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Notícias

A Cinemateca em setembro… e mais além

Antevisão da programação dos últimos meses de 2025

Tal como no início do ano, a programação da Cinemateca encerra o ano de 2025 sob o signo do western. Mas os últimos meses do ano vão muito para lá de índios e cowboys. Eis a antevisão da programação para os últimos meses do ano na Barata Salgueiro.

 

Setembro

Revisitar os Grandes Géneros: o Western (III)

Na terceira e última parte do grande Ciclo dedicado ao western, olha-se para o que resta do género no cinema americano e internacional. Westerns contemporâneos de realizadores tais como Kevin Costner, Clint Eastwood e Quentin Tarantino misturam-se com filmes em que o universo e a mitologia do faroeste estão implícitos ou são desconstruídos. Abre-se espaço “para elas”, realizadoras tais como Barbara Loden, Kelly Reichardt, Chloé Zhao e inclusive Valeska Grisebach, para se repensar o género num prisma novo e, acima de tudo, não necessariamente masculino. Destaca-se ainda neste programa a afirmação progressiva do western como um “hiper género”, quer dizer, elemento que perpassa géneros. E, nesse sentido, olha-se para obras tão díspares como a space opera STAR WARS, a animação TOY STORY, o sci-fi de terror JOHN CARPENTER’S GHOSTS OF MARS e o filme de super-heróis LOGAN como títulos repletos de elementos westernianos participantes da História da evolução do género que, apesar de algo adormecido como tal, não cessa de se transformar e de operar ativamente na linguagem do cinema contemporâneo.

Roberto Gavaldón

Ativo entre 1936 e 1977, Roberto Gavaldón foi um dos nomes maiores do cinema clássico mexicano, período que abarca os anos 1930 e 1950 e é considerado no México como a idade de ouro do cinema naquele país. Foi neste contexto, em que o cinema era criado em moldes industriais e com excelentes condições técnicas, não ficando nada atrás do melhor que se produzia em Hollywood, que Gavaldón fez carreira, contando para tal com vedetas da grandeza de Dolores del Río, Maria Félix, Pedro Armendáriz e Arturo de Córdova. A retrospetiva que lhe é dedicada em setembro é composta por cerca de duas dezenas de obras, e incluirá clássicos absolutos do melodrama como LA OTRA, LA DIOSA ARRODILLADA e DESEADA, entre muitos outros. Será o colmatar de uma falha na História da Cinemateca, que no passado apenas mostrou quatro dos 41 filmes assinados por um dos grandes realizadores do cinema clássico tout court.

Lionel Soukaz

Este ano a retrospetiva conjunta da Cinemateca com o Queer Lisboa – Festival Internacional de Cinema Queer é dedicada ao pioneiro do cinema queer francês Lionel Soukaz, falecido no início do ano. Membro do coletivo de ativistas e intelectuais FHAR (Frente Homossexual de Ação Revolucionária), Soukaz deixou a sua marca a partir das décadas de 1970 e 1980 em obras de cariz experimental e enquanto divulgador do cinema queer em França. Um cinema de uma enorme liberdade criativa que com o tempo se tornou mais autobiográfico e permitiu fazer um retrato pungente de temas como da epidemia da SIDA, de perdas pessoais e da luta diária pela sobrevivência de uma comunidade altamente discriminada. A acompanhar a retrospetiva que lhe é dedicada, a Cinemateca recebe Stéphane Gérard, o seu colaborador mais próximo dos últimos anos, para apresentar algumas das sessões e participar numa conversa com o público.

