Teatro
“A Memória do Aqueduto”, o espetáculo improvável num reservatório desativado que vai ligar pessoas através da água
Em modo de trip-SciFi-retro-político, projeto do coletivo artístico Visões Úteis faz parte da programação FITEI e estreia a 15 de maio. Ficção ou profecia, peça explora uma distopia sobre a água que deixa de ser potável e o saneamento que ameaça engolir-nos

15 Mai a 21 Mai 2025
O teaser do coletivo artístico Visões Úteis é sugestivo, mas este é, definitivamente, um caso em que a letra condiz com a careta. Inclusive porque o espetáculo da companhia portuense, que faz parte da programação da 48.ª edição do FITEI - Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, terá palco e plateia montados num reservatório de água desativado, na zona do Amial, no Porto.
Com a estreia agendada para 15 de maio (em duas sessões, às 21h00 e às 23h00), o projeto dá continuidade às criações do Visões Úteis para sítios específicos, às vezes inusitados, e a peça apresenta-se (nos dias 16, 17, 19, 20 e 21 de maio, sempre às 21h30) como um “convite sensorial à imersão” num espaço e património únicos da cidade do Porto. E num “registo visual e sonoro sedutor”, em que uma das “mais sérias inquietações da humanidade se confunde com um ambiente retro de ficção científica”, como acentua Carlos Costa, dramaturgo, encenador e diretor artístico do Visões Úteis.
Nesta “ficção, ou profecia”, de 75 minutos, vamos encontrar um engenheiro da empresa de águas do Porto e um congénere de Atenas – “sim, parece uma peça para engenheiros, tanto mais que os intérpretes são mesmo engenheiros com experiência na gestão de águas” -, os dois em demanda de soluções para os “problemas distópicos em que as suas cidades arriscam flutuar ou afundar: a água que deixa de ser potável e o saneamento que ameaça engolir-nos”, pode ler-se na sinopse.
Desta vez, o projeto foi inspirado pela água, o seu ciclo (e preocupações em torno do tema), bem como pelo Aqueduto de Adriano (Atenas) e pelo trabalho oculto das equipas que garantem os serviços públicos de águas e saneamento.
“A Memória do Aqueduto” resulta, por isso, e também, como um “tributo a duas dimensões invisíveis sob os pés de todos os que vivem à superfície”: por um lado, as construções subterrâneas que aí se acumulam, testemunho de séculos de História; e, por outro lado, o trabalho das equipas que todos os dias mergulham no solo para garantir que tudo funciona à superfície.
Carlos Costa, que tem uma vez mais a colaboração de Jorge Palinhos na direção e dramaturgia, desenvolveu um longo processo de pesquisa, entre 2018 e 2020, que o fez descer ao subsolo da Cidade Invicta, para, com o apoio das Águas do Porto e do Exército Português, familiarizar-se com condutas, minas e outras que tais. Subterrâneos onde correm os mananciais (sobretudo os de Paranhos, Salgueiros e os que descem do Marquês e do Alto da Fontinha) importantes para a ficção em mãos e cenário das diversas tensões sociais que, segundo a visão criada, atravessarão a cidade do Porto, tal como já acontecera no segundo romance do autor.
“Acreditamos que as redes subterrâneas, correndo em todas as direções, poderão funcionar como uma metáfora (mais ou menos contrastante) com tudo aquilo que à superfície nos divide em termos culturais, sociais e políticos”, nota, por sua vez, Jorge Palinhos. A união, essa, surge, pelo toque em quaisquer dois pontos, que “permite ligar pessoas através da água”.
Projeto desdobra-se no terreno em atividades de mediação social e artística
E como é que, nesta história, portuenses e atenienses se conectaram? Através do trabalho paralelo de um dos mais interessantes coletivos da capital helénica, o Ohi Pezoume, personificado no diretor artístico Giorgos Sachinis, engenheiro e diretor de Estratégia e Inovação da Empresa de Abastecimento de Água e Esgotos de Atenas, EYDAP.
Sachinis desenvolve na sua terra natal diversos projetos artísticos e comunitários que pretendem aumentar a participação dos cidadãos em torno da utilização e proteção do Aqueduto de Adriano (uma obra de engenharia notável, de 23 km, encomendada pelo imperador Adriano e concluída por volta do ano 140 d.C.), entendido enquanto recurso de água e monumento.
A partir de 2020, a EYDAP promoveu um mapa da sua rede de abastecimento, tendo por mote, lá está, ligar quaisquer duas pessoas através da mesma rede que as abastece com aquele que promete ser o bem mais precioso do século XXI: a água.
“Em maio de 2025, com ‘A Memória do Aqueduto’, pretendemos, assim, aplicar literalmente o mote da EYDAP, aqui entendido enquanto fator cultural, social e económico”, explicam os autores.
Antes da estreia em palco, o projeto conhecerá no terreno, por isso mesmo, várias atividades de mediação social e artística no Bairro do Carriçal, que rodeia o reservatório, em parceria com a FAP - Federação Académica do Porto e as Águas do Porto.
O Visões Úteis planeia levar crianças e utentes do núcleo habitacional do projeto FAP no Bairro numa visita ao Pavilhão da Água e ao Parque das Águas, além da dinamização de uma atividade na EB1 de São Tomé, sobre o ciclo da água, e, ainda, uma oficina de teatro (e um lanche) nas instalações da FAP.
A MEMÓRIA DO AQUEDUTO:
Local do evento: Reservatório de Água do Amial, Rua da Cidade de Vigo, S/N, Porto
Local do acolhimento, bilheteira e WC: FAP No Bairro, Rua da Cidade de Vigo,150, Porto
Datas e horários: 15 de maio, 21h00 + 23h00 (estreia)
16, 17, 19, 20, 21 de maio, 21h30
Duração aproximada: 75 minutos
Classificação Etária: M/12
FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA:
Dramaturgia e Direção: Carlos Costa & Jorge Palinhos
Cenografia, Figurinos, Adereços: Inês de Carvalho
Desenho de Luz: Pedro Correia
Vídeo, Design Gráfico: Sara Allen
Banda Sonora Original, Sonoplastia, Desenho de Som: Vasco Zentzua
Cocriação: Giorgos Sachinis
Interpretação: João Delgado Lourenço, Matilde Cancelliere e também Alice Costa, Ana Vitorino, Carlos Costa, Giorgos Sachinis, Marina Aloupi, Rita Pinheiro.
Coordenação de Produção: Cláudia Alfaiate
Assessoria Mediática e Gestão de Redes Sociais: MS Impacto
Contabilidade: Helena Madeira
Produção: Visões Úteis, em coprodução com o FITEI - Festival Internacional de Expressão Ibérica, em parceria com as Águas do Porto, EM
Sobre o Visões Úteis:
O Visões Úteis é um projeto artístico sediado no Porto, onde foi fundado em 1994. O teatro foi a raiz de uma atividade constante e intensa que rapidamente se alargou a outras áreas das artes performativas. E em reconhecimento da sua ação artística junto de públicos diversificados, o coletivo recebeu em 2001 a Medalha de Ouro de Mérito Cultural da Cidade do Porto. O raio de ação do grupo estende-se a uma panóplia de projetos, paralelos à criação e itinerância de espetáculos, que desde sempre traduziram o desejo de confronto com outras áreas e com públicos distantes da produção artística. O Visões Úteis é membro da PLATEIA – Associação de Profissionais das Artes Cénicas, do IETM – International Network for Contemporary Performing Arts, da APCEN - Associação Portuguesa de Cenografia e da ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável.