"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Notícias

Frank Gehry, Jenny Holzer, Alice Neel, Filipa César e Maguy Marin no 2026 de Serralves

Programa da instituição portuense para 2026 foi apresentado esta semana. Retrospetiva do cinema de Miguel Gomes (com carta-branca incluída) também no lote de apostas.

A norte-americana Jenny Holzer ocupará o museu e a biblioteca de Serralves entre junho de 2026 e janeiro de 2027. © Tate Marcus Leith/Cortesia Fundação de Serralves
Uma grande exposição dedicada ao trabalho de Frank Gehry, influente arquiteto que morreu no início deste mês, aos 96 anos. A primeira grande apresentação individual em Portugal de Jenny Holzer, artista conhecida por questionar noções de poder e controlo, por exemplo, através do uso da palavra escrita no espaço público. A “dignidade perante o apagamento social” na pintura de Alice Neel. A veterana coreógrafa francesa Maguy Marin, um foco dedicado ao músico Stephen O’Malley — guitarrista fundador do grupo Sunn O))), referência da intersecção entre metal e drone —, a primeira retrospetiva exaustiva da obra de Filipa César, artista multidisciplinar portuense. São estes alguns dos destaques do programa da Fundação de Serralves para 2026, apresentado esta terça-feira de manhã na biblioteca da instituição portuense.

Coube a António Choupina, diretor do departamento de Arquitetura da Fundação de Serralves, descrever a exposição centrada no trabalho de Frank Gehry, que estará patente na Ala Álvaro Siza entre os meses de maio e novembro, como o provável “blockbuster do ano” para a instituição. Serão recordados, através de maquetes, desenhos, fotografias, esculturas e outros materiais, mais de 25 projetos do arquiteto que colaborou com Vlado Miluni? no desenho da Casa Dançante, em Praga, e que projetou ainda edifícios como o Museu Guggenheim, em Bilbau, o Vitra Design Museum, em Weil am Rhein, Alemanha, e o Auditório Walt Disney, na Califórnia.

A exposição, no âmbito da qual o canadiano-americano estava a colaborar com Serralves até à sua morte, chamar-se-á O Século de Gehry, pretendendo, disse Choupina, mostrar como esta figura, conhecida pelo traçado distintivamente curvilíneo de vários dos seus projectos mais emblemáticos, “foi moldando o século XX e continua a moldar o XXI”.

No que toca à exposição de Jenny Holzer, esta ocupará o museu e a biblioteca de Serralves entre junho de 2026 e janeiro de 2027. “Pedras, t-shirts, chávenas, preservativos, tudo o que consiga receber texto” é aproveitado pela artista norte-americana como dispositivo, disse Philippe Vergne, director do Museu de Serralves. Holzer, acrescentou ainda, “apropria-se” de slogans e de tweets redigidos por líderes mundiais, por exemplo, para falar de violência e fazer um retrato de uma “sociedade saturada por bisbilhotice e factos distorcidos”.

Antes disso, tempo, de janeiro a maio, para um projeto que chegou a estar planeado para 2025: a retrospetiva de Filipa César, que, oscilando entre o cinema e as artes visuais, é, como procurou sintetizar Vergne, uma importante investigadora dos movimentos de “resistência” anticolonial e “emancipação cultural”, “sobretudo” no contexto da Guiné-Bissau. A exposição terá o nome Meteorizações.

A primeira grande mostra em Portugal de Lee Ufan, sul-coreano de quase 90 anos que se movimenta entre a pintura, a escultura e a instalação, ocupará a casa e o parque de Serralves entre julho de 2026 e janeiro de 2027. Na mesma altura, estará patente na Ala Álvaro Siza a exposição Beautifully Imperfect, dedicada à americana Alice Neel, “uma das pintoras mais importantes do século XX”, como sugeriu Philippe Vergne.

Composta por retratos realistas (e, muitas vezes, “aparentemente inacabados”) de amigos e desconhecidos, “a exposição aborda a intimidade, o corpo feminino, a maternidade, o envelhecimento e as faces esquecidas da sociedade”, lê-se num extenso caderno da Fundação de Serralves com os conteúdos da programação para 2026. A programação construída em torno de Beautifully Imperfect inclui uma série de “micro-coreografias” que Vera Mantero foi convidada a fazer nas galerias do Museu de Serralves, em “diálogo ou confronto” com as pinturas de Neel.

