Teatro
A Escola da Noite e Sarabela Teatro (Galiza) estreiam "O Grande Incêndio" no TCSB
A Escola da Noite e a companhia galega Sarabela Teatro estreiam “O Grande Incêndio”, de Roland Schimmelpfennig, a 29 de maio, no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra. A co-produção é encenada por Ánxeles Cuña Bóveda e fica em cena até 15 de junho, com sessões de quinta a domingo.

29 Mai a 15 Jun 2025
A peça “O Grande Incêndio” (“Das Große Feuer”) foi escrita em 2017, por encomenda do Teatro Nacional de Mannheim, Alemanha. É uma fábula moderna sobre duas vilas situadas num vale, junto a um regato e separadas por uma ponte. De um lado do regato crescem vinhas e do outro pastam bois, vacas, cavalos e ovelhas. De súbito, ocorrem diferentes eventos – uma seca, inundações, uma estranha febre contagiosa, um grande incêndio – que afectam apenas uma das povoações, enquanto a outra entra num período de prosperidade económica. Perante as catástrofes ambientais, cresce a desigualdade e aumenta a distância física e emocional entre as vilas irmãs, levando à destruição dos laços comunitários que as uniam.
A peça fala-nos de desastres naturais e de desastres culturais – dos que não podemos evitar e dos que criamos ou ajudamos a agravar, por acção ou omissão. De prenúncios a que só demasiado tarde prestamos atenção, do crescimento das desigualdades e das injustiças com que nos habituamos a conviver, da forma como deixamos que nos dividam, entre povos, entre vizinhos, entre famílias. Fala-nos, nas palavras do próprio autor, de “uma fenda entre mundos” que “cresce cada vez mais”.
De uma forma poética – adianta a encenadora –, o texto descreve-nos “como os amigos se convertem em inimigos, como os desastres naturais dividem o mundo em ricos e pobres e como aparecem as injustiças que enformam a vida das pessoas”.
A equipa luso-galega
Apresentada em português com a tradução de António Sousa Ribeiro (feita propositadamente para este espetáculo, com o apoio do Goethe-Institut Lisboa), a co-produção conta com uma vasta equipa criativa, com artistas de Portugal e da Galiza. Para além de Ánxeles Cuña Bóveda, diretora artística do Sarabela Teatro, a equipa inclui Iris Branco e Cristian Andrade (cenografia), Baltasar Patiño (desenho de luz), Vadim Yukhnevich (música original), Ana Rosa Assunção (figurinos e adereços), Rut Balbís (apoio ao movimento) e Zé Paredes (assistente de encenação). O elenco é composto por Ana Teresa Santos, Igor Lebreaud, Maria Quintelas, Miguel Magalhães e Ricardo Kalash.
Com estreia marcada para 29 de maio em Coimbra, o espetáculo cumprirá uma temporada de três semanas nesta cidade, sendo apresentado em Ourense – cidade onde está sediado o grupo Sarabela Teatro – na terceira semana de junho.
A Escola da Noite e a Galiza
Vêm de longe as ligações d'A Escola da Noite à Galiza. Há muitos anos que o grupo de Coimbra vem desenvolvendo relações de intercâmbio com estruturas congéneres e artistas deste território, acolhendo espetáculos galegos nos diferentes espaços da cidade pelos quais tem sido responsável, apresentando com regularidade o seu trabalho em diferentes palcos da Galiza e associando-se a diferente projetos em áreas como a informação, a edição, a documentação, a organização de festivais, entre outras. Em 2023, organizou com a associação Cena Lusófona e em parceria com uma dezena de instituições da cidade a Mostra de Teatro Galego em Coimbra, iniciativa que terá este ano, no final de outubro, a sua segunda edição. Ánxeles Cuña Bóveda é a segunda encenadora da Galiza a dirigir um espetáculo da companhia, dez anos depois de Cándido Pazó aqui ter encenado “A Canoa”. Especificamente com o Sarabela Teatro, A Escola da Noite vem aprofundando uma relação de grande cumplicidade, que agora se materializa na primeira de duas co-produções previstas para o biénio 2025-2026.
Roland Schimmelpfennig
Roland Schimmelpfennig nasceu em Göttingen, Alemanha, em 1967. Depois de um longo período como jornalista em Istambul, estudou encenação na Otto-Falckenberg-Schule de Munique. Começou a trabalhar como autor independente em 1996 e, a partir do ano 2000, tem escrito peças por encomenda do Deutsches Schauspielhaus de Zurique, do Deutsches Theater de Berlin, do Schauspielhaus Bochum e do Burgtheater de Viena. As suas peças têm sido apresentadas com grande sucesso em mais de 40 países por todo o mundo, da Áustria ao Japão e à Índia. Em Portugal, houve pelo menos duas peças suas levadas à cena: “A noite árabe” (2008, no Teatro Nacional Dona Maria II, com encenação de Paulo Filipe) e “A antiga mulher” (2019, pela Companhia de Teatro de Braga, com encenação de Toni Cafiero).
Sobre esta e outras das suas peças, Schimmelpfennig confessa o impacto que o drama dos refugiados que procuram chegar à Europa teve na sua escrita. Estamos “num momento sério da história, num desses momentos em que se duvida do significado de qualquer forma de arte”, em que se duvida da capacidade da comunidade mundial de proteger todos os que são obrigados a “pôr a vida em risco para se salvarem dos perigos mortais que vivem nos seus países”.