A apresentação de trabalhos de Bela Silva no Tivoli Avenida Liberdade, intitulada "Já tão longe”, propõe uma reflexão sobre espaços de transição e estados de impermanência.

Através das esculturas cerâmicas que representam aves e elementos vegetais, pretende assim convidar a natureza, através das suas cores e texturas, para dentro do conceito de hotel. Desta forma, propõe um diálogo entre aquilo que permanece e aquilo que escapa, presença pictórica de vegetação e de aves. A presença destas últimas, possivelmente migratórias, convocam a noção de movimento, de procura, de liberdade e de fragilidade. As plantas, por sua vez, sugerem raízes possíveis, presença imóvel, crescimentos inesperados, passagem do tempo que se dá de forma silenciosa.

Convida-se, assim, o visitante a habitar esse intervalo — o espaço do quase, do entre, do que está por vir e do que já foi.

Inspirada pelo universo simbólico do hotel, lugar de passagem, de relativo anonimato e de encontros fugazes, Bela Silva quis, através das obras apresentadas, criar um percurso visual que se transformasse em presenças, nessa atmosfera que remete a corredores silenciosos, quartos provisórios, salas de espera e outras zonas fronteiriças entre o público e o íntimo, o real e o imaginado. Lugares onde as identidades se diluem, onde a memória se confunde com a projeção e onde cada objeto carrega vestígios de presenças efémeras, conduzindo-nos por territórios liminares, espaço de transição entre um ponto e outro, entre o que era e o que vai ser.

"Já tão longe" afirma-se, portanto, como um exercício poético sobre movimento, sobre encontro e sobre ausência, convocando uma experiência que é ao mesmo tempo íntima e coletiva, singular e universal.