Rob Rombout

Com uma carreira iniciada no final dos anos 1970, Rob Rombout assinou mais de 30 documentários, na sua grande maioria títulos de um género que se pode definir como “cinema de viagem”. Partindo do título de um livro recente sobre a sua obra (Rob Rombout, la mise en scène du réel, de Emmanuel Mélon), o Ciclo que a Cinemateca lhe dedica integra três vertentes do seu trabalho: o cinema, o ensino e fotografia. No que ao cinema diz respeito, mostraremos as seis horas de AMSTERDAM STORIES USA, uma viagem pelos Estados Unidos em busca de locais chamados Amsterdão, assinada a meias com Rogier Van Eck, e duas curtas/médias-metragens, entre as quais LES AÇORES DE MADREDEUS, um encontro com o grupo português no auge da sua popularidade nas paisagens açorianas. Na prática do ensino Rombout, que foi um dos fundadores do mestrado conjunto DocNomads, vai dar uma aula aberta sobre os métodos do documentário que propõe, seguida de uma sessão de filmes realizados por alunos deste mestrado orientados por si. Por fim, a fotografia, paixão mais recente, estará em foco na exposição temporária On the Road, que reunirá fotografias captadas entre Bruxelas e Lisboa, cidades onde vive, e em países tão diversos como França, Vietname, Camboja, Estados Unidos da América e Grécia.

Cine-Ópera

Já começa a ser uma tradição de final de verão, vestir o fato de gala no início de setembro e ir às salas da Cinemateca assistir a um conjunto de sessões organizadas em colaboração com o Operafest Lisboa. Este ano, tirando partido do tema do festival (amores proibidos), a proposta de cruzamento entre ópera e cinema centra-se num quarteto de filmes que vão desde a adaptação de La Traviata por Franco Zeffirelli à versão de Menina Júlia, de Strindberg, assinada por Alf Sjöberg, passando por O DIA DO DESESPERO, de Manoel de Oliveira, coincidindo com os duzentos anos do nascimento de Camilo Castelo Branco. O ponto alto? HERZOG BLAUBARTS BURG / BLUEBEARD'S CASTLE, transposição para televisão de O Castelo do Barba Azul, a única ópera criada pelo compositor húngaro Béla Bartók, por Michael Powell em 1963, e que durante muito tempo permaneceu uma obra-prima pouco vista de um dos maiores cineastas britânicos de todos os tempos.

Outras sessões de setembro

Há mais para ver em setembro na Cinemateca, a começar pela colaboração com um festival de cinema recém-criado: o LAFF – Lisbon Arab Film Festival. Na segunda edição do festival dedicado à celebração do cinema árabe, a Cinemateca recebe um conjunto de sessões de cineastas que trabalham naquela região, com destaque para a obra da cineasta libanesa Heiny Srour. Para os mais novos, setembro marca o regresso das sessões da Cinemateca Júnior, da qual se destaca um programa de curtas desenhado em com o Motelx sob o mote ‘sustos curtos’, entre outras surpresas a anunciar brevemente. Por fim, no ano que se se celebra o centenário do nascimento de Vasco Granja, a Cinemateca presta homenagem a um dos grandes divulgadores da Banda Desenhada e da animação em Portugal, influência para inúmeras gerações de espectadores, com uma sessão de clássicos do cinema de animação mundial.

 

Setembro e outubro

Realizadores Convidados: João Pedro Rodrigues/João Rui Guerra da Mata

Ao longo de setembro e outubro a rubrica realizador convidado volta a desafiar uma nova dupla de cineastas: João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata. Nos próximos dois meses uma parte significativa do trabalho destes realizadores será apresentada em diálogo com um conjunto de filmes por eles escolhidos (cerca de seis dezenas, entre longas, curtas e telediscos surpresa), numa carta branca composta por 25 sessões que intitularam de Malamor / Tainted Love. Estão convocados filmes dos mais variados géneros e períodos da História do cinema assinados por cineastas como Jarman, Demy, Godard, Waters, Fulci, Almodóvar, Fassbinder ou Tsai Ming-Liang (para citar apenas alguns), na sua maioria obras nunca exibidas na Cinemateca. Organizado em parceria com a BoCA Bienal de Artes Contemporâneas, o Ciclo decorrerá entre Lisboa e Madrid, onde a Filmoteca Española apresentará uma versão mais curta do programa, e incluirá a instalação vídeo SEM ANTES NEM DEPOIS que estará patente na Sociedade Nacional de Belas Artes, entre 11 de setembro, data de inauguração do Ciclo, e 10 de outubro, além da estreia do novo filme de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, 13 ALFINETES, a exibir no encerramento do programa. Pelo meio, lançar-se-á mais um Caderno da Cinemateca, dedicado à obra dos dois cineastas.


