A produção minuciosa e emotiva junta-se à serenidade do lugar, e dessa fusão resulta uma experiência musical que é, ao mesmo tempo, íntima e grandiosa.

Ao unir música e imagem, introspeção e espetáculo, melancolia e esperança, MIRANDA afirma-se como o projeto português de Cinematic Pop. Um universo sonoro épico e sensível que recorda que a arte pode nascer do isolamento, mas ganha a sua verdadeira força quando se abre ao mundo e toca o coração de quem a ouve.

O primeiro álbum de MIRANDA, Un_Love, sai dia 17 de outubro pela editora Harmrecords. Para além das plataformas de streaming, o álbum estará disponível em formato CD, cuja embalagem é feita artesanalmente em madeira e veludo por João P. Miranda.

Este disco desenvolve-se a partir de uma questão essencial: é possível desamar ou apenas perder um amor? Essa ambiguidade percorre todo o disco de MIRANDA, feito de canções que se movem entre a dor do desencontro e a esperança luminosa do reencontro, mostrando que a melancolia pode conviver com a persistência e a beleza do amor. Mais do que um lamento, Un_Love assume a melancolia como um estado de alma, um fado contemporâneo em que a perda não apaga o sentimento, antes o transforma numa presença diferente: a memória, a saudade, a persistência do amor mesmo nas ruínas. Mas ao mesmo tempo, o álbum abre espaço para a esperança de voltar a amar — seja reencontrando o amor perdido, seja descobrindo um novo caminho onde a dor se converte em renovação.

Musicalmente, o álbum veste estas emoções com orquestrações grandiosas, atmosferas cinematográficas e vozes sensíveis que dão corpo a essa contradição. Porque, no fundo, desamar pode ser impossível – podemos deixar alguém, mas raramente deixamos de carregar o rasto desse amor, e é dessa marca que também nasce a coragem de amar novamente.

Embora seja um projeto de uma só pessoa em estúdio, MIRANDA ganha diferentes vozes através de colaborações. No primeiro álbum, João convidou três cantoras para interpretarem as músicas, trabalhando com cada uma as melodias e nuances vocais: a ilustradora Liliana Bernardo, Rita Rice (The Voice Portugal 2019, Gospel Collective e corista de Bárbara Tinoco) e Cat Falcão (Golden Slumbers, Monday).

“I Wish”, segundo single do disco, é uma canção poderosa e profundamente poética sobre o desejo de ser verdadeiramente tocado, sobre a dor silenciosa de um amor que não se realiza, e a frustração de oferecer tudo a alguém que permanece fechado, distante. A letra habita o espaço entre o que se sente e o que nunca se diz. É um retrato íntimo do vazio que existe quando as palavras já não chegam — ou quando chegam tarde demais.

Com imagens marcantes e emotivas — “Esta tapeçaria que teci, foi só para os teus pés” ou “Tu és uma tempestade fraca, à espera de rebentar” — a canção fala de vulnerabilidade, da espera, do desejo por um abalo emocional que traga verdade, mesmo que venha com dor. Há um pedido constante para que o outro seja presença, impacto, verdade — mesmo que como furacão.

No centro desta paisagem emocional está a voz extraordinária de Liliana Bernardo. Mais conhecida como ilustradora, aqui revela-se como intérprete de rara intensidade. A sua voz percorre territórios profundos e ricos — grave, densa e cheia de alma nos versos mais contidos, mas também capaz de se elevar com brilho e vulnerabilidade nos agudos, revelando uma impressionante gama dinâmica. Cada verso é vivido, não apenas cantado. A sua interpretação é uma entrega total — ora sussurrada, ora em explosão emocional — que traduz na voz tudo aquilo que as palavras já não conseguem carregar sozinhas.

Musicalmente, a canção constrói um ambiente hipnótico e cinematográfico, no espírito de MIRANDA. Versos sussurrados, misteriosos e sensuais abrem caminho para refrões grandiosos, onde a contenção se transforma em explosão emocional. Elementos orquestrais ganham corpo através de camadas nostálgicas de Mellotron — com o seu timbre antigo, belamente imperfeito, que parece surgir de uma memória longínqua. Do início ao fim, a Fender Stratocaster com Spring Reverb mantém-se como um fio condutor emocional, tecendo atmosferas líquidas e suspensas. A cereja final é o pianorgan Farfisa — um clássico instrumento italiano dos anos 60 — que acrescenta textura e uma vibração intemporal, evocando um tempo que nunca chega a ser definido, mas que se sente profundamente.

MIRANDA apresenta-se ao vivo dias 16 de janeiro em Portalegre, no Centro de Artes e Espectáculos, e 17 de janeiro em Coimbra, no Salão Brazil. Para transpor o universo de Un_Love para os palcos, João P. Miranda expande MIRANDA numa experiência ao vivo. Além das vocalistas convidadas, junta-se em concerto o baterista João Sousa (Raquel Tavares, Frankie Chavez, Lusitanian Ghosts, Murdering Tripping Blues) e o guitarrista/ teclista Telmo Lopes. Juntos, recriam em palco a riqueza instrumental e a atmosfera das gravações, dando vida às camadas orquestrais e eletrónicas diante do público.

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