As esculturas, instalações e performances de Nina Beier caracterizam-se por uma ambiguidade que permite múltiplas leituras — culturais, económicas e psicológicas. A sua prática começa frequentemente com objetos que foram, ao longo do tempo, cobiçados ou valorizados — materiais e iconografias que representam poder, riqueza e estatuto social em diferentes épocas e geografias. Quase todos os elementos nas suas obras têm uma vida anterior, muitas vezes utilitária, tornando o seu trabalho uma reflexão contínua sobre valor de uso e valor de troca.

Em vez de produzir as obras de forma convencional, Beier reúne os seus materiais através de um processo meticuloso de pesquisa no mercado — uma abordagem que reflete o seu envolvimento com o capitalismo global e com a intersecção entre valores económicos e simbólicos. Um elemento recorrente na sua prática é a porcelana, material intimamente ligado a ideias de prestígio e comércio global.

O diretor da Fundação, Jacopo Crivelli Visconti, selecionou obras da artista que estabelecem um diálogo direto com a Coleção Albuquerque de Cerâmica Chinesa, uma das mais significativas do género. Esta coleção é o núcleo da Fundação, cuja missão inclui a sua preservação e exposição. Composta por porcelanas de exportação chinesas — sobretudo das dinastias Ming e Qing — produzidas para mercados europeus, especialmente Portugal, estas peças representam séculos de intercâmbio cultural, ambição imperial e comércio global. As suas formas e símbolos híbridos e surpreendentes oferecem uma perspetiva sobre a complexa relação entre o Oriente, o Ocidente e o Sul Global.

Goods posiciona a prática contemporânea de Beier em diálogo direto com as narrativas históricas da Coleção Albuquerque, em particular com a exposição inaugural de longa duração Connections, com curadoria de Becky McGuire, que reúne mais de 300 obras entre os séculos VIII e XVIII.

A exposição de Beier integra uma iniciativa mais ampla que explora o papel da cerâmica no campo expandido — tanto historicamente como na arte contemporânea — enquanto veículo de poder, identidade e circulação global. A próxima exposição individual, da artista convidada Phoebe Calling-James, com inauguração prevista para o início de 2026, dará continuidade ao programa contemporâneo iniciado com Beier.

Para além das exposições, a Albuquerque Foundation acolhe uma biblioteca especializada com mais de mil volumes e apoia um programa de residências em crescimento. Os primeiros residentes, o artista Moisés Patrício e o investigador Antonio de Caro, juntaram-se à Fundação no verão de 2025, reforçando o seu compromisso com o pensamento crítico sobre cultura material, história e prática contemporânea.

Goods estará patente no pavilhão das exposições contemporâneas, e nos jardins da Albuquerque Foundation, até 4 de janeiro de 2026.