"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Exposições

A skeleton walks into a bar... (Um esqueleto entra no bar...)

Silhuetas emergem de uma bruma densa e luminosa.

6 Abr a 24 Abr 2021

Fundação Leal Rios
Rua Centro Cultural, 17 - B 1700-106 Lisboa (Alvalade)
Preço
Entrada livre

Esferas dissolvem-se em parenteses, átomos hipertrofiados do tamanho de melões, lingotes de carne lunar e, depois, bocais e mamilos estranhos, como se o Ser fosse algo imaterial, líquido, a escorrer de um tubo. A etimologia de galáxia é gala, a palavra grega para leite.

Talvez estas imagens sejam distrações. Epifenomenais à sua própria realidade, pequenos grãos de escuridão que criam luz pela sua oposta ausência: átomos de carbono sobre o vazio do alumínio.

O carvão e a folha metálica tornam-se metáfora pela sua própria especificidade, mas sob a beleza da sua forma projectada está apenas um esboço de densidade e demarcação.

Será aquilo um halo sem santo ou anel de saturno isolado? O prepúcio de Cristo ou um fragmento casual de matemática? Quando os intervalos são puramente uma questão de proporção relativa, será que o tamanho importa?

Imagens que consistem em nada mais que luz manipulada, de inexorável perfeição, a metáfora mais antiga de todas – dia e noite, bem e mal, a luz como Ser e escuridão como não-Ser – o mesmo em complexidade crescente, mas o que é que isso interessa?

Yin e Yang entram num bar.. Yin diz bebo uma caneca desse Ser, Yang diz tomo o mesmo, mas quero uma Weissbier e uma Schwarz. Cerveja preta com espuma branca, cerveja branca com preta. Os alemães sempre tiveram uma queda para a ontologia. O barman pergunta porque é que o monge Zen não aspirou os cantos do quarto? Não sei, diz um, porquê? Porque não tinha acessórios. Tem graça, diz o outro. E a harmonia é restaurada.

O vazio* pode ser transformado em verbo**, mas geralmente, é um substantivo ou adjectivo. Como na antiquada platitude cosmológica “a natureza abomina o vazio.” Sabemos agora não ser verdade. A maior parte do universo é vazio, vazio em expansão, a luz capturada na sua expansão, estendendo e alterando-se para vermelho como o feixe luminoso de uma sirene. Para ser franco, o movimento das estrelas ultrapassa-me.

O antigo filósofo Demócrito, que ainda é lembrado pelo seu atomismo austero, (uma espécie de física quântica prototípica), também era conhecido pela sua gargalhada persistente perante o absurdo de pensarmos que sabemos seja o que for. Não existe nada além de átomos e vazio, escreveu. O resto é opinião.

Se a arte deve ser simultaneamente simples e complexa, ele parece estar a cumprir a sua tarefa.

Alan Fishbone, novembro 2020

Alan Fishbone é um escritor que vive e trabalha num veleiro na cidade de Nova York. Estudioso de literatura clássica, Fishbone tenta incorporar e renovar aspectos da linguagem e da literatura antigas nos seus próprios textos.

*Nota de tradução:
No texto original, o termo utilizado é vacuum (vácuo), fazendo um jogo de palavras entre o acto de aspirar (to vacuum; citado no parágrafo anterior) e o conceito de vácuo, vazio.

Por uma questão de dificuldade na correspondência entre a línguas, inglês e português, optou-se por adoptar o termo vazio como tradução de vacuum.

**Como em esvaziar.
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