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Arte românica em Portugal reunida em enciclopédia de três volumes

A arte românica em Portugal foi documentada e sistematizada na "Enciclopédia do Românico em Portugal", que resultou de um trabalho de cinco anos e envolveu mais de vinte investigadores nacionais.

Mosteiro de Cárquere © José Coelho/Lusa, 2014

A "Enciclopédia do Românico em Portugal", recentemente apresentada em Madrid, está integrada na "Enciclopédia do Românico na Península Ibérica", um projeto da Fundação Santa Maria La Real.

O projeto desta fundação espanhola nasceu em 2002, conta já com 65 volumes publicados (o do românico em Portugal tem três volumes, com mais de 2.000 páginas) e ganhou um prémio Europa Nostra em 2003, um galardão de organizações europeias relacionado com o património cultural.

Segundo as informações divulgadas na apresentação pública em Madrid, os volumes da "Enciclopédia do Românico em Portugal" (publicados em português) foram financiados integralmente (num valor de 200 mil euros) por outra fundação espanhola, a Fundação Rámon Areces, e resultam de um protocolo das duas entidades com a Faculdade de Letras da Universidade do Porto, assinado em 2018.

A coordenação científica foi de quatro investigadores desta faculdade: Maria Leonor Botelho, Mário Jorge Barroca, Lúcia Maria Cardoso Rosas e César Guedes.

O projeto contou ainda com uma equipa de arquitetos, também portugueses, que teve a coordenação científica de Teresa Cunha Ferreira, da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, e que elaborou levantamentos e trabalhos de desenho de plantas, alçados e cortes dos mais significativos monumentos.

Segundo disse uma das coordenadoras científicas, Maria Leonor Botelho, "a concretização deste ambicioso projeto" contou ainda com protocolos com entidades portuguesas, como a Direção Geral do Património Cultural (DGPC), a Direção Regional da Cultura do Norte (DRC-N) e a Rota do Românico.

"Em termos do que é o conhecimento do românico em Portugal, penso que criámos um novo patamar", disse Maria Leonor Botelho, que explicou que a arte românica é estudada "há largos anos", com a primeira publicação em português a datar de 1870, mas sem haver "esta visão integral".

"Falamos de um conjunto de muitas publicações dispersas, que não tinham esta visão integral, que acaba por estabelecer um ponto de situação sobre aquilo que se conhece, aquilo que não se conhecia (...), a possibilidade de escrever sobre testemunhos que nunca tinham sido estudados nos seus contextos territoriais", afirmou a investigadora.

Para Maria Leonor Botelho, esta enciclopédia "de certa forma, coloca também o românico português não só no mapa nacional, valoriza o conhecimento, mas também no mapa internacional, integrando-o nesta grande linguagem artística europeia".

A investigadora defendeu que, por ouro lado, a obra abre também a possibilidade de criar uma "plataforma de discussão muito interessante" entre a academia portuguesa e outros parceiros e perceber "novos caminhos de investigação e de contributo para a exploração e desenvolvimento do território local", onde a arte românica está presente.

Maria Leonor Botelho afirmou que uma obra desta dimensão e com estas exigências só foi possível com o financiamento que a Fundação Ramon Areces disponibilizou, realçando que o trabalho desenvolvido pela equipa de investigadores não se resumiu a escrever e envolveu investigação ou deslocações ao terreno.

"Foi um trabalho muito demorado, muito exigente, para chegarmos a esta versão final", afirmou, acrescentando que o processo teve ainda o impacto da pandemia de covid-19, que criou diversas limitações durante um período.

A "Enciclopédia do Românico em Portugal" tem 294 entradas de 24 autores sobre os testemunhos da época românica que subsistem em Portugal.

A maioria (172 entradas) são monumentos de arquitetura românica religiosa (seis catedrais, oito capelas, 38 mosteiros e 120 igrejas).

Há também arquitetura militar (31 castelos que mantiveram preservadas as principais características de um reduto militar românico"), arquitetura civil (pontes e paços), vestígios de cariz funerário ou elementos de escultura e ourivesaria, entre outros.

A arquitetura românica tem testemunhos em Portugal que remontam às duas últimas décadas do século XI e ao princípio do século XII, mas há "uma cultura arquitetónica que se mantém além do tempo próprio do românico" e que "teve uma forte influência" nos séculos XII, XIV ou mesmo no século XV, segundo explicam os coordenadores da enciclopédia num texto de apresentação da obra.


Fonte: LUSA | 4 de dezembro de 2023

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