Inserido no Processo Revolucionário Português, iniciado em 1974, o programa habitacional SAAL promoveu uma via alternativa para a resolução das carências habitacionais das classes populares, através da transformação dos seus bairros degradados. De norte a sul do país, moradores, equipas técnicas e instituições públicas procuraram, num intenso esforço coletivo e participativo, dar voz, casa e cidade aos sectores marginalizados da população. Os 75 bairros que viram a luz do dia testemunham a riqueza, a complexidade e as contradições do processo. Com a intensa mercantilização da habitação, uma grande parte da população encontra-se hoje, e cada vez mais, em situações de grande fragilidade. A vitalidade dos modelos associativos e as estratégias de discussão da cidade desenvolvidas com o SAAL representam, por isso, uma exceção que merece ser explorada.

Quase 50 anos depois, este projeto propõe um reconhecimento das formas de vida destes bairros. Compreendê-los implica estudar os processos de implementação do programa habitacional, mas também as transformações decorrentes de um uso prolongado dos espaços e as necessidades de transformação visual, que expressam uma manifestação de pertença e identidade. A arquitetura e o espaço público servem de pano de fundo para a criação de um retrato complexo e não linear, que não se limita à tentativa de traduzir um certo interesse objetual nos casos de estudo, mas antes à tentativa de aproximação a uma realidade tangível.

Ensaio fotográfico integrado no projeto “uma arqueologia da utopia”, produzido por Ana Catarina Costa, Francisco Ascensão, João Paupério, Maria Rebelo e Ricardo Santos (https://anarchaeologyofutopia.com/)

Projecto Vencedor da 1ª Open Call em Fotografia e Território, promovida pelo CEFT/Encontros da Imagem/IMAGO Lisboa Photo.