"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

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"Subsídios para o estudo de A.M. Pires Cabral"

Trata-se de uma edição de grande valor literário, que reúne reflexões críticas e ensaios dedicados à obra e à relevância cultural de Pires Cabral. Pedro Lopes Adão, além de organizador, é também autor publicado, com livros presentes em bibliotecas de prestigiadas universidades internacionais, o que reforça a relevância do seu trabalho no panorama académico e literário.

Este opúsculo constitui uma coletânea de ensaios em torno de A. M. Pires Cabral. Cada contribuição visa uma problemática à qual os ensaístas tentaram responder. 

Prefácio: 

SPES ALTERA VITAE 

Meu avô:
Não há cura, nem entendimento, para estes nossos coevos. Das nossas conversas, da tua biografia, da tua obra e do teu mérito, acusa-me a excessiva vertigem do pouco estudo a que está sujeito tão amplo repertório; e quis esta revolta imensa, latente de paixão, que me aventurasse neste pequeno livro, procurando mostrar, com o auxílio de verdadeiros estudantes, como não te esgotas facilmente, tu, metáfora viva duma geração de escritores em progressiva bruma. 

A muito contrassenso escutei numas alamedas quem te louvasse mas não te escrevesse. E não te posso dizer que quem o dizia tinha fraca letra, antes uma nulidade em se expressar para os demais. (No fundo, meu avô, estamos perante o mal português: acumular enciclopédias na mente, juízos porventura sãos, nunca partilhando – nisso prezo os nossos irmãos da diáspora, sempre prontos a indagar no e com o coletivo, sem aquele medo patológico que se revela a nossa miséria, o de escutar e calar.) 

Verás neste opúsculo antológico coisas evidentes e falsas. Evidentes porque se permitiu a cada qual interpretar determinado aspeto dos teus livros, resultando em teses provenientes de um processo de cognição particular, leituras imensas, sumárias nessas páginas que se dá ao prelo. Falsas porque, sendo vivo, poderás apontar armadilhas por decifrar do teu mundo, jeitos e trejeitos, essas subtilezas difíceis de apanhar senão o próprio, príncipe da invenção. É na simbiose e por ela que algum grau de verdade lhes é atribuído: afinal, a análise é tão verdadeira quanto a permissão do tropo. 

Por fim, lamento entregar-te estas brevíssimas palavras e não um ensaio. Todavia, sendo meu avô, e por muito que haja necessidade de certo afastamento do leitor perante o texto, julgo-me incompetente de me abster do orgulho e suspeição que tal exultaria. Espero, sinceramente, numa outra vida, conseguir nascer no lado dos que te analisam sem te amarem, do lado da ação ante os inertes. Talvez numa outra vida te dedique mais do que simples palavras. 

Pedro Lopes Adão
em Rio Tinto, a 3 de março de 2025

Pedro Lopes Adão (n. 2001, Porto, Portugal) começou a sua carreira na escrita aos 15 anos de idade, principiando a sua jornada com a poesia que, mais tarde, se estendeu para a crítica literária. Tem colaborado com diversos meios de divulgação cultural, como a revista Devaneio, de cuja redação é membro, a Comunidade Cultura & Arte, a Revista Kametsa, a Revista Mirada, o Ruído Manifesto, etc. Após ingressar na Faculdade de Letras da Universidade do Porto foi convidado a participar na Revista Alegre e a integrar a antologia 110 Anos, 110 poetas (org. Isabel Morujão). Entretanto publicou as obras Palavra em Queda, (ed. Glaciar, 2022), Os Amorosos & Os Odiados, (ed. Lema d'Origem, 2023), e Ars Longa, Vita Brevis, (ed. Glaciar, 2023). Recentemente tem organizado antologias sobre as principais figuras culturais portuguesas, alcançando os repositórios das mais prestigiadas universidades mundiais.

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