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Parques de Sintra recupera Horta dos Príncipes do Palácio Nacional de Queluz
Nos Jardins do Palácio Nacional de Queluz, arrancaram os trabalhos de recuperação da Horta dos Príncipes, com o intuito de restituir ao espaço não apenas a sua coerência histórica e formal, mas também a sua função contemplativa, educativa e representativa.
A Horta dos Príncipes é parte integrante do Bosquete — componente fundamental do jardim barroco de Queluz —, cuja autenticidade será reforçada com esta intervenção.
João Sousa Rego, presidente do Conselho de Administração da Parques de Sintra, salienta: “para uma experiência cultural e turística diferenciadora, queremos que os visitantes do Palácio Nacional de Queluz sintam e compreendam a essência dos seus jardins setecentistas ao estilo francês, que, com a passagem do tempo, foram sofrendo alterações. A intervenções levadas a cabo neste espaço visam devolver-lhe as características originais e a Horta dos Príncipes não é exceção. O projeto de recuperação foi desenvolvido por uma equipa pluridisciplinar composta por historiadores, arquitetos paisagistas e conservadores-restauradores, que se dedicaram a compreender e a salvaguardar este património, contribuindo para sua valorização e sustentabilidade.”
Os trabalhos em curso contemplam a execução de um pavimento em saibro de granito amarelo estabilizado com cal hidráulica, material historicamente utilizado nos jardins do palácio de Queluz no século XVIII. Incluem, igualmente, a recuperação do canalete de irrigação, restituindo o traçado original e recorrendo a materiais tradicionais. Proceder-se-á, ainda, ao restauro dos componentes pétreos e azulejares das floreiras, com substituição dos elementos dissonantes, preenchimento de lacunas de vidrado e a sua reintegração cromática, bem como à conservação da pintura mural presente numa das floreiras. As peças de cantaria, como o lago, o banco e o brasão decorativo, também serão recuperadas.
A intervenção, com a duração estimada de seis meses, representa um investimento de cerca de 234 mil euros e vem complementar os trabalhos de conservação e restauro dos azulejos e dos elementos decorativos em pedra, nomeadamente, canteiros, alegretes e bancos, que foram realizados em 2023.
Um espaço de aprendizagem e de amor pela natureza
Localizada no maior talhão do Bosquete, junto ao Jardim Pênsil, a Horta dos Príncipes ocupa uma área de cerca de 1620 m². A palavra Bosquete vem do termo francês bosquet (que por sua vez, deriva do italiano bosquetto) e define um pequeno bosque, que era um elemento essencial no programa dos jardins setecentistas ao estilo francês e considerado o seu maior ornamento, porque realçava as partes planas — os parterres e os lagos — ao mesmo tempo que controlava o efeito de perspetiva através do prolongamento dos grandes eixos e das áleas do parque.
A Horta dos Príncipes é uma construção muito tardia, de finais de século XIX, e destinava-se ao cultivo de legumes comuns e exóticos, entre flores, plantas aromáticas e canteiros de buxo. Pensa-se que esta área tenha sido usada na educação dos jovens príncipes, estimulando o amor pela natureza, tão caro à Família Real, e a aprendizagem da Botânica e da História Natural. A disposição da horta reflete a organização ideal proposta por Jean de La Quintinie no tratado Le Parfait Jardinier de 1695 e corresponde à lógica compositiva do Bosquete representada na planta da biblioteca do Rio de Janeiro, de meados do século XVIII. Evocando a sua função original, os canteiros ainda hoje são usados para pequenas plantações hortícolas.
Intimamente ligado às vivências de três gerações da Família Real Portuguesa, o Palácio Nacional de Queluz e os seus jardins históricos constituem um conjunto patrimonial de referência na arquitetura e no paisagismo portugueses. O seu importante acervo reflete a evolução dos gostos e estilos da época, passando pelo barroco, o rococó e o neoclassicismo.

