O Simpósio Internacional Seca, Fome e Colonialismo Português em África – História e Memória é organizado pelo Instituto de História Contemporânea (IHC - NOVA FCSH), o Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia (CIUHCT - NOVA FCT), o Instituto de Ciências Sociais (ICS-ULisboa) e o Global Health and Tropical Medicine (NOVA IHMT).

Nas últimas décadas a investigação académica tem mostrado a forma como o continente africano é particularmente vulnerável à seca e à fome, e como a aridez dos solos e a pluviosidade irregular, combinadas entre si, têm tido consequências dramáticas para as populações humanas e animais e para as ecologias locais. Tem também sido demonstrado o impacto das políticas (pós-) coloniais entre os séculos XIX e XXI sobre as populações africanas e sobre as suas respostas aos fenómenos da seca e da fome, mas também destacada a forma como diferentes disciplinas científicas procuraram lidar com os diferentes desafios colocados pelas ecologias africanas. Nem todas as regiões e períodos históricos têm, no entanto, recebido a mesma atenção, continuando a existir uma lacuna significativa no que toca à compreensão da relação complexa entre seca, fome e colonialismo português em África.

Neste colóquio, estudantes de pós-graduação e investigadores de diferentes disciplinas discutem os contextos, as causas e as consequências sociais, económicas e ecológicas da seca e da fome na antiga África colonial portuguesa, e debatem as respostas que as populações e os governos deram à seca e à fome, dialogando com a investigação de relevo nas áreas da história ambiental, história do clima, história social, história imperial, história da ciência, história da saúde e história das migrações.

Desta forma aprofunda-se o conhecimento sobre a seca e a fome nestes territórios nos séculos XIX e XX, tanto através de estudos sobre contextos mais circunscritos, como através de abordagens à escala regional ou de natureza comparativa.

Reconhecendo a importância de compreender a forma como as fomes foram vividas e são lembradas nos países de língua oficial portuguesa no período pós-independência, este simpósio discute ainda a questão da memória e das experiências vividas e transmitidas de indivíduos e comunidades confrontados com perdas de vida muito significativas, dificuldades extremas e traumas.

PROGRAMA

Quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

09h00 Boas-vindas
09h30 Conferência inaugural – Heidi Gengenbach (Associate Professor of History and History
Department Chair, College of Liberal Arts, UMass Boston)

10h15 Debate com o público

10h40 Coffee-break

11h00 Sessão 1 – Variabilidade climática e impactos sociais

Food systems and drought vulnerability in Mozambique to 1830 | Matthew Hannaford (University of Lincoln)

Rainfall and floods in southern Angola and northern Namibia, 1806-1918 | William Gervase Clarence-Smith (SOAS, University of London)

Climate variability is the environmental and social history of Mozambique | Anneli Ekblom (Uppsala University)

“Hunger, hunger, yes, nothing but hunger”: Narratives of drought in southern Africa in different nineteenth century source types | David Nash (University of Brighton)

12h30 Almoço

14h00 Sessão 2 – Memórias e narrativas da fome

Seca, fome e colonialismo: narrativas da imprensa negra na Lourenço Marques colonial | Valdemir Zamparoni (Universidade Federal da Bahia)

1947: narrativas, rotas e retratos da fome em Cabo Verde | Maria Isabel Lemos (ISCTE-IUL e IELT NOVA FCSH)

As fomes dos anos 40 e a diáspora de São Tomé e Príncipe entre trabalhadores contratados cabo-verdianos: memórias pós-coloniais mediadas pela música e a dança | Rui Cidra (FCSH NOVA)

Climate and the environment in southern Mozambique. Some evidence from 19th and 20th century missionary sources | Bárbara Direito (CIUHCT - NOVA FCT)

15h30 Coffee-break

16h00 Exibição do filme Fazer pela vida na estação seca (Inês Ponte, 35’), seguida de conversa com a realizadora

17h30 Encerramento dos trabalhos do primeiro dia do Simpósio

Sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

09h30 Sessão 3 – Políticas coloniais e pós-coloniais e resistência anticolonial face
à seca e à fome

Da Psicologia da fome e incitamento à emigração aos novos cidadãos de origem cabo-verdiana em São Tomé e Príncipe e Angola | Nardi Sousa e Pedro Matos (Universidade de Santiago)

A fome e as secas no arquipélago de Cabo Verde como elementos de denúncia anticolonial e de mobilização política visando a independência (1940-1970) | Julião Soares Sousa e Sérgio Neto (CEIS20/UC)

Drought expectations: from the future projections of colonial infrastructure to present-day hydropower in southwestern Angola | Ruy Llera Blanes, Carolina Cardoso (School of Global Studies, University of Gothenburg), Helder Alicerces Bahu (ISCED-Huíla) e Cláudio Fortuna (CEA-UCAN, NOVA FCSH)

War, famine and death in the Cape Verde archipelago, 1940-43 | Pedro Aires Oliveira (IHC-NOVA FCSH)

11h00 Coffee-break

11h20 Sessão 4 - Conhecimento local, investigação e saúde

Alimentação, trabalho e colonialismo: o debate em torno da subalimentação dos trabalhadores indígenas nos Anais do Instituto de Medicina Tropical | Jéssica Evelyn Pereira dos Santos (Universidade Federal Fluminense)

Innovating on the margins: nutrition science, public health and development in former portuguese Africa | Philip J. Havik (GHTM-NOVA IHMT)

13h00 Almoço

14h30 Conclusões e debate final

16h00 Encerramento dos trabalhos do Simpósio

No final do primeiro dia (2 de fevereiro), depois do encerramento dos trabalhos, pelas 18h00, será apresentado por Daniel Alves o livro Pobreza e fome, uma história contemporânea. Temas, metodologias e estudos de caso, coordenado por Ana Isabel Queiroz, Bárbara Direito, Helena da Silva e Lígia Costa Pinto, e editado pela Imprensa de História Contemporânea.

Línguas oficiais do simpósio: Português e Inglês

Organização: Pedro Aires Oliveira (IHC-NOVA FCSH); Cláudia Castelo (ICS-ULisboa); Bárbara Direito (CIUHCT-NOVA FCT); Philip J. Havik (GHTM-NOVA IHMT).

Contacto: droughtandfaminesymposium2023@gmail.com