Outubro

Alain Delon

Um dos ícones máximos do cinema francês e europeu dos anos 1960, Alain Delon marcou inúmeras e variadas gerações de cinéfilos. Dos fãs de um cinema mais popular aos adeptos do cinema dito de autor, poucos ficaram indiferentes à sua presença felina e magnética, por vezes simplesmente silenciosa, como tão bem soube captar Jean-Pierre Melville, o mais americano dos realizadores franceses, numa das suas obras-primas LE SAMOURAÏ. Um ano depois do seu desaparecimento, a Cinemateca propõe um conjunto de sessões que percorrem as várias facetas do ator que primeiro encarnou a enigmática personagem de Tom Ripley, o mestre do disfarce por excelência criado por Patricia Highsmith. Um percurso que passa pelo encontro com grandes mestres do cinema mundial, de Antonioni a Zurlini, de Godard a Losey, passando por Melville e Visconti, dois dos cineastas que melhor o filmaram. Cerca de duas dezenas de títulos para ir ao encontro do mistério Alain Delon, numa retrospetiva organizada em colaboração com a Festa do Cinema Francês.

William Greaves

Cineasta afro-americano de múltiplas causas e de talentos vários, William Greaves é um dos segredos mais bem guardados na História do cinema independente e de natureza documental. O seu filme mais celebrado, o hoje “clássico de culto” SYMBIOPSYCHOTAXIPLASM: TAKE ONE, esteve esquecido durante mais de duas décadas, sendo hoje reconhecido, nomeadamente por Steven Soderbergh, como um marco do cinema experimental e vérité. Mas “SYMBIO” (abreviatura com que ficou conhecido) é só a ponta do icebergue de uma obra profundamente engajada e polivalente, resultante da formação inicial de Greaves como ator do Actors Studio, da sua afirmação como cineasta na “escola canadiana” do cinema direto (de que é exemplo o impactante EMERGENCY WARD) e, depois, no cinema e na televisão norte-americanas, dando voz a quem não a tinha, nomeadamente a membros da comunidade afro-americana (servem de exemplos o intenso “psicodrama” IN THE COMPANY OF MEN e o histórico documentário NATIONTIME, sobre a Convenção Política Nacional Negra realizada em Gary, Indiana, em 1972). A amostra muito completa da sua obra, reunida pela mão da Cinemateca Portuguesa com o Doclisboa, dar-nos-á a descobrir um “elo em falta” na História do documentário e do cinema independente, ponto de articulação entre a performance, a realização e a ação política e social.

 

Novembro

Cinema Experimental Português

Ana Hatherly, Luís Noronha da Costa, Ernesto de Sousa, António Palolo, Carlos Calvet, ou Julião Sarmento, são alguns dos artistas portugueses que, nos anos sessenta ou setenta, expandiram a sua prática artística ao cinema, prosseguindo, por outras vias, experiências que vinham a desenvolver em áreas como a pintura, a escultura, o desenho ou a fotografia, ou no cruzamento entre estes vários meios. Em novembro, exibiremos na Cinemateca obras fílmicas destes e de outros artistas que começaram a trabalhar sobretudo com película de pequenos formatos, procurando interrogar as origens de um cinema dito cinema experimental feito em Portugal.

