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"Para Fora Cá Dentro”, música eletrónica para fugir às fórmulas da Inteligência Artificial

Som militantemente digital, todo produzido em computador, conta, porém, com contrabaixo, baixo, guitarras... e uma voz feminina. O Turista, seu autor, tem uma longa biografia musical que começa em Lisboa nos anos 80, passa pelos LX-90 e por dez anos em Londres, antes de se dedicar a produzir discos, a acompanhar outros artistas e ao ensino. Com citações indiretas da eletrónica internacional e portuguesa das últimas décadas, as músicas deste disco recusam os clichés com firmeza. Surpreendente, imprevisível até ao desconforto.

Se há coisa que no álbum “Para Fora Cá Dentro” o Turista (nome artístico de João Gomes), seu autor, quer evitar, são as receitas típicas da música eletrónica de sucesso: Introdução+Build Up (a crescer, lentamente)+Drop (refrão)+Descida+depois voltar a subir+novamente o refrão... e o processo repete-se. Em “Para Fora Cá Dentro” – lançado a 15 de setembro em todas as plataformas de streaming – a eletrónica não é assim.

Para começar, não há refrões. As músicas recriam referências dos anos 90, algum tecno e alguma house, um pouco de trip hop, algo de jungle, uma ressonância de drum and bass. “É um som integralmente feito ‘in-the-box’ [no computador] sem recurso a métodos analógicos, que recusa a construção de músicas através de fórmulas que toda a gente repete”, afirma João Gomes. “É uma música assumidamente digital que recusa as facilidades oferecidas pela Inteligência Artificial, ou seja: ao contrário de fórmulas previsíveis, este álbum procura transmitir uma sensação de certo desconforto, de que alguma coisa inesperada está prestes a acontecer”.

Segundo o Turista (João Gomes), “esta sensação, apesar de ser desagradável, pode ter um efeito libertador e catártico”. Esse tipo de efeito – tipicamente procurado por exploradores de música e consumidores de outros produtos culturais – é criado, neste álbum, a partir de referências internacionais que se cruzam com alusões muito particulares à produção musical portuguesa, memórias muitas vezes esquecidas ou, pelo menos, adormecidas na maioria dos públicos.

João Gomes tocou piano no Hot Club no final dos anos 80, fez parte dos LX-90, viveu uma década em Londres e, depois de voltar a Lisboa em 2002, dedicou-se a produzir vários álbuns e a tocar com músicos portugueses de estilos variados. Manager da Nokia Music Store em Portugal de 2008 a 2011, ensina desde 2013 na Escola de Tecnologias, Inovação e Criação – ETIC, primeiro como tutor do curso de Produção e Criação Musical, desde 2021 como coordenador da área de som e música.

“Música para viagens, exteriores e interiores”.
Toda esta biografia transparece no “Para Fora Cá Dentro”. Os diferentes elementos aparecem onde menos se espera, até porque o foco das músicas do Turista não é a dança, apesar de serem dançáveis. As letras são em português. Naquele som também há notas aparentemente desafinadas. Uma dissonância planeada, na qual soa um contrabaixo, um baixo, guitarras e, claro, uma voz.

“É um álbum para quem gosta de música eletrónica experimental, para quem vai a discotecas e a bares para ouvir música”, afirma o Turista. “Espero que agrade aos que gostam dos catálogos de editoras como a Warp, a Ninja Tune, a R&S”, continua João Gomes, que neste disco conta com as participações de Miguel Menezes (contrabaixo, baixo elétrico, guitarra acústica, guitarra elétrica) e de Patrícia Mesquita Guimarães, que foi a vocalista dos Alibi. “É para quem gosta de ouvir música quando está em trânsito, em movimento. Música para viagens, exteriores e interiores”.

Apesar de as composições conterem estruturas harmónicas um pouco fora do comum, o Turista foge a classificá-las como jazz. Recusa também influências africanas, “pelo menos óbvias”, tão em voga na música eletrónica que é feita em Portugal. “São músicas feitas a pensar em pessoas que gostam de descobrir novos artistas e tendências”, afirma João Gomes. “O gosto pelo que se ouve depende de um processo de contextualização que é feito tendo em conta a memória auditiva e o que passámos enquanto a adquirimos”. É distinta em cada um de nós, conclui, “se bem que contenha muitos traços comuns devido à prevalência da cultura musical ocidental”.
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