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Teatro

A Escola da Noite e Quinta Parede apresentam "O Homem do Caminho em Lisboa"

Com encenação de José Caldas, a peça do autor brasileiro Plínio Marcos, é uma parábola que celebra a liberdade de expressão e apela ao desassossego e à inquietação, contra a paz podre dos “homens-pregos”.

© Eduardo Pinto

9 Mai a 12 Mai 2024

Teatro Taborda
Rua da Costa do Castelo, 75, 1100-178 Lisboa

Escrito originalmente sob a forma de conto, em 1987, e posteriormente adaptado para monólogo, o texto é inspirado pelo universo circense e pela cultura cigana, com os quais Plínio conviveu de perto no início da sua carreira, nos seus tempos de palhaço Frajola.

Iur – a personagem única da peça – é um dos homens do caminho: anda sem termo, não teme fazer frente ao mistério e conta-nos esta história na primeira pessoa. Tem três nomes, um dos quais é desconhecido pelo próprio Iur. Essa condição é uma forma de enganar a morte: quando chegar a sua vez, ele não vai escutar o chamamento. Declara que um saltimbanco reúne três grandes artes: contar histórias, ser mestre de enganos e o sexo. Estas artes nómadas são apresentadas como um acto de libertação dos seus públicos – os homens “fixos”, associados a uma vida rígida, burocrática e repressiva, movidos pela posse e pela ganância; e as mulheres, contidas, silenciosas e presas às vidas “secas”, ao lado dos “homens-pregos”.

As histórias de Iur, que neste espectáculo são desdobradas nas várias vozes das suas personagens, oferecem uma reflexão sobre poder, egoísmo, manipulação, luta de classes e o sentido da existência humana, no limbo entre a liberdade e as amarras que a condicionam ou oprimem. No “Português amplo” que caracteriza a sua escrita (e que serviu de argumento para reiteradas proibições às mãos da censura brasileira), Plínio Marcos denuncia ainda os preconceitos e as discriminações que marcam a vida em sociedade, em particular sobre as mulheres e sobre grupos minoritários.

Quatro sessões, de quinta a domingo
O espectáculo é a terceira peça de Plínio Marcos apresentada pel'A Escola da Noite e conta com a adaptação e a encenação de José Caldas (que em 1998 dirigiu “A Serpente”, de Nelson Rodrigues). A interpretação está a cargo de Allex Miranda, do próprio José Caldas e ainda de Juliana Roseiro. O encenador partilha as autorias do espaço cénico (com Ana Rosa Assunção, responsável pelos figurinos), da música (com Allex Miranda) e do desenho de luz (com Danilo Pinto).

Depois de uma digressão internacional com passagens pela Galiza, pela Guiné-Bissau e por várias localidades portuguesas, esta co-produção entre A Escola da Noite e a Quinta Parede estreada em Coimbra em Junho de 2023 chega agora a Lisboa para um conjunto de quatro apresentações no Teatro Taborda, no âmbito de um intercâmbio estabelecido entre A Escola da Noite e o Teatro da Garagem. As sessões têm lugar entre 9 e 12 de Maio: quinta, às 19h30; sexta e sábado, às 21h00; domingo, às 16h30. O espectáculo é recomendado para maiores de 16 anos e tem a duração de 60 minutos.

Os bilhetes, cujo preço varia entre os 6 e os 8 euros, podem ser comprados através do site do Teatro da Garagem ou reservados pelos contactos 924 213 570 / producao@teatrodagaragem.com.

O saltimbanco do Macuco, lutador pela liberdade de expressão
Plínio Marcos (1935-1999) é um dos nomes mais marcantes do teatro brasileiro do século XX. Escreveu “Dois perdidos numa noite suja” e “Abajur Lilás” (apresentadas pel'A Escola da Noite em 2004 e 2012, respectivamente) e ainda, entre várias outras, as peças “Barrela” (1958), “Quando as máquinas param” (1963), “Navalha na Carne” (1967), “Oração de um pé-de-chinelo” (1969), “Querô, uma reportagem maldita” (1979) e “Madame Blavatski” (1985). Foi considerado um “autor maldito”, com várias obras proibidas pela censura dada a alegada “obscenidade” da linguagem empregada pelas suas personagens, quase sempre figuras marginais e do “bas-fond”.

Apesar de sofrer na pele os efeitos dessa censura e de ser obrigado a viver dos livros que ele próprio vendia na rua, nos bares e à porta dos teatros, Plínio ironizava com a perseguição: foi “sempre por merecimento. Eu nunca fiz nada para agradar às pessoas”. E encontrava uma explicação: “eu falo das transas nos estreitos, escamosos e esquisitos caminhos do roçado do bom Deus, das pessoas que estão por aí se danando, que moram na beira do rio e quase se afogam cada vez que chove, daquele homem que só come da banda podre, daquelas pessoas que só berram da geral sem nunca influir no resultado”.

Nascido no Macuco, bairro portuário da cidade de Santos, Plínio resumia a sua carreira da seguinte forma, na última crónica publicada, em Outubro de 1999: “Esse sou eu: saltimbanco do Macuco, meu bairro querido, o bairro da minha vida, o pedaço de vida que me deu tutano, sustento e energia, o pedaço de mundo que forjou em mim o amor à vida e a vontade de lutar contra qualquer opressor. Por ser do Macuco, me fiz guerreiro. Por ser guerreiro, me fiz lutador pela liberdade de expressão. Por tudo isso escrevi Barrela e, depois dela, um monte de peças.” 

 
Lisboa, Teatro Taborda
(Acolhimento do Teatro da Garagem)
9 a 12 de maio de 2024
quinta-feira, 19h30
sexta-feira e sábado, 21h00
domingo, 16h30
 
texto Plínio Marcos
adaptação e encenação José Caldas
interpretação Allex Miranda, José Caldas, Juliana Roseiro
espaço cénico Ana Rosa Assunção, José Caldas
música Allex Miranda, José Caldas
figurinos Ana Rosa Assunção
luz Danilo Pinto, José Caldas
montagem Danilo Pinto, Diogo Lobo, Eduardo Pinto, Rui Valente, Zé Diogo
execução de adereços Elsa Rajado, José Caldas, Joshua G. Ford
direcção de cena Juliana Roseiro
 
> M/16 > 60 min > 6 a 8,00€
Bilhetes à venda no site do Teatro da Garagem
 
informações e reservas:
Fonte: AgendaLX
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