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Lançamento do álbum "Pinga Amor" de Marta Fora do Tom
São nove as músicas de que se faz este soneto de separação, a lembrar os de repentes de Vinícios de Morais e, ao mesmo tempo, a ideia de que o tempo é uma coisa que se repete, mas também ilusão de linearidade, sempre na distorção da percepção, que é condição própria da existência, essa impressão da transversalidade, intemporalidade. Repetição.
Pinga Amor é sobre amor. Claro. Aquele amor onde nos acontece confundir os limites do imaginável com os limites do possível. Uma tentativa (bem conseguida) para dar sentido à perda. O álbum está cheio de elementos, os elementos: terra, água de maré (outra vez o ciclo), água de chuva, água de tristeza, espuma, fogo, naturalmente esse fogo da duplicidade aquecer-queimar. Nove músicas, gravidez de um luto.
E amar, mesmo assim. Que é, assim, que nos descobrimos. Foi assim, e vai ser assim, Marta, que ela se vai descobrindo, tanto nas suas profundezas como (n)os seus limites, na relação, onde nos ferimos, e onde encontramos grande parte da (nossa) cura. E isso, pensava eu enquanto ouvia, isso, é estar vivo, ir vivendo.
No fim, parece-me, e apesar das nódoas negras, os lenços pouco enxutos, o coração que já se abriu e já se cortou as vezes que precisaria para saber como e quanto dói, ainda assim, parece-me que há nesta Pinga Amor uma certeza da curiosidade. O reconhecimento, subtil, ode aos crustáceos e à natureza, em geral, de que, também em geral, depois do anoitecer, chegará outro sol, outra luz, depois do tempo lentificado, de reparação, estaremos possivelmente prontos para outra. Para mim, este Pinga Amor, tem tanto de lamento, como de atrevimento. Assim mesmo. Encore.
Pinga Amor é o primeiro álbum de Marta Fora do Tom, heterónimo musical de Marta de Carvalho, artista interdisciplinar em constante (des)construção.
É um projeto independente. Composições, arranjos, guitarras, baixos, sopros, pela própria, com produção musical de Catarina Branco e participação de Fred Severo, Malva, Mariana Camacho e o Coro dos Colegas da Ilga, Ana Cláudia e Luís Severo.
Texto de Inês Peceguina
Instagram - @martaforadotom

