“Talvez devêssemos recomeçar tudo”, pondera Vladimir. “Pode-se começar de onde se quiser”, afirma Estragon. É o que dizem as personagens de À Espera de Godot, espetáculo que assinala, no próximo dia 7 de março, o fim do ano do Centenário do edifício-sede do Teatro Nacional São João (TNSJ). A peça vai estrear-se no palco do São João, com transmissão online e em direto no domingo, pelas mãos do encenador Gábor Tompa. Mas, ainda antes da apresentação da produção própria, há espaço para um programa virtual de conversas, entrevistas, documentários e outros espetáculos. As iniciativas arrancam já este sábado, às 18h00, com uma conversa sobre o espetáculo Exatamente Antunes e terminam no dia seguinte, às 22h00, com O Balcão, espetáculo encenado por Nuno Cardoso, diretor artístico da Casa.

Como o “teatro começa todos os dias e todas as noites”, no sábado, após a conversa na sala virtual do São João (em tnsj.bol.pt) vai ser possível revisitar o espetáculo Exatamente Antunes na RTP2, uma obra de Jacinto Lucas Pires que parte da reescrita do romance Nome de Guerra, de Almada Negreiros. Já no domingo, às 08h00, o convite é para uma Visita guiada ao TNSJ, um documentário de Luís Porto, que dá a conhecer o edifício centenário. Segue-se a apresentação digital de Válvula, às 10h00, uma criação de António Jorge Gonçalves e Flávio Almada que se “situa algures entre a conferência e o concerto, articulando palavras, desenhos e canções”. E como o Natal é quando o Homem quiser, às 16h00, são “servidas” três ceias natalícias, através das quais vão ser conhecidas as vidas de três casais disfuncionais em Comédia de Bastidores. Os bilhetes para os espetáculos têm o valor de 2 euros. Mais informações em www.tnsj.pt.

Uma tragicomédia em dois atos onde “nada acontece, duas vezes”

À Espera de Godot partiu do desafio que o São João lançou ao encenador multipremiado Gábor Tompa. O também presidente da União dos Teatros da Europa – organização que congrega alguns dos mais importantes teatros públicos europeus e da qual o TNSJ, enquanto único membro português, faz parte – revisita assim o clássico de Samuel Beckett, como um maestro que recria, com músicos diferentes, uma “estrutura musical de uma assombrosa precisão”. Neste caso, com atores que fazem parte do elenco “quase” residente da Instituição. A produção própria da Casa escolhida para assinalar o encerramento das celebrações do Centenário do São João estreia-se no domingo, às 19h00, no seu palco online, numa transmissão em direto que conta com a realização de Luís Porto.

Dois palhaços-vadios, Estragon e Vladimir, fazem tempo, entretidos com jogos de sobrevivência. Mas à espera de quê? Salvação do sofrimento, da angústia ou apenas da realidade? Talvez um milagre. Em À Espera de Godot, Gábor Tompa serve-se do texto original e, respeitando o seu espírito, faz acontecer algo para lá da espera, terminando com a obra coral de Fernando Lopes-Graça. “Queria expandir um pouco a peça e ter uma canção portuguesa (…) Há tantos milagres a acontecer ao nosso redor e a que não prestamos atenção: uma árvore que reverdece, a forma como a música e a arte tocam as pessoas”, conta o encenador. Às 12h00, é ainda possível assistir a uma entrevista a Gábor Tompa nos canais digitais da Casa. O bilhete da peça tem o custo de 2 euros.