Venus degli Stracci reúne uma figura icónica da cultura clássica com os detritos da sociedade contemporânea, enquanto a sólida deusa romana sustenta uma pilha formada aleatoriamente de roupas de segunda mão de cores vistosas. Na verdade, a figura é baseada numa estátua kitsch encontrada num centro de jardim, em vez de uma antiguidade genuína.

A conceituada obra Venere degli Stracci (Vénus dos Trapos) de Pistoletto data de 1967, já deteve vários significados atribuídos ao longo do tempo, desde o consumismo, reciclagem, exclusão social e migração.

Nas palavras de Renzo Barsotti “Venere degli Stracci (Vênus dos Trapos) é uma obra emblemática do séc. XX que continua a lembrar-nos que é a primazia da arte, da criatividade e da imaginação que se opõe à fenomenologia consumista na qual estamos imersos. Para a Rota Clandestina, uma plataforma dedicada à prática dos processos criativos, é um privilégio tratar da curadoria da exposição da Venere degli Stracci. Um privilégio que anda de mãos dadas com a honra pessoal de ter sido nomeado por Pistoletto, já há muitos anos, embaixador do seu Terceiro Paraíso.”

Desde 2016, esta obra tem efetuado uma longa viagem por várias cidades italianas – Lampedusa, Roma, Ventimiglia, Bolzano – particularmente influenciada pelos recentes fenómenos migratórios. Para além de ser exposta em locais de especial significância, tem estado no centro de um denso programa de encontros e ações coletivas, envolvendo organizações, instituições e variados grupos sociais, tais como os próprios refugiados ou os habitantes de zonas degradadas, dois grupos que frequentemente são representados e propositadamente colocados em antagonismo, mas que através destas iniciativas encontram uma forma de diálogo e de criativamente superarem situações de potencial conflito.

Vereador da Cultura Pedro Pina faz referência à importância de acolher uma das obras mais emblemáticas do sec. XX em Setúbal, essencialmente pelo que a mesma representa na atualidade, referindo-se aos problemas sociais e ambientais que crescem desenfreadamente na sociedade. Pelas suas palavras “É por isso que a arte e a cultura são elementos fundamentais para nos obrigarem a refletir e repensar o mundo em que vivemos.”

A obra Venere degli Stracci existe em diferentes versões, em vários tamanhos e materiais que são parte das coleções permanentes de alguns dos mais prestigiados museus do mundo, incluindo o Museu de Arte Contemporânea Castello di Rivoli, a Tate Modern em Londres, o Museu Kröller-Müller em Otterlo e o Hirshhorn Museum and Sculpture Garden em Washington e agora exposta na cidade de Setúbal. Esta obra chega a Portugal, pelas mãos do diretor artístico do projeto Rota Clandestina, Renzo Barsotti, em estreita parceria com a Câmara Municipal de Setúbal. A entrada é livre e está exposta até 20 de março de 2022.