 

Novembro e dezembro

William A. Wellman

William Wellman ficou para a História da Academia como o realizador do primeiro filme a conquistar o Oscar de Melhor Filme em 1927 (o glorioso WINGS, um dos últimos grandes épicos do mudo norte-americano, que daria a Gary Cooper o seu primeiro grande papel), mas este foi apenas um dos cerca de 80 títulos que assinou entre os anos 1920 e o final da década de 1950, atravessando aquele que é considerado o período áureo de Hollywood, onde foi um dos mais inovadores. Apadrinhado por Douglas Fairbanks Sr., que o lançou no métier do cinema após uma aterragem forçada do avião de Wellman no campo de polo do ator, o cineasta subiu a pulso para se tornar o autor de memoráveis filmes de guerra, histórias de gangsters, westerns e comédias. Eram sobretudo retratos de homens (mas não só, como o provam filmes como NIGHT NURSE, SAFE IN HELL ou WESTWARD THE WOMEN) que aproximam a sua filmografia da de nomes como John Ford ou Howard Hawks, duas das maiores lendas que percorreram os estúdios na mesma época. Dono de um feitio difícil (não são raras as histórias de conflitos com os atores que dirigiu) deixou uma obra onde encontramos títulos como THE PUBLIC ENEMY (enorme rampa de lançamento para o então desconhecido James Cagney), a primeira versão de A STAR IS BORN ou THE OX-BOW INCIDENT, um western que mantém aos dias de hoje uma arrepiante atualidade. Uma grande retrospetiva para acompanhar nos dois últimos meses do ano.


Dezembro

Ritwik Ghatak

Uma retrospetiva da obra de Ritwik Ghatak (1925-1976), um dos maiores nomes do cineasta indiano do pós-Segunda Guerra e autor de oito brilhantes longas-metragens, às quais regressamos em dezembro, procurando mostrar ainda parte das curtas e dos documentários que realizou, assim como filmes mais raros, que revelaremos em sala. Cineasta com uma obra revolucionária do ponto de vista estético e uma influência determinante no moderno cinema indiano, esta tem também um cunho eminentemente político, refletindo muito particularmente sobre a partição de Bengala em 1947, questão que atravessa tanto a sua prática cinematográfica como a obra escrita.

Maya Deren

Cineasta, coreógrafa, bailarina, escritora, Maya Deren (1917-1961) foi uma das grandes pioneiras do cinema de avant-garde norte americano. Tendo começado a filmar ainda nos anos 1940, foi autora de uma obra curta, mas singularíssima, que em dezembro mostraremos na Cinemateca na sua integralidade, incluindo-se várias obras em colaboração, como o conhecido MESHES OF THE AFTERNOON (1943), o seu primeiro filme, corealizado com Alexander Hammid. Deren foi ainda autora de importantes escritos sobre cinema.

 

A partir de setembro

Viagem ao Fim do Mudo

O cinema mudo ganha um lugar (mais) permanente na programação anual da Cinemateca com cada sessão do programa a ganhar a dimensão de um grande evento cinematográfico e também musical. Clássicos de um período que irá sensivelmente de 1921 a 1930 serão mostrados, alguns em cópias restauradas, e acompanhados ao piano por pianistas especializados na arte de musicar filmes mudos: Daniel Schvetz, Filipe Raposo e João Paulo Esteves da Silva. O regresso da programação após o mês especial de agosto é marcado pela exibição de THE WIND, filme americano do mestre sueco Victor Sjöström, "uma das obras mais telúricas da História do cinema" (Manuel Cintra Ferreira). Esta sessão “inaugural” será oferecida aos espectadores da Cinemateca, mediante o levantamento de ingresso uma hora antes do início da sessão (máximo 2 bilhetes por espectador). A programação de cinema mudo continua ainda nesse mês com o clássico BRONENOSETS POTYOMKIN (O Couraçado Potemkine), de Serguei Eisenstein, e encerra-se o primeiro mês desta temporada com DER LETZTE MANN (O Último dos Homens), de F. W. Murnau. Ficam prometidas para o que resta do ano obras intemporais de grandes nomes da História do cinema, tais como Charles Chaplin, Erich von Stroheim, Ernst Lubitsch e Alfred Hitchcock. Estas temporadas de cinema mudo continuam até 2027, ano em que passam 100 anos desde o nascimento do sonoro ou sobre o princípio do fim desta magnífica história.

 

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