Teatro
"Veraneantes" estreia-se no TNSJ com encenação de Nuno Cardoso
Texto de Maksim Gorki foi escrito na antecâmara da sangrenta revolta de 1905, que abriria caminho à Revolução Bolchevique de 1917.


9 Mar a 18 Mar 2017
O encenador Nuno Cardoso regressa no mês de março à dramaturgia russa com a nova criação da companhia Ao Cabo Teatro. Veraneantes, de Maksim Gorki, estreia-se no Teatro Nacional São João (TNSJ) a 9 de março e permanece em cena até dia 18 de março. O texto foi escrito na antecâmara da sangrenta revolta de 1905, que abriria caminho à Revolução Bolchevique de 1917, pouco tempo após a morte de Tchékhov, de quem Gorki era amigo e um confesso admirador. Não será por acaso então que Nuno Cardoso parte para este novo projeto após ter explorado uma trilogia tchekhoviana (Platónov, A Gaivota e As Três Irmãs).
A ação passa-se em 1904, no verão do descontentamento de quinze personagens espertas e ociosas, quatro famílias que se colocam uma pergunta permanentemente atual: “Como hei de eu viver?”. Levam uma vida que é uma espécie de mercado, onde se enganam uns aos outros, dando o mínimo, recebendo o máximo. Do advogado insensível à mulher, da mulher que anseia por uma saída ao irmão imóvel na sua cobardia. Do avarento traído pela mulher, da mulher que faz da devassidão uma ode ao desespero, ao amante que assume a sua condição como suicídio moral. Do escritor desiludido que foge à confrontação com o seu próprio falhanço, do velho generoso que não encontra na família o porto de abrigo, à mulher que não consegue ultrapassar o seu medo para ser feliz.
O texto de Gorki alertava para a ociosidade das elites russas incapazes de ver as alterações do país, de perspetivar o seu futuro e demasiado acomodadas para participar nele e de uma Europa que entraria em convulsão. Karina, uma das personagens, partilha a sua confissão desoladora: “Não conhecemos ninguém que seja feliz”.
Veraneantes resulta de uma coprodução de Ao Cabo Teatro, Centro Cultural Vila Flor, Teatro Nacional D. Maria II e TNSJ. O espetáculo pode ser visto às quartas-feiras, às 19h00, de quinta a sábado, às 21h00, e aos domingos às 16h00. O preço dos bilhetes varia entre os 7,50 e os 16 euros. A sessão de dia 12 março conta com intérprete em Língua Gestual Portuguesa.
Ficha Técnica
de Maksim Gorki
encenação Nuno Cardoso
tradução António Pescada
cenografia F. Ribeiro
desenho de luz José Álvaro Correia
música e sonoplastia Pedro Lima
movimento Marco da Silva Ferreira
assistência de encenação Pedro Jordão
produção executiva Sandra Carneiro
interpretação Afonso Santos, António Parra, Carolina Amaral, Cristina Carvalhal, Dinarte Branco, Iris Cayatte, João Melo, Joana Carvalho, Margarida Carvalho, Maria João Pinho, Mário Santos, Nuno Nunes, Pedro Frias, Rodrigo Santos, Sérgio Sá Cunha
coprodução Ao Cabo Teatro, Centro Cultural Vila Flor, Teatro Nacional D. Maria II, TNSJ
dur. aprox. 2:40 com intervalo
M/12 anos
English subtitles
Oficina Criativa
destinatários crianças entre 6 e 12 anos
12 mar • dom 15:30-17:30
“À nossa volta só se vê o detestável rebuliço da ociosidade.” Estamos em 1904, no verão do descontentamento de quinze personagens espertas e ociosas, monstros infelizes mas
bem vestidos, tagarelas compulsivos, criaturas tragicamente incapazes de viver. Levam uma vida que é uma espécie de mercado, onde se enganam uns aos outros, dando o mínimo, recebendo o máximo. No mundo confuso e claustrofóbico de Veraneantes, todos se colocam uma pergunta com a atualidade de séculos: “Como hei de eu viver?” Maksim Gorki escreveu a peça na antecâmara da sangrenta revolta de 1905, que abriria caminho à Revolução Bolchevique de 1917. O país estava a mudar e as elites russas eram incapazes de ver o seu futuro, refugiando-se num sentimentalismo azedo. Herdeiros de um tempo crepuscular, estes Veraneantes propiciam ao encenador Nuno Cardoso a oportunidade de retomar o seu périplo pela dramaturgia russa, depois de uma trilogia tchekhoviana (Platónov, A Gaivota e As Três Irmãs), peças onde o sonho era ainda um motor de futuro. Mas o universo “podre e corrompido” de Veraneantes é um beco sem saída. O outono chega e todos seguem calmamente com a sua “vidinha”…