“Inspirada pelos debates pós-coloniais e decoloniais”, e cruzando “performance, vídeo, instalação, moda e redes sociais”, Sagg Napoli “questiona as noções de voz, narrativa e legitimidade de presença em contextos institucionais”: a artista italiana exporá o seu trabalho na Galeria Contemporânea de Serralves entre março e setembro do próximo ano. Já o fotógrafo Pedro Henriques, que em 2014 venceu o prémio Novo Banco Revelação, regressa ao museu da fundação portuense entre os meses de abril e novembro.

Sunn O))) em julho

Sucedê-lo-á, entre novembro e abril de 2027, o videoartista albanês Anri Sala, que, sugere o dossier da fundação, “articula imagem, som e espaço arquitetónico em experiências sensoriais e imersivas”. No seu trabalho, disse Vergne, “a música torna-se um substituto da linguagem”, assim como “uma forma de traduzir um momento da história e memória coletivas”.

Do programa de exposições fazem ainda parte propostas que desvendarão fragmentos da Coleção de Serralves, como a mostra centrada nas obras da Coleção Duerckheim que a fundação portuense recebeu em depósito no final do ano passado. Esta exposição, centrada, como disse Philippe Vergne, no “trauma da guerra”, estará patente no museu entre maio e novembro.

Em matéria de artes performativas, destaque para a veterana coreógrafa e bailarina francesa Maguy Marin, nome fulcral da dança contemporânea que em novembro, no âmbito de um foco criado em articulação com o Teatro Nacional São João, revisitará as suas criações Les applaudissements ne se mangent pas e Singspiele. Destaque, também, para uma criação inédita que integrará a edição de 2026 do festival Dias da Dança (a decorrer, como habitualmente, em Abril) e que juntará à companhia madeirense Dançando com a Diferença a coreógrafa marroquina Bouchra Ouizguen.

Também a dupla de coreógrafas brasileiras Marcela Levi e Lúcia Russo integra o lote de apostas (com a apresentação de 3 Contra 2: Psico Trópicos marcada para maio), tal como Gustavo Ciríaco, que em outubro celebrará os 30 anos do seu percurso. Da programação farão também parte iniciativas ligadas ao projeto europeu Perform Inform Transform (PIT), do qual Serralves faz parte e que, segundo Cristina Grande, curadora de Serralves na área da dança contemporânea, pretende, por exemplo, refletir sobre a relação da dança com os museus e vice-versa.

Na música, o destaque vai para o concerto dos Sunn O))) em julho, ponto principal do foco dedicado a Stephen O’Malley. A compositora de música eletrónica Jessica Ekomane, colaboradora de Laurel Halo nascida em França e radicada em Berlim, e Pedro Melo Alves, um dos grandes bateristas do circuito jazz/experimental português, também se apresentarão, em outubro e novembro, respetivamente.

No que ao cinema diz respeito, 2026 será um ano para rever, na Casa do Cinema Manoel de Oliveira, a obra de Miguel Gomes, que em 2024, ano de Grand Tour, regressou do Festival de Cannes com o importante Prémio de Realização na bagageira. A retrospetiva do cineasta, autor também de Aquele Querido Mês de Agosto, As Mil e Uma Noites, ou Tabu, acompanhará uma exposição construída a partir do seu arquivo pessoal e centrada nos seus métodos de trabalho. “Ele inventa um método para cada novo filme que faz”, salientou o diretor da Casa do Cinema Manoel de Oliveira, António Preto.

Este frisou também que Serralves deu carta-branca a Miguel Gomes para o realizador programar um ciclo de cinema que dialogue com a sua própria obra. Carta-branca foi dada também a Luis Miguel Cintra, que em janeiro programará alguns dos filmes da sua vida (também esta proposta havia sido originalmente pensada para 2025). A exposição dedicada ao acervo pessoal de Miguel Gomes estará patente entre setembro de 2026 e março de 2027.

Festivais que são já imagem de marca da Fundação de Serralves, como o Serralves em Festa ou O Museu Como Performance, vão, também eles, regressar em 2026. A próxima edição do Serralves em Festa, a acontecer entre 29 e 31 de maio, será a vigésima.


por Daniel Dias in Público | 17 de dezembro de 2025
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

Agenda
Ver mais eventos

Passatempos

Visitas
117,226,989