Um jovem casal, como milhares na década dos anos 60 do século XX, confrontados com a ausência de futuro em Portugal, olha para o interior da Europa (em acelerada reconstrução após a Segunda Guerra Mundial) como a única perspectiva de uma vida digna. Partem do interior da região da Beira, de uma terra de pedras bolideiras, arriscando “ir a salto” com a ajuda de “passadores”, até França. Com o objetivo de atravessar a fronteira transmontana, passando pelos obstáculos do regime Franquista, em Espanha, e depois pelos Pirineus. Entre a desconfiança, a ignorância e a desassossegada ansiedade que assola as suas vidas, entre as situações inusitadas e os dramas subjacentes, o percurso vai-se fazendo em círculos que lembram tantas vezes a própria vida.

Francisco (Bernardo Gavina) é o rapaz que quer emigrar. Aurora (Joana Ferrajão), é a jovem mulher que o ama e a quem a Mãe de Francisco (Glória de Sousa) culpa por todos os males. Fernandes é o farmacêutico (Fábio Timor). Uma espécie de Mefistófeles negociante, amigo de Galhardo (Pedro Giestas). Este último, um homem pragmático que vê na emigração dos outros uma oportunidade de vida rentável. Nabia (Rita Queirós), é a Meiga que se revela para os que têm na fé espiritual as respostas para todas as suas interrogações e anseios.

Com o objectivo de criar uma relação emocional com o evento histórico e de asseverar qualitativamente a dramaturgia e a encenação a cargo do criador José Carretas, com quem a Urze mantém uma relação desde 2002, a partir do emblemático espectáculo “Alguém cá dentro”, o projecto artístico, sob a direcção do encenador e actor Fábio Timor e da actriz Glória de Sousa, prossegue o seu processo de criação e produção através da obtenção de acervos válidos, num trabalho de investigação coadjuvado pelo Prof. Universitário José Eduardo Reis da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Um processo de recolha de testemunhos junto de protagonistas e descendentes do acontecimento da emigração “a salto”, permitindo asseverar a qualidade do compêndio fílmico do documento cinematográfico a realizar pelo videasta José Miguel Pires

Sustentado pela obra dramatúrgica inédita, o espectáculo prossegue uma estética influenciada pela sugestiva cenografia, partilhada por José Carretas e Fábio Timor, numa relação directa com os figurinos desenhados por Margarida WellenKamp, envolvida pela original reinterpretação do cancioneiro popular a cargo do músico Paulo Araújo, sob a luminária construtivista do desenhador de luz Pedro Pires Cabral.

Como nota de relevo, sublinha-se a participação especial do coro da “Casa do Professor de Vila Real”.

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