Literatura
História do Cerco de Lisboa
Num texto que vive em dois tempos paralelos, a História dentro de uma história, esta releitura feita por Pedro Lamares foca-se na linha contemporânea, no ímpeto de um revisor que reescreve o passado (e o futuro) numa palavra.

7 Nov 2025 | 21h00
Uma leitura viva da obra ‘História do cerco de Lisboa’, de José Saramago.
“Um revisor é uma pessoa séria no seu trabalho, não joga, não é prestidigitador, respeita o que está estabelecido em gramáticas e prontuários, guia-se pelas regras e não as modifica, (...) muito menos porá um não onde o autor escreveu sim, este revisor não o fará.”
Raimundo Silva, enclausurado na sua rotina, na sua disciplina, na sua revolta branda contra as imprecisões, atreve-se, “em plena consciência”, a acrescentar uma palavra a um livro que pretende ser um documento histórico. Um 'não' que não ousa mudar a frase ou sequer o livro: ousa mudar a História.
“Assim está escrito e portanto passou a ser verdade, ainda que diferente, o que chamamos falso prevaleceu sobre o que chamamos verdadeiro, tomou o seu lugar, alguém teria de vir contar a história nova, e como.”
A proposta é extrair do texto o arco narrativo, compactando-o em 60 minutos de leitura corrida, minimizando as feridas da omissão.
“Então vai-se ao tempo que passou, que só ele é verdadeiramente tempo, e tenta-se reconstruir o momento que não soubemos reconhecer, que passava enquanto
reconstruíamos outro, e assim por diante, momento após momento.”