pouco mais longo que o anterior, apresenta-se com o título “O Circunstante e o Envolvente”, criando um pouco de mistério face ao que poderá estar escrito através da nobre arte literária que é a poesia. Todos os poemas são caracterizados por um tom mais íntimo, como se fosse uma conversa entre sujeito poético e leitor, criando, assim, uma ligação mais forte com aqueles que leêm estas palavras. Contudo, para além deste carácter mais conversacional adotado pelo jovem poeta, poderão existir alusões ao espiritual, uma vez que, alguns dos poemas apresentam alusões à estrutura de um texto retirado da Palavra Sagrada, a Bíblia – como é o caso do poema III (pág. 69). Este capítulo apresenta, também, uma pequena ode a um ser amado em que a voz poética menciona a devoção que tem por tal figura e o desejo de ela conseguir viver na luz e nunca em sombra (poema V, pág. 71), e a missão de proteger o ser amado, fazendo com que ele nunca se deixe cair e que encontre um apoio para ser bem sucedido e eterno (poema VI, pág. 72).

Aproximamo-nos rapidamente do final desta obra com os dois últimos capítulos presenteados por Pedro Lopes Adão. O quarto capítulo, que apresenta o título de “Saudades”, uma palavra tão forte, poderosa e tão portuguesa, faz jus ao título que lhe foi concedido. De novo, somos presenteados com um pequeno conjunto de poemas que retrata um sentimento terno por parte do sujeito poético por algumas figuras que ele proóprio evoca, sendo quase todas anónimas e uma identificada (“Mãe”, poema V, pág.79). Todos os poemas apresentam um tom que representa a saudade por parte da voz lírica, como referido anteriormente, fazendo com que o leitor sinta todas as emoções apresentadas pelo autor, adquirindo, assim, um tom mais pessoal e uma relação mais próxima entre autor-leitor.

O último capítulo, o quinto, é intitulado de “Aforismos: mensagem ao leitor”. Como o próprio título indica, isto é uma mensagem feita especificamente para o leitor. Estando dividido vinte partes, todas elas sendo de curta extensão, o poeta declara-se diretamente ao leitor, dando-lhe diversos conselhos que serão úteis para a sua vida como devoto leitor de poesia e de outros géneros literários com o qual o leitor se poderá encontrarno seu percurso. Todavia, o próprio autor também abre portas para que o leitor se possa preparar para o seu próprio método de escrita e para não se apressar no seu processo e não se dedicar à escrita da poesia, se o seu talento estiver virado para outras vertentes (“Não pretendas / ser poeta se o teu génio te levar para telas / ou mármores.”, poema VII, pág.86). No final deste capítulo, é compilado em apenas dois versos, aquilo que se prevê da parte do autor face ao que o leitor alcançar e aquilo que descreve na perfeição toda a estrutura desta obra (“Exatamente. / Prevejo: Orgulho e Maravilha.”, poema XX, pág.88).

Em tom de conclusão, a obra Ars longa, vita brevis do jovem autor Pedro Lopes Adão, apresenta um tom mais íntimo do que as suas anteriores obras, – Palavra em Queda e Os Amorosos & Os Odiados – transparecendo o tom intimista através da sua escrita e, de igual, a relação forte entre autor-leitor que, tal como conseguido nos seus anteriores trabalhos, faz com que a escrita de Pedro Lopes Adão seja apreciada no seu modo pleno e que consiga se tornar um reflexo dos sentimentos dos leitores. De novo, o jovem poeta portuense presenteia-nos com mais uma excelente obra que marca mais um passo nesta sua bonita jornada que é a poesia e, também, guia o seu caminho para se tornar numa das novas grandes vozes da literatura nacional. 

Texto redigido por Cláudia da Cunha Azevedo


SOBRE O AUTOR

Pedro Lopes Adão (n. 2001, Porto) começou a sua carreira na escrita aos 15 anos de idade, principiando a sua jornada com a poesia que, mais tarde, se estendeu para a crítica literária. Já teve oportunidade de colaborar com diversos meios de divulgação cultural, como a revista Devaneio, de que é membro da redação, a Comunidade Cultura & Arte, a Revista Kametsa, a Revista Mirada, o Ruído Manifesto, etc. Após ingressar na Faculdade de Letras da Universidade do Porto foi convidado a se dar a conhecer na Revista Alegre e a integrar a antologia "110 Anos, 110 poetas" (org. Isabel Morujão). Entretanto já publicou: Palavra em Queda, ed. Glaciar (2022) e Os Amorosos & Os Odiados, ed. Lema d'Origem (2023). 

ISBN: 9789899090316
Editor: Glaciar
Data de Lançamento: maio de 2023
Idioma: Português
Dimensões: 145 x 205 x 8 mm
Encadernação: Capa mole
Páginas: 96
Tipo de produto: Livro
Coleção: Cadernos de Poesia